Raya e o Último Dragão | © Disney

Raya e o Último Dragão, em análise

“Raya e o Último Dragão” já estreou na Disney+ e chega agora aos cinemas portugueses. Com lugar no fantasioso reino de Kumandra, o filme tem a difícil tarefa de chegar aos calcanhares dos seus antecessores e tornar-se um título de relevo no catálogo da Disney. Afinal de contas, chega aos cinemas após “Soul – Uma Aventura com Alma“, da Disney/Pixar.

É o primeiro grande filme original de animação dos estúdios da Disney desde a sequela do icónico “Frozen”, e tem muito a conquistar. Com uma estreia que ficou abalada pela pandemia global, “Raya e o Último Dragão” traz em si uma referência aos tempos modernos, onde não há príncipes encantados, as apostas são em personagens femininas e fortes, e a mensagem do filme recai numa nota importante para todas as idades (à semelhança do que os filmes da Disney nos têm habituado).

E perguntam… consegue o filme destacar-se por estes pontos? Certamente que sim. Nesta animação da Walt Disney Animation Studios, satisfaz-nos ver uma jovem rapariga, retratada como ambiciosa, destemida, segura de si mesma e cheia de sonhos. E se vimos uma destas no largo grupo de “princesas Disney”, foi mesmo Mulan, que nos parece ser a parceira ideal de Raya para muitas ocasiões, não fossem ambas astutas e detentoras de sonhos grandes em prol de um bem maior.

Vamos procurar não dar muitos spoilers daqui em diante, com eventual alusão a pequenos momentos do filme mas sem contar cenas por inteiro!

Raya e o último dragão
Raya é a nova princesa guerreira da Disney | © Disney

Numa história de Adele Lim (“Crazy Rich Asians“) e Qui Nguyen (“The Society”), Raya mostra-se como uma protagonista capaz de se sustentar sozinha, ainda que exista muito apoio de Sisu e até das personagens antagonistas da história. Uma rapariga guerreira desde pequena, Raya luta para remediar um erro do passado, que não é sua culpa; afinal de contas, tudo se desenvolveu porque ela foi genuína e acreditou no bem das pessoas. Em busca de um mito, mas sempre com a esperança de reencontrar o seu pai, e encontrar um novo rumo para Kumandra, a guerreira parte numa aventura, com as suas devidas cautelas e sabendo que a sua jornada não será fácil.

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Quando encontra Sisu, o mítico último dragão que pode ser a salvação de todos os povos de Kumandra, Raya começa a perceber que as suas barreiras terão de ser quebradas em prol de Kumandra. Com dificuldade em confiar nos outros, por medo que algo maléfico volte a assolar as suas terras, é com Sisu que Raya começa a aprender a ver o mundo de outra forma.

E Sisu é nesse sentido a personagem central da história, a bússola da narrativa, de certo modo. Com voz de Awkwafina, a estrela em ascensão que também entrou em “Crazy Rich Asians”, Sisu é um dos exemplos claros de personagem que não sabemos se foi desenhada e idealizada para Awkwafina já em mente, ou se simplesmente foi uma obra do destino. É praticamente impossível distinguir Sisu da persona que vamos conhecendo da actriz e não o apontamos como algo negativo, muito pelo contrário. A voz e interpretação de Sisu conferem à personagem uma dimensão diferente, agradável e sem dúvida muito muito divertida – e convenhamos, depois de Mushu, da “Mulan”, havia que dar uma voz única a um novo Dragão que pudesse entrar no universo Disney.

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Sisu é a grande personagem da história, e responsável por equilibrar um mundo que se julgava perdido | © Disney

E, excluindo os grandes protagonistas da história, “Raya e o Último Dragão” traz em si também a magia Disney através de um grupo de personagens secundárias super adoráveis e queridas. Fáceis de se gostar, divertidas e sempre protagonistas de alguns dos momentos mais caricatos, Tuk Tuk, a bebé e os três macacos e até Boun por vezes são eternamente likeable. E com isto não queremos dizer que os vilões são particularmente detestáveis. Nem por isso. Apesar de existir uma vilã, Namaari (Gemma Chan), é importante referir que assim o é por força das circunstâncias. E vamos tentar explicá-lo sem oferecer muitos spoilers.

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O ser humano é produto do meio em que vive, certo? Ou pelo menos é essa a teoria na grande maioria dos casos. E esta história não é diferente. Raya é desconfiada com base num acontecimento da sua vida, assim como Namaari é uma força da natureza perspicaz, assertiva e com mente guerreira por outras circunstâncias familiares e de vida. Não necessariamente por ter pensamentos negativos ou por actos de malvadez. E é esta dualidade das duas que é posta em causa durante o filme, com Sisu a mostrar-se uma balança em certo ponto, mostrando que para o mundo ser um lugar melhor, é necessário que ambas cedam… e confiem. O importante, e onde tudo começa, é na confiança.

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As paisagens das terras de Kumadra são pensadas ao detalhe e de beleza inegável | © Disney

Complementando toda esta complexidade das personagens, e da forma como observam o mundo, a narrativa ganha outro poder com a sua música de fundo. Afinal de contas, um dos melhores pontos de “Raya e o Último Dragão”, e que não podíamos deixar de apontar, é a magnífica banda sonora de James Newton Howard. O compositor, que já foi nomeado para nove Óscares por trabalhos como “Michael Clayton” ou o mais recente “News of the World”, não deixa nada ao acaso neste projecto da Disney. Com influências das músicas tradicionais asiáticas, a sua composição é tão poderosa como serena e melancólica. As notas não deixam ficar ao acaso os momentos do filme, e se num momento deixamo-nos submergir à cena de acção pelo som de fundo que nos puxa, também na cena a seguir poderá um outro som de fundo facilmente arrancar-nos uma lágrima no canto do olho.

As músicas, aliadas às paisagens de perder a respiração, onde cada detalhe é pensado, e todos os pormenores são notáveis, faz com que o filme tenha bonitas imagens que irão perdurar nas telas de animação (ainda que não seja nenhuma técnica inovadora, e em muito semelhante aos últimos filmes dos estúdios, a sua beleza é inegável).

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Em suma, “Raya e o Último Dragão” corresponde à expectativa criada. É um filme bonito, que apesar de nos levar a um reino mágico nos faz acreditar que este existe, algures no meio de uma Ásia escondida. É simples, apelativo e cheio de personagens vibrantes, diferentes e exóticas. No final, é uma animação de aventura e fantasia para toda a família, que nos leva a um novo imaginário, e que nos transmite uma importante mensagem: para o mundo ser melhor, temos de saber confiar. E nada melhor do que sermos nós a dar o primeiro passo.

Raya e o Último Dragão

Movie title: Raya e o Último Dragão

Movie description: "Raya e o Último Dragão" viaja para o mundo de fantasia de Kumandra, onde humanos e dragões viveram juntos há muito tempo em harmonia. Mas, quando uma força maligna ameaçou a terra, os dragões sacrificaram-se para salvar a humanidade. Agora, 500 anos depois, o mesmo mal voltou e cabe a uma guerreira solitária, Raya, localizar o último dragão lendário para recuperar a terra separada e o seu povo dividido. No entanto, ao longo da sua jornada, vai aprender que será necessário mais do que um dragão para salvar o mundo - será também necessário confiança e trabalho em equipa.

Country: EUA

Director(s): Don Hall, Carlos López Estrada, Paul Briggs (co-realizador), John Ripa (co-realizador)

Actor(s): Kelly Marie Tran, Awkwafina, Gemma Chan, Izaac Wang, Benedict Wong, Daniel Dae Kim, Sandra Oh, Alan Tudyk,

Genre: Aventura, Fantasia, Animação

  • Marta Kong Nunes - 87
  • Virgílio Jesus - 80
  • Inês Serra - 87
  • Manuel São Bento - 70
  • Cláudio Alves - 65
78

CONCLUSÃO

“Raya e o Último Dragão” destaca-se não apenas pelas magníficas paisagens mas pela mensagem. Se não confiarmos nos outros, não podemos pedir o mesmo de volta, e talvez seja esse sentimento que precise de ser enraizado para o mundo ser um local melhor. Uma mensagem que é transversal a todas as idades, e que a nova animação da Walt Disney Animation Studios transmite de forma exímia. Não é uma narrativa inovadora, mas é uma história actual, adequada a todos, e que faz bem a todos ver e ouvir.

Pros

  • A banda sonora de James Newton Howard;
  • As personagens secundárias que elevaram os momentos de leveza e comédia da história – Tuk Tuk, Boun e até a pequena bebé com os 3 macacos;
  • Sisu e a escolha de Awkwafina para dar voz à personagem

Cons

  • A inconsistência de Raya ao longo da narrativa por vezes;
  • O final relativamente previsível (ainda que satisfatório)
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