Outlander | O guarda-roupa da primeira temporada

Na sua primeira temporada, Outlander ofereceu aos seus devotos fãs uma panóplia de diversos prazeres, como a sua inspiradora coleção de figurinos que conjugam elementos históricos com os gostos regentes na presente atualidade televisiva. Cuidado com os spoilers!

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Apenas com a emissão de alguns dos seus primeiros episódios, Outlander prontamente se revelou como uma das séries sensação da passada temporada televisiva. Esta história sobre uma mulher dos anos quarenta que miraculosamente se encontra transportada para a Escócia na década de 40 do século XVIII, tem apenas vindo a ganhar mais popularidade e, com a estreia da segunda temporada, vale a pena relembrar alguns dos melhores aspetos desse primeiro ano das aventuras de Claire Randall pelo passado.

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Um desses primorosos elementos é o guarda-roupa concebido por Terry Dresbach, cujo trabalho maneja-se entre uma procura por fidelidade histórica e uma clara estilização para fins de glamour e respeito a estéticas atuais. Por exemplo, no contexto histórico e particular local e situação, Claire não andaria sempre vestida em roupas que lhe assentam de modo tão perfeito como vemos na série, nem teria o privilégio de um guarda-roupa tão extenso.

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CLAIRE E GEILLIS, DUAS VIAJANTES DO TEMPO

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No píncaro desta estilização está a personagem de Geillis, uma outra viajante do tempo que há muito se integrou na sociedade que Claire agora habita. As roupas envergadas por Lotte Verbeek marcam a sua peculiar figura como uma mulher alienada do mundo que a rodeia, distante e estranha. A própria atriz exacerba esta estranheza alienante ao usar peças de modos pouco ortodoxos, como um colete de pelo de macaco vestido ao contrário ou um casaco usado como um xaile.

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Menos descarada na sua distância temporal e estética é Claire, cujas roupas nos anos quarenta são um exemplo de perfeita sofisticação marcada pela severidade das modas do pós-guerra, enquanto seus figurinos escoceses demonstram um requinte e glamour que foge a padrões histórico, ao mesmo tempo que demonstra uma série de estranhas escolhas como o uso de mangas separadas do corpo de vestidos, uma técnica do passado, mas não deste específico tempo.

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Ironicamente, num dos episódios mais tardios da temporada, Claire veste um dos seus figurinos mais historicamente rigorosos, só que é um figurino masculino que a personagem está a usar como um figurino dentro da própria narrativa de Outlander.

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Mesmo assim, o guarda-roupa de Claire está repleto de interessantes detalhes históricos, como o seu generoso uso de fichus a cobrirem-lhe os decotes abertos típicos das modas setecentistas ou as suas detalhadas vestes menores.

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JAMIE E FIDELIDADE HISTÓRICA NO TRAJE MASCULINO

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Não é somente nesses detalhes dos trajes de Claire que Outlander se revela como uma fascinante janela para um passado distante, no que diz respeito a moda. Os figurinos masculinos são de particular destaque nesse aspeto, com as tradições do traje típico escocês a serem particularmente relevantes. Num dos episódios, podemos mesmo observar Jamie a vestir o seu kilt, do modo exato como fontes históricas nos indicam que tais vestimentas eram colocadas. Mesmo alguns dos mais fortes mitos sobre os padrões tartan são inteligentemente ignorados, como a exclusividade simbólica de certos padrões a famílias e clãs, uma noção romântica que apenas se tornou facto concreto durante a era vitoriana.

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Apenas as cores dos tartans se revelam como um ponto de indubitável recusa dos dados históricos pela figurinista. Outlander é um programa com uma paleta cromática de tons terrenos pontuados pela frieza dos cinzentos atmosféricos e dos verdes típicos da paisagem natural, pelo que os seus figurinos seguem essa mesma ordem. Na época em que a narrativa decorre, documentos históricos apontam para tartans extremamente coloridos, com vermelhos e azuis a serem particularmente populares em desenhos grosseiros e muito menos discretos que aqueles que observamos no elenco deste programa.

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Por outro lado, esta contenção cromática nas personagens escocesas é perfeitamente formidável quando estas são colocadas em direta confrontação com as tropas inglesas, cuja sanguínea cor vermelha os torna em violentas pinceladas escarlates a cortar a paisagem. Eles não pertencem nem a estas paisagens, a esta sociedade ou a esta cultura.

