MOTELx’19 | The Lodge, em análise
“The Lodge” foi um dos grandes destaques do Motelx’19, que comemorou este ano a sua 13ª edição. Esta obra, assinada por Severin Fiala e Veronika Franz, dupla responsável por “Goodbye Mommy”, foi exibida no dia 14 de setembro, perante uma plateia bem composta e contando com a presença dos realizadores.
Este “The Lodge” é talvez um dos filmes mais satisfatórios presentes na programação deste ano do Motelx’19. A sua narrativa é simples: um pai impõe que os seus filhos passem uns dias numa cabana na neve com a sua noiva, uma mulher mais nova de quem as crianças não gostam. À medida que este trio tenta navegar as suas complicadas dinâmicas “familiares”, eventos estranhos começam a multiplicar-se, os quais fazem com que a futura madrasta recorde traumas que deveriam ter ficado enterrados.
O thriller psicológico de terror sabe brincar agilmente com os medos mais enraizados, e criar ilusões constantes. É uma obra caracterizada por diversos twists narrativos, sendo difícil falar muito sobre ela sem revelar demasiado. O que podemos dizer é que existe um sentimento permanente de uncanny em tudo o que acontece, e na grande, esmagadora maioria dos actos dos personagens.
A casa das crianças, a habitual, fora da cabana na neve, tem uma grande casa de bonecas, na qual brincam frequentemente. A cabine na neve é uma réplica bizarra e claustrofóbica dessa mesma casa. Os mesmos corredores, as mesmas divisões, os mesmos “bonecos”. Toda a acção na casa de bonecas parece indiciar ou até antever todos os actos que se passam na casa de férias, mas não é por isso que o nível sufocante de ansiedade se vê reduzido.
Riley Keough é a madrasta ou “quase madrasta” desta história. A jovem atriz, nascida em 1989, é talvez uma das promessas mais certas da jovem Hollywood, e este filme é um ótimo indicador disso mesmo. Ela é uma protagonista firme, certa, que preenche o ecrã, e embora os miúdos tenham muito a dizer, é ela que faz toda a diferença e carrega às costas os momentos mais pesados da narrativa. A neta do lendário Elvis Presley tem vindo a aparecer em cada vez mais e mais filmes nos últimos anos. Em 2018, podemos vê-la em obras como “The House That Jack Built – A Casa de Jack” ou “O Mistério de Silver Lake”. A bizarria parece ser o seu campo mais nato, ou assim o parece provar a sua Grace neste filme.
Os miúdos são Lia McHugh, uma atriz ainda não muito conhecida, que representa aqui Mia, e ainda uma cara mais conhecida do grande público, Jaeden Martell, o “chefe” do Loser’s Club em “It”. Ambos cumprem eficazmente as suas tarefas, embora, de facto, seja mesmo Riley quem mais se destaca. O elenco conta ainda com Richard Armitage e Alicia Silverstone como Laura e Richard, os pais, personagens importantes para a narrativa mas deveras pequenos em termos de tempo de ecrã.
É este um terror extremamente inteligente, que nos mantém sempre na dúvida, e que evita cair em clichés desnecessários mas tão comuns. Também não é particularmente dado a “jump scares“, criando muitas vezes um grau crescente de tensão para de seguida não nos recompensar com um susto. É um jogo de expectativas, um jogo no qual estes dois realizadores são mestres.
O filme envolve muitos “tropes” do terror: é um estudo sobre isolamento, sobre sanidade mental, sobre vida e morte, sobre o possível envolvimento do além, toca ainda em cultos e fenómenos naturais adversos. É de tudo um pouco, sem se tornar caótico. Antes, temos uma narrativa repleta de impacto e muito bem estruturada, sem margem para erro.
Esta dupla de realizadores promete muitos sucessos para o futuro, e esperemos que esta não tenha sido a última vez que nos gracejaram com a sua presença. Obrigada ao Motelx’19 por esta pequena pérola. O filme não tem ainda data de lançamento definida para Portugal, estando ainda a concluir o circuito de festival ao nível internacional.
Movie title: The Lodge
Date published: 16 de September de 2019
Director(s): Veronica Franz, Severin Fiala
Actor(s): Riley Keough , Jaeden Martell, Richard Armitage , Alicia Silverstone,
Genre: Terror
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Maggie Silva - 85
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Cláudio Alves - 85
Summary
The Lodge é um sucesso absoluto, um filme contaminado por um clima de tensão constante e interpretações memoráveis. Planos fechados, claustrofobia em grau elevado, previsões catastróficas e um delicioso desconforto generalizado.
O MELHOR: Muito podia ser indicado como o ponto mais forte do filme, em defesa dos seus argumentistas e realizadores, mas há que dar especial destaque à interpretação de Riley Keough.
O PIOR: Não há muito a apontar, gostava de ter visto mais Alicia Silverstone, mas isso não é bem uma crítica, pois não?