Caitlin Gerard em "The Wind" (2018) |© IFC Midnight

MOTELx ’19 | The Wind, em análise

“The Wind” é a primeira longa-metragem para cinema assinada por Emma Tammi. O filme de terror com localização de western estreou já no passado ano de 2018 no Festival de Cinema de Toronto, e desde aí tem feito uma invejável rota de festivais. Estreado ainda em poucos países, o filme passou por Portugal ontem, dia 15 de setembro, para uma sessão única já perto do final do Motelx’19. 

“The Wind”, indie norte-americano realizado por Emma Tammi, contou com argumento de Teresa Sutherland, alguém já experiente nas lides do terror. Ora, é talvez o argumento o que mais vai atraiçoar esta obra, que podia ter sido muito mais do que é. 

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Ashley Zukerman e Caitlin Gerard em “The Wind” (2018) no Motelx’19 |©Soapbox Films

Esta criação de terror histórico, algo rústica, situa a nossa acção no século XIX. Estamos nos Estados Unidos, mas não nos Estados Unidos que conhecemos atualmente. Já existem cidades, mas a população está ainda a fixar-se nos meios mais rurais, e o campo continua a ser, em grande parte, desértico. Aqui encontramos mais um estudo sobre solidão e isolamento, tal como o foi “The Lodge“, exibido na noite anterior.

O filme centra-se na figura de Elizabeth Macklin, uma jovem esposa que vive com o seu marido numa localização remota, no coração do deserto. Desde sempre, Lizzie sentiu uma presença maléfica nos seus terrenos, uma entidade indescritível, transportada pelo vento. Contudo, o seu marido não verga, e descarta as suas supostas superstições. Quando um casal se instala numa casa antiga perto de si, a paranóia deixa de assolar apenas Elizabeth e manifesta-se com mais notoriedade na jovem vizinha, Emma.

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Emma Tammi era até aqui acima de tudo uma documentarista, e aborda aqui a ficção pela primeira vez. Este é descrito, no site do Motelx’19, como um thriller western com toques de sobrenatural, que como o muito superior “The Witch”, toca em elementos do folclore americano e aplica-os à narrativa de terror.

Contudo, ao contrário da narrativa mais limpa e sequencial de “The Witch”, também em Portugal  estreado no Motelx, “The Wind” exagera na sua pretensão de criar uma estrutura narrativa inventiva, e torna-se incrivelmente tosco. Começamos o filme no presente, e a história é-nos contada acima de tudo através de recurso a analepse e prolepse. Flashback, depois voltamos para o presente, depois para um passado ainda mais anterior, e de volta para a acção presente.

A estrutura é  propositadamente confusa, e torna-se desde logo cansativa. Por um lado, é um jogo que as criadoras propõem. Criar uma certa distensão temporal, confundir, baralhar até não nos sabermos localizar. É intencional sim, mas não quer dizer que seja bem-sucedido.

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Caitlin Gerard e Julia Goldani Telles em “The Wind “(2018) no Motelx’19 |©Soapbox Films

“The Wind” tem inúmeras virtudes, a sua sugestão de ilusões e alucinações, o seu uso astuto dos silêncios. Contudo, no centro deste conto está, acima de tudo, uma disputa entre duas mulheres, em função de um homem. Sem avançar demasiado, para não revelar detalhes do enredo, este filme rapidamente se transforma num triângulo romântico que não pedimos. Aliás, a relação entre duas mulheres é retratada de uma forma um pouco triste para uma criação no feminino. Talvez seja demais, sonhar que só homens assim representem uma relação entre duas mulheres.

O filme tem os seus trunfos, e merece algum reconhecimento. Contudo, “The Wind” apresenta certos vícios que o afastam da panóplia de melhores obras exibidas neste Motelx’19. 

Poster The Wind Motelx'19

Movie title: The Wind

Date published: 16 de September de 2019

Director(s): Emma Tammi

Actor(s): Caitlin Gerard, Julia Goldani Telles, Ashley Zukerman ,

Genre: Terror

  • Maggie Silva - 60
  • Cláudio Alves - 80
70

Summary

The Wind detém uma atmosfera misteriosa, algo mágica, que triunfa quando se emerge por completo no reino do silêncio, colocando poucos travões à sua valente protagonista.Contudo, perde pela tentativa frustrada de inovar no que diz respeito à estrutura narrativa.

O MELHOR: Os jogos de expectativas e de silêncios que reinam

O PIOR: A estranha cronologia dos acontecimentos. Um pouco mais de linearidade teria ajudado, inclusive, no que diz respeito ao próprio envolvimento do espectador.

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  1. Frederico Daniel 9 de Dezembro de 2019

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