"Robot Selvagem" | © DreamWorks Animation

Robot Selvagem arrebatou Annecy com Primeiras Imagens e um Novo Trailer

“Robot Selvagem,” também conhecido como “The Wild Robot,” foi um dos títulos em destaque no Festival de Animação de Annecy. A nova obra da DreamWorks, com realização de Chris Sanders, é uma das grandes apostas do estúdio no ano em que celebram o seu 30º aniversário.

Portugal foi país convidado no Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy, marcando um ponto alto para o desenvolvimento destes filmes no nosso país. Jamais o ICA ou a Agência das Curtas haviam organizado tamanha montra para os talentos nacionais, com a Monstra a dar a sua ajuda na seleção das curtas exibidas. Foi uma verdadeira festa lusitana nos alpes franceses, com todo o evento marcado pelo toque ibérico. Até nas imagens promocionais se sentia um espírito português. Notem-se os cravos vermelhos que adornaram os sacos de pano que invadiram a cidade, e a secção dedicada aos 50 anos do 25 de abril na livraria do festival.

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“Percebes” | © Agência da Curta Metragem

Também no Museu do Cinema de Animação, um pequeno tesouro no centro histórico da cidade, a obra de artistas portugueses teve direito a destaque. Aí, Regina Pessoa, grande realizadora de animação lusitana, mostrou o seu mundo de sonho e breu, com storyboards e rascunhos, baús cheios de inspiração e uma exposição vídeo de algumas curtas. Tudo culminou com a cerimónia de prémios que fechou o festival, onde “Percebes” de Laura Gonçalves e Alexandra Ramires arrecadou a maior honra para curta-metragem nesta edição. Foi um triunfo e um sonho, uma forma de mostrar ao mundo como se faz grande cinema em Portugal, até no contexto do desenho-animado.

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Mas nem tudo foi uma celebração portuguesa. De facto, a Magazine.HD esteve em Annecy para seguir as várias apresentações que os grandes estúdios de Hollywood fizeram para a imprensa e audiências do festival. Esse contraste entre a arte mais obscura do território português e as megaproduções de Hollywood, entre estudantes cheios de esperança para o futuro e animadores consagrados é parte da magia de Annecy. Tudo isso se sentiu naquela manhã quando a DreamWorks se apresentou no cinema principal da festa para celebrar trinta anos do seu estúdio de animação, traçando um legado que vai desde “O Príncipe do Egito” à sua mais recente aposta.

Robot Selvagem foi o destaque do Annecy

Essa obra será “Robot Selvagem,” uma adaptação dos livros “The Wild Robot” de Peter Brown com realização de Chris Sanders. Outrora um homem da Disney que alcançou sucesso com “Lilo & Stitch,” o cineasta há muito abandonou o reino do Rato Mickey para seguir um cinema mais ousado. Veja-se o avanço estilístico de “Como Treinares o Teu Dragão,” onde Sanders revolucionou a fotografia de animação 3D, trazendo Roger Deakins para o projeto de modo a desenvolver a câmara virtual em semelhança aos limites e sofisticações do live-action. Essa foi a primeira parceria com a DreamWorks e este “Robot Selvagem” afirma-se como nova colaboração entre o artista e o estúdio.

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Fotografia de Marc Piasecki | © Getty Images for DreamWorks Animation

Na verdade, a companhia da Universal Pictures já tinha os direitos do livro quando Sanders se juntou ao projeto, sentindo-se atraído pelas emoções complexas que o texto sugeria. Afinal, esta é a história de um mecanismo que excede a programação, descobrindo algo semelhante a uma humanidade intrínseca dentro do coração cibernético. Ela é Roz, o único robot que sobreviveu a uma tempestade em alto-mar. Encontramo-la na costa de uma ilha deserta, desperta pelas brincadeiras de lontras curiosas que a lançam numa procura desesperada por propósito. Roz só quer ajudar, mas não foi feita para ser auxílio da fauna. Contudo, faz o seu melhor.

Em viagem acidentada pelo ambiente insular, a heroína artificial depara-se com um ninho de gansos, acidentalmente resultando na morte da mãe alada e na quebra dos seus ovos. Só sobra um que Roz irá criar em penitência, adotando o bebé quando este nasce para depois o ensinar a voar. Foi esse o primeiro clip mostrado por Sanders na sua apresentação, à qual ele chegou ao som de ribombante aplauso e com aviões de papel a sobrevoar os espetadores. Esse último detalhe é uma dessas idiossincrasias da cultura festivaleira. Trata-se de tradição em Annecy, fomentando o sentimento de uma comunidade unida pelo seu amor ao cinema.


Sanders certamente nos apareceu a rebentar de paixão, vibrando com entusiasmo e vontade de transmitir a sua visão à plateia. Muito se falou do estilo escolhido, um registo ilustrativo e impressionista, onde a qualidade multidimensional do 3D se transforma com texturas e superfícies bidimensionais. Ao longo dos dias do festival, o realizador partilhou a mesma história múltiplas vezes – perante a arte concetual, ele perguntou porque é que o filme não poderia ter a mesma estética. Um tempo depois, a sua equipa pregou-lhe uma partida. No ecrã estavam as pinturas de artistas plásticos que se usaram para desenvolver o “Robot Selvagem.” E com um clique, a pincelada ganhou vida, insuflado de movimento milagreiro.

Daí se desenvolveu toda uma filosofia estilística onde se procurou a qualidade do pincel sobre a tela, com a floresta em que Roz se encontra feita de tinta digital em configurações inéditas na tecnologia de animação. Os animais – mais de sessenta espécies – são igualmente criados neste sistema e até os efeitos de fogo e água, luz e neblina, se formulam com base nestes preceitos. Assim se recusa o realismo em busca de algo diferente, algo mais antigo que recupere aquilo que se perdeu na transição da animação desenhada à mão para o panorama do cinema computorizado. Ao olhar para o passado do seu meio, Sanders e companhia traçam o futuro da sétima arte.

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© DreamWorks Animation

O segundo clip exibido foca-se numa parte mais tardia da narrativa, quando o ganso filhote lá cresceu e se tornou em pássaro adolescente. Com a migração a avizinhar-se, Roz tem que o ensinar a voar numa sequência inspiradora que Sanders desenhou ele mesmo nas primeiras fases de desenvolvimento. Apesar de nos aparecer sem o contexto completo, o momento é forte o suficiente para trazer a lágrima ao olho, deslumbrando-nos a vista com seus matizes e arrebatando o coração com o sentimento puro. Muito nisso ajuda a música de Kris Bowers, compositor célebre de Hollywood que aqui assina a sua primeira banda sonora para cinema animado.

Lupita Nyong’o e Pedro Pascal dão a sua voz à obra

Infelizmente, nem Bowers nem o elenco estiveram em Annecy. Mesmo assim, ouviu-se a voz de Lupita Nyong’o como Roz, uma prestação desafetada que tenta negociar o melodrama extremoso da história com uma personagem robótica que não pode ou deve expressar-se pelos mesmos parâmetros emocionais que a gente comum. Outro destaque será Pedro Pascal como a raposa Fink e Catherine O’Hara como uma mamã gambá que vem dar dicas a Roz sobre como criar um filhote. Só que essa criatura mudou muito devido aos improvisos da atriz, trazendo comédia à fita e combatendo algum do sentimentalismo mais gratuito. Não há idealizações lamechas em “Robot Selvagem” e nunca se deve subestimar a audiência de palmo e meio.

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Tanto numa conferência com a equipa de design como em mesa redonda com os cineastas, os artistas por detrás desta aventura salientaram a qualidade agridoce do texto original e quanto a história lida com perda e questões de maternidade. Essas ideias são basilares para o filme, mesmo quando este se desenrola em situações cómicas, faz referência aos reis da palhaçada do cinema mudo ou desvendam o dinamismo da imagem em momentos de ação, fogo e muito perigo. Escusado será dizer que “Robot Selvagem” se assume como um dos títulos mais antecipados de 2024, estando em posição ideal para se tornar num dos principais candidatos ao Óscar para Melhor Filme de Animação.

Em conversa com Sanders, expressou-se uma ideia partilhada pela equipa de filmagens, uma verdadeira família. “Este é o filme das nossas carreiras. É o filme pelo qual estávamos à espera.” Tais afirmações atiçam o apetite cinéfilo, ainda redobrado com toda a festa que a DreamWorks organizou para celebrar o seu aniversário em Annecy. Sobre o lago que dá nome à cidade, um espetáculo de drones iluminou os céus com algumas das personagens mais icónicas do estúdio. