"Ocean's Eleven"/"O Cabo do Medo"/"The Departed" | © Warner Bros./Universal Pictures

TOP 10 remakes que superam o original

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Muitos remakes são desnecessários, mas, ocasionalmente, surgem algumas obras que conseguem o impossível e superam o filme original.

Aquando da estreia do novo “Rei Leão”, publicámos uma vasta lista de remakes desnecessários. É certo que essa mania de refazer filmes tende a resultar numa miríade de projetos sem valor que, face ao original, não têm razão para existir além de justificações mercenárias. No entanto, de vez em quando, lá se encontra o remake que, não só consegue equiparar a qualidade do filme original, como a supera.

Por isso mesmo e para não dar a ideia que estamos sempre a cair na indulgência do negativismo gratuito, decidimos fazer um artigo companheiro dessa lista anterior. Desta vez, vamos falar de 10 filmes que são remakes e são melhores que o original. Para tornar a listagem mais fácil, decidimos focar-nos em remakes assumidos e evitar adaptações literárias e teatrais, a não ser no caso de os filmes referirem, nos seus créditos, que são baseados noutras produções cinematográficas.

Como tal, muitos foram os filmes que são geralmente considerados remakes, mas não puderam entrar na lista pois não correspondem a tais critérios. “Quanto Mais Quente Melhor” é um dos exemplos mais flagrantes que ficaram assim excluídos. Também decidimos evitar filmes que se apelidam como remakes, mas, na verdade, são mais paródias, críticas ou desconstruções do trabalho original, como “O Aeroplano” e “Suspiria”.

Sem mais demoras, aqui ficam 10 grandes remakes que conseguem superar a qualidade do filme original em que se baseiam. Começamos com os filmes mais antigos e terminamos com o mais recente. Podes usar as setas para ir explorando o artigo.

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ASSIM NASCE UMA ESTRELA (1954) de George Cukor

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© Warner Bros.

Filme original: NASCEU UMA ESTRELA (1937) de William A. Wellman

Assim Nasce Uma Estrela” é a história que Hollywood mais adora contar sobre si própria. Trata-se de mitologia americana do mais alto calibre, um conto-de-fadas cínico que tem a sua origem num filme que George Cukor realizou no início dos anos 30, mas foi finalmente aperfeiçoada em 1937 com o primeiro filme chamado “A Star Is Born”. 17 anos depois, Cukor voltou a por a sua marca nesta história, reinventando-a como um musical com Judy Garland e James Mason nos papéis originalmente encarnados por Janet Gaynor e Fredric March em 37.

Em termos históricos, “Assim Nasce Uma Estrela” foi uma das primeiras grandes experiências de Cinemascope e, em certas passagens, até conseguimos ver como a fotografia alargada é ainda uma inovação tecnológica em desenvolvimento. No entanto, essa componente pouco contribui para a genialidade do filme, mesmo que Cukor conjure imagens sublimes nos números musicais. O que torna este “Assim Nasce Uma Estrela” num clássico insuperável é a dupla de atores no seu centro, com especial destaque para Judy Garland naquela que é talvez a melhor prestação alguma vez dada num filme musical.

Aquando desta produção, a atriz estava a definhar muito publicamente e a oportunidade que Cukor lhe deu foi como uma boia dada alguém que se afoga. Garland fincou os dentes neste papel e rendeu-se de corpo e alma ao manifesto, dilacerando o seu próprio coração em frente ao espectador antes de, no minuto seguinte, colocar um sorriso luminoso na cara para gravar um filme dentro do filme. É um trabalho de metacinema estonteante e um esforço interpretativo que merece aplausos. Mason não fica muito atrás, interpretando um alcoólico autodestrutivo que, ironicamente, é quase uma imagem espelhada da verdadeira Garland. Nunca esta tragédia foi mais espetacular ou mais lacerante, nem mesmo quando Bradley Cooper e Lady Gaga tomaram o lugar de Mason e Garland num dos vários remakes.




UKIKUSA (1959) de Yasujiro Ozu

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© Daiei Studios

Filme original: UKIKUSA MONOGATARI (1934) de Yasujiro Ozu

Se alguma lista de bons remakes não inclui o nome de Yasujiro Ozu, então é uma má lista. Este mestre do cinema japonês, um realizador tão influente que ainda hoje em dia certas composições são apelidadas com o seu nome, passou a carreira a fazer remakes dos seus próprios filmes. O melhor de tudo é que os filmes mais tardios tendem a ser melhores que os originais, como se estivéssemos a observar um artista a aperfeiçoar a mesma obra ao longo de décadas. Por outras palavras, há muitos remakes assinados por Ozu que podiam estar nesta lista, mas aquele em que a diferença qualitativa entre as duas obras é mais radical é “Ukikusa”, refeito com base num filme que Ozu fez em 1934 que, por sua vez, era inspirado por um melodrama americano chamado “The Barker”.

A história em si é uma estranha proposta de melodrama anti sentimental centrado no líder de uma trupe de atores que, certo dia, regressa à localidade onde vive o seu filho. O jovem julga que o pai é um tipo, visto que o ator decidiu abandoná-lo para melhor desenvolver a sua carreira nos palcos, mas, agora, deseja redimir-se aos olhos do filho. A amante do protagonista não se sente confortável com esta dinâmica e causa sarilhos nesta intriga doméstica. Entre os dois filmes, há poucas mudanças narrativas, sendo que as principais alterações são estéticas e tecnológicas. Nomeadamente, o primeiro é um filme mudo a preto-e-branco e outro é sonoro e a cores. Isso pode parecer trivial, mas, neste caso, faz toda a diferença.

Enquanto o filme original é uma tragédia soturna cujo peso dramático é aumentado pelo silêncio e pelos pretos espessos da fotografia monocromática, o remake é uma obra muito mais leve e visualmente esplendorosa. De facto, dos seis filmes a cores do realizador, este é o mais belo e aquele que tem as composições mais loucamente precisas. Somente os planos que abrem o filme são como um tratado em geometria cinematográfica, por exemplo. No entanto, estas reviravoltas fazem grande diferença no final da obra, quando as mudanças estéticas e tonais chegam à sua apoteose. O segundo “Ukikusa” é uma obra muito mais matura que o primeiro, em parte pela sua flexibilidade tonal, pelo modo como evita excessos emocionais em prol de uma melancolia que vem sempre acompanhada por sorrisos calmos. Ambos os filmes deste especialista em remakes podem muito bem ser chamados obras-primas, mas o segundo é infinitamente superior ao primeiro.




VICTOR VICTORIA (1982) de Blake Edwards

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© MGM

Filme original: VIKTOR UND VIKTORIA (1933) de Reinhold Schünzel

Viktor und Vicktoria” é uma delícia subversiva da República de Weimar, um filme que nasce da mesma cultura que nos deu a glória de Ernst Lubitsch e suas comédias sexuais. Trata-se de uma ótima comédia popular com temas surpreendentemente complicados em relação a normas sociais sobre género que, mesmo antes de chegar a Hollywood, deu origem a remakes germânicos. Em suma, este é um filme meritoso e seria difícil justificar um remake americano, especialmente quando consideramos a especificidade sociocultural da história.

No entanto, a equipa insuperável de Blake Edwards, Julie Andrews e Henry Mancini soube como pegar na narrativa base e destilá-la, musicá-la e torná-la numa açucarada produção de Hollywood, cheia de glamour e humor. Edwards não consegue emular a sofisticação europeia do original, mas nem tenta, preferindo conceber o filme como uma homenagem aos filmes de estúdio que Hollywood tanto fazia nos anos 30, onde Paris era uma visão de conto-de-fadas e em nada um lugar real. Andrews interpreta uma cantora desesperada que ganha fama ao fingir ser um homem a fazer de mulher em palco e dá tudo o que tem aos epítetos humorísticos de “Victor Victoria”. Henry Mancini, por seu lado compôs uma brilhante coleção de canções originais que o elenco interpreta com paixão e perfeito timing cómico também.

Mesmo assim, a verdadeira estrela deste musical de drag queens e mafiosos, de Paris e Chicago, é Lesley Ann Warren como uma loira burra, sexy e ambiciosa com uma voz estridente e a silhueta de uma Barbie. Vê-la em cena é entender o máximo potencial cómico do género musical, é um espetáculo de risadas e aplausos, ela é simplesmente fantástica. Mesmo só por Warren, este remake consegue erguer-se acima do legado do original. Curiosamente, este filme teve tanto sucesso que, anos depois, também foi alvo de um remake, desta vez nos palcos da Broadway sob a forma de uma peça musical com Julie Andrews novamente no papel principal.




A LOJINHA DOS HORRORES (1986) de Frank Oz

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© Warner Bros.

Filme original: A LOJA DOS HORRORES (1960) de Roger Corman

É curioso pensar que este é já o terceiro musical desta lista. Além disso, trata-se do segundo estreado nos anos 80, uma das piores décadas para este particular género cinematográfico. É claro que as diferenças entre “A Lojinha dos Horrores” e “Victor Victoria” e “Assim Nasce Uma Estrela” são bem grandes, especialmente no que se refere à sua origem. Neste caso, o filme que deu origem a este remake é uma pequena joia de humor negro assinada pelo rei do cinema de série B, Roger Corman. Trata-se da história de um florista azarado que se torna no relutante protetor e cúmplice de uma planta comedora de homens com origens alienígenas.

Em 1982, Howard Ashman e Alan Menken, o duo responsável por escrever algumas das melhores e mais famosas canções do Renascimento Disney, pegaram nessa narrativa e usaram-na como base para uma comédia musical dos palcos, cheia de efeitos especiais peculiares e um sentido de humor muito virado para o grotesco. Quatro anos depois, a mesma equipa, assim como alguns dos atores da peça, trouxeram o musical para o grande ecrã, com o mestre marionetista Frank Oz na cadeira de realizador. Até chegarem aí, contudo, os criadores de “A Lojinha dos Horrores” passaram por muitos percalços. Os argumentistas do filme original tentaram processar os produtores do musical e uma série de realizadores e produtores foram considerados e abandonaram o projeto, incluindo Steven Spielberg e Martin Scorsese.

Felizmente, tudo correu bem no final e o musical ganhou nova forma como uma paródia do tipo de cinema de série B de onde o filme original surgiu. Frank Oz deu asas à sua imaginação no que diz respeito aos efeitos para a criação do monstro floral e concebeu um vilão estupendo. Além disso, novas canções foram escritas e o elenco é uma perfeição insuperável, com especial destaque para Rick Moranis no melhor papel da sua carreira, Ellen Greene a dar uma prestação merecedora de Óscar e Steve Martin a dar uma nova vida e novo som ao dentista sádico originalmente interpretado por Jack Nicholson em 1960. O primeiro filme era uma modesta delícia, mas este remake musical é um verdadeiro festim de comédia musical no seu melhor.




O CABO DO MEDO (1991) de Martin Scorsese

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© Universal Pictures

Filme original: BARREIRA DO MEDO (1962) de J. Lee Thompson

Apesar da sua presença nesta lista, “O Cabo do Medo” é um filme poucas vezes celebrado como um bom remake. O próprio Martin Scorsese, anos depois da passagem da obra pelos cinemas, veio a expressar uma certa ambivalência, sombreada de insatisfação, para com o filme. Comparado com o clássico neo-noir dos anos 60, esta versão modernizada tende a denotar as marcas de indisciplina estilística e de intensões autorais em desarreio com o guião. No entanto, são essas mesmas fragilidades que tornam este remake imperfeito numa obra tão mais valiosa que o filme original.

Nada em “O Cabo do Medo” é direto ou fácil de assimilar. Há uma aura de complicação bizantina a infetar cada um dos aspetos mais aparentemente simplistas do filme, começando pelo seu retrato de uma família suburbana sob ameaça exterior. Longe de cair em binários morais, Scorsese impõe incoerências onde, no guião, existe uma linha narrativa clássica. O pai não é um pecador a ser cosmicamente punido, mas alguém cujas ações têm clara sustentação ética. A mãe é uma leoa confiante cuja reação à presença de um assassino denota orgulho ferido antes de qualquer pânico maternal. A filha é uma tempestade de impulsos psicossexuais que tanto a denotam como uma vítima, como a figura mais intimamente próxima do louco que persegue a família.

No que diz respeito ao vilão, Scorsese filma Robert DeNiro como uma força quase primordial, cuja influência na linguagem formal de “O Cabo do Medo” é tão mais desconcertante que as suas ações. Ele traz uma opulência quase obscena aos movimentos de câmara e truques audiovisuais, fazendo deste thriller suado uma espécie de híbrido entre cinema de ação barato e os requintes intelectuais do mais pomposo cinema de autor. “O Cabo do Medo” é um filme de contradições que pulsa com o fulgor da experimentação e o entusiasmo do seu realizador. Scorsese pode olhar com arrependimento para esta sua aventura cinematográfica, mas nós aplaudimos os extremos tresloucados a que ele se atreveu a ir. Aliás, nem é o único filme do cineasta nesta lista de remakes.




TARADOS DE TODO (1994) de Nora Ephron

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© TriStar Pictures

Filme original: PAI NATAL: SARILHOS (1982) de Jean-Marie Poiré

Nenhum dos filmes desta lista é tão criticamente denegrido como “Tarados de Todo”, “Mixed Nuts” no original anglófono. Esta comédia natalícia de Nora Ephron pertence àquela mal-amada tradição do remake Hollywoodesco de uma produção feita fora dos EUA. Neste caso, o alvo de reinvenção americanizada é um modesto clássico de comédia francesa dos anos 80 com o nome de “Pai Natal: Sarilhos”.

Os dois filmes abordam a história de uns quantos trabalhadores de uma linha telefónica para ajudar pessoas à beira do suicídio que, na Noite de Natal, se veem no meio de uma série de tresloucadas intrigas. Pelo meio, aparecem travestis, mulheres grávidas em fuga dos seus maridos e muito mais, incluindo estranhas alusões religiosas. O acumular de insanidade resulta numa paródia hilariante, mas, estranhamente, essa mesma construção cómica resulta melhor no remake. Parte do sucesso do filme de Ephron é que a cineasta deu mais multidimensionalidade às personagens secundárias, tornando-as pessoas ao invés de caricaturas e adereços cómicos.

O elenco americano também ajudou, sendo que este é um exemplo de como bom casting pode elevar um filme acima das suas ambições originais e modestas. Steve Martin faz aqui o seu clássico cocktail de comédia tingida de melancolia, enquanto Madeline Kahn é uma explosão de genialidade paródica, sendo que cada um dos seus gestos conquistam uma risada. Juliette Lewis, no pico da sua carreira, traz uma energia idiossincrática à mistura de tonalidades periclitante e, surpreendentemente, Adam Sandler e Liev Schreiber dão humanidade a uma das passagens mais problemáticas e relativamente homofóbicas do original. É pena que poucos sejam aqueles que se recordam deste filme que, se houvesse justiça, seria um clássico natalício em par com os filmes “Sozinho em Casa”.




CASA DE DOIDAS (1996) de Mike Nichols

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© United Artists

Filme original: A GAIOLA DAS MALUCAS (1978) de Édouard Molinaro

Por falar em remakes americanos que resolvem problemáticas vagamente homofóbicas de comédias francesas, gostaríamos de vos apresentar a “Casa de Doidas”. Este é um remake do clássico francês que veio a originar o musical do mesmo nome, “A Gaiola das Malucas”. Todas as versões contam a história de um casal de dois homens, um deles uma drag queen profissional, que criaram juntos um filho até à idade adulta. Um dia, o jovem volta a casa com notícias do seu noivado com a filha de um casal conservador. Para que as duas famílias se conheçam sem causar transtornos, o casal gay finge ser marido e mulher heterossexuais durante um desconfortável jantar.

A produção francesa é justamente famosa, mas deixa um mau gosto no espectador contemporâneo. Dizemos isto, pois o filme tende a tornar o casal gay em objeto de ridículo e raramente o humaniza a não ser em ocasiões demarcadas por passagens meio didáticas do texto. Há a ideia implícita que o seu modo de viver descaradamente queer é intrinsecamente hilariante. No filme de 1996, a situação é mais complicada e retratada com maior nuance. A principal mudança está na caracterização das personagens principais, especialmente a caracterização da sua relação. Os pedidos homofóbicos do filho são aqui recebidos com genuína dor por parte dos dois homens que o criaram e o realizador Mike Nichols encara essa mesma dor com sinceridade e nem uma ponta de ironia.

Isso faz com que o filme fique num patamar acima do original em termos de tom e coerência ideológica. Temos ainda que considerar o primor formal e interpretativo desta comédia americana que troca St. Tropez por Miami. “Casa de Doidas” é um triunfo em todos os aspetos, tendo um elenco exemplar liderado por Nathan Lane e Robin Williams em topo de forma. Os figurinos de Ann Roth não superam as criações espampanantes de Piero Tosi para o original, mas têm o seu charme próprio, os cenários de Bo Welch são delirante perfeição e a fotografia de Emmanuel Lubezki é surpreendentemente sofisticada para uma paródia deste género.




OCEAN’S ELEVEN – FAÇAM AS VOSSAS APOSTAS (2001) de Steven Soderbergh

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© Warner Bros.

Filme original: OS ONZE DE OCEANO (1960) de Lewis Milestone

Ocean’s Eleven” é o prototípico ideal de um remake necessário. O filme original de 1960 tem uma premissa narrativa fantástica e uma execução comparativamente pueril. A história de um grupo de intrépidos criminosos a concretizar um assalto aparentemente impossível no coração de Las Vegas necessita de um ritmo preciso e veloz, muito estilo e muita diversão. A versão com o Rat Pack é sonolenta e arrítmica, sendo que, além do carisma nato dos atores, tem muito pouco para oferecer. O projeto de 2001 não podia ser mais diferente, sendo um triunfo formal do mais alto gabarito.

Steven Soderbergh estreou este seu “Ocean’s Eleven” no mesmo ano em que foi nomeado para dois Óscares e ganhou Melhor Realização por “Traffic”. Em 2001, o cineasta estava em alta e este seu “Ocean’s Eleven” só veio atiçar as chamas da sua glória, mostrando como ele não era só um grande autor de dramas de prestígio como também um realizador de entretenimento de Hollywood puro e duro. Assim é este thriller criminal, cuja montagem estabelece ritmos com a precisão de um relógio suíço e cujo elenco está sempre pronto a injetar pequenos pontos de comédia aqui e ali, em gestos passageiros e tiques recorrentes.

O melhor de tudo é como o cineasta emprega e filma as estrelas de cinema em cena. Mais que qualquer outro realizador atual, Steven Soderbergh entende o poder da celebridade, da estrela de Hollywood, e seu potencial para moldar a experiência de ver um filme com sua persona. Ele viria a levar isto a extremos com a sequela, mas, em “Ocean’s Eleven” temos um equilíbrio perfeito entre classicismo e desconstrução, com personagens a ser definidas pela reputação dos seus atores e a presença de certas estrelas a ser usado como praticamente um mecanismo formal e narrativo (Brad Pitt sempre a comer algo no background de cenas que não são sobre ele, por exemplo). Curiosamente, Soderbergh é muito melhor a fazer isso que Lewis Milestone em 1960, no auge de um tipo de cinema feito à base de estrelas de cinema que nada tem que ver com a Hollywood de 2001.




THE DEPARTED – ENTRE INIMIGOS (2006) de Martin Scorsese

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© Warner Bros.

Filme original: INFILTRADOS (2002) de Andrew Lau e Alan Mak

“Infiltrados” é um excelente thriller de ação de Hong Kong com prestações estrondosas de Tony Leung e Andy Lau, uma joia do género de filmes sobre polícias que todos deviam ver. Apesar disso, “The Departed” consegue ser melhor que o original, em parte porque pega numa narrativa que já era complicada e torna-a num puzzle barroco cheio de reviravoltas e manipulações que se aproxima perigosamente do limiar do incompreensível. Nas mãos de muitos, o guião de William Monahan poderia facilmente ter resultado num filme sem nexo, mas Martin Scorsese e Thelma Schoonmaker não são uns cineastas quaisquer.

Tanto o realizador como a técnica de montagem ganharam Óscares pelo seu trabalho neste filme e é impossível negar que eles mereceram tais honras. Ambos foram capazes de pegar numa história que, por vezes, se parece dobrar sobre si mesma, e fazer dê-la uma pintura épica de teias de corrupção e falsidade sobrepostas numa Boston moralmente apodrecida. Por muito louco que o drama seja, o espectador sabe sempre o que está a acontecer e, acima disso, está a par do custo humano e emocional que cada ato de violência tem.

Não é só o trabalho de Schoonmaker e Scorsese que é exemplar. Todo o filme é como uma máquina perfeitamente oleada onde todos os elementos do mecanismo são perfeitos, desde os figurinos até à sonoplastia. Só mesmo o elenco é que não é capaz de superar o original, ficando-se por equiparar a qualidade do filme de Hong Kong. Com isso dito, Leonardo DiCaprio, Matt Damon e Mark Whalberg raramente foram melhores que em “The Departed” e o resto do elenco é igualmente estupendo. Se és fã de emoções fortes, dramas criminais ou, simplesmente, bom cinema, “The Departed – Entre Inimigos” é visionamento obrigatório.




A LENDA DO DRAGÃO (2016) de David Lowery

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© Disney

Filme original: O MEU AMIGO O DRAGÃO (1977) de Don Chaffey

A Lenda do Dragão” é o filme menos espetacular desta lista. No entanto, merece o seu lugar aqui pois a obra em que se baseia é unicamente terrível. Anos de nostalgia acumulada podem dar a impressão que “O Meu Amigo o Dragão” é um bom filme, mas nada podia estar mais longe da verdade. O híbrido de animação e atores de carne e osso de 1977 é uma produção familiar letárgica, recheada de canções medíocres e filmado num estilo que já na altura parecia antiquado e tecnicamente pueril. Só mesmo o desenho do dragão titular se aproveita.

Curiosamente, o dragão é o único aspeto em que o remake não ultrapassa o original. De resto, o filme de 2016 representa o platónico ideal de uma produção de um grande estúdio feita por um realizador de cinema independente. Neste caso, a Disney foi buscar David Lowery ao panorama dos festivais, onde ele tem ganho fama com obras como “Amor Fora da Lei” e “História de Um Fantasma”, e deu-lhe as rédeas deste remake. Pela sua parte, o cineasta não tentou subjugar o projeto às suas intenções autorais, preferindo deixar que fosse a tonalidade emocional e a construção formal da obra a exibir o seu cunho pessoal.

O resultado de tal alquimia entre realizador, projeto, sensibilidade cinematográfica e exigências de um grande estúdio é uma história para toda a família que transborda sinceridade e filmada como uma apaixonada carta de amor às paisagens bucólicas da América. “A Lenda do Dragão” é uma pintura modesta de bosques frondosos banhados pela luz doirada do crepúsculo, é uma homenagem à simplicidade de contos infantis com morais claras e sentimentalismo puro. Nada disto é mau, sendo que faz deste remake uma pequena joia de entretenimento familiar que, além de sucesso comercial, não tem ambições de grandeza desmedida. A Disney certamente gostou do seu trabalho, visto que voltou a contratar o realizador para fazer “Peter Pan”, outro dos pseudo remakes da Disney.

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