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MALHAS, MATERIAIS E PROBLEMAS DOS FIGURINOS

Esta escolha por uma paleta mais discreta do que seria de esperar, também segue a procura por uma severa praticabilidade e razão no desenho de Dresbach para a série, em que a figurinista tentou usar as necessidades práticas das personagens como guia da sua criação. Desse modo, materiais pesados são muito usados, assim como malhas e peças tricotadas para permitir a proteção contra o gélido clima escocês. Os kilts, por exemplo, são mostrados a serem usados como cobertor, ou mesmo capa contra a chuva, em ocasiões de extrema necessidade.

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Voltando à questão das malhas, aquando da sua estreia, muitos se manifestaram como inveterados fãs das várias peças tricotadas que pontuam o guarda-roupa das personagens de Outlander. Comunidades online foram criadas com o simples intuito de copiar estas peças atraentes e qualquer cuidado histórico foi atirado borda fora, pois estas criações pouco ou nada têm que ver com qualquer documentação histórica desta época e da realidade escocesa. Ao invés de usarem arisaids como vastos cobertores de lã enrolados em volta de si, as mulheres de Outlander, especialmente Claire, envergam inúmeras peças elegantemente criadas com técnicas completamente contemporâneas.

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Em contrapartida, os figurinos da série são muito marcados por usos de tecidos e outros materiais decididamente contemporâneos, por muito que a figurinista tente investir em grossas sarjas para as vestes mais tradicionais. No caso de Geillis, pelo menos esta escolha é parcialmente justificável, sendo que, aquando do seu fatídico julgamento, o seu figurino é feito de um material tão berrantemente contemporâneo que não é de admirar que quem a rodeie a veja como uma criatura estranha.

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A juntar-se a este problemático uso de materiais, temos algo ainda mais pernicioso para a credibilidade da atmosfera de época da série e isso é a execução. Quando olhamos para obra de figurinistas como Piero Tosi, Danilo Donati ou Jenny Beavan, vemos um cuidado absoluto em recriar as texturas e acabamentos do passado, recusando o tipo de visual que resulta de manufatura industrializada. Basicamente, os figurinos estão demasiado bem-feitos quando deveriam ser mais grosseiros e idiossincráticos, pertencendo a uma época em que ainda não existiam máquinas de costura e onde, já agora, dificilmente estas peças estariam sempre perfeitamente passadas a ferro e imáculas. Para além destas fragilidades na execução, é notório quão a série tem problemas em vestir os figurantes, especialmente em episódios como “The Gathering“, em que a mistura de modas e tipos de abordagem estilística é, no mínimo, inofensivamente distrativa, no máximo, descaradamente desleixado.

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A GLÓRIA DO CASAMENTO DE CLAIRE E JAMIE

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Fugindo a tristes negativismos, foquemo-nos no grande momento estilístico da temporada, o casamento de Jamie e Claire! Enquanto o noivo envergou o que, segundo o guião, seria o traje tradicional do clã Fraser, revelando uma elegância masculina e discreta o suficiente para não descurar da geral estética do programa, a noiva envergou uma peça de uma opulência inigualável na restante temporada.

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O vestido de Claire, inspirado em estilos cerimoniais da corte francesa, apresenta-se como uma orgiástica mistura de estéticas históricas e contemporâneas. A paleta cromática prateada é acentuada com os pesados bordados de motivos vegetalistas e o pesar de toda a peça é quase percetível só de olhar para o movimento de Caitriona Balfe no ecrã. A cereja no topo do bolo são mesmo os trajes menores, que, apesar de não serem tão espetaculares como o vestido em si, são mais historicamente fiéis e visualmente fulcrais para o episódio em que aparecem, uma hora quase exclusivamente focada na fogosa noite de núpcias do casal mais adorado da televisão atual.

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É importante apontar os problemas históricos com o guarda-roupa de Outlander quando se examinam os seus figurinos, mas também é vital manter em mente como esta é, essencialmente, uma série que mistura fantasia com as marcas usuais de narrativas de época. A experiência de uma época passada, tal como na sua versão literária, é um elemento essencial, mas é sempre vislumbrada através do prisma de uma perspetiva mais próxima da contemporaneidade.

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Em conclusão, os figurinos de Outlander poderão não ser os melhores da televisão atual, mas são certamente dos mais fascinantes, importantes para a narrativa e atmosfera de sua série, e inteligentemente propulsionadores de discussão e análise. Esperemos que a segunda temporada continue nesta linha estilística e que alcance píncaros ainda mais esplendorosos que o casamento que tanto marcou a primeira metade da passada temporada. Agora que Jamie e Claire estarão a aventurar-se por entre os labirintos decadentes da aristocracia francesa no reinado de Luís XV, é certo que os figurinos vão ganhar uma opulente espetacularidade até agora ausente da série.

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Ainda bem que a espera já quase terminou! Não percas os novos episódios de Outlander.


 

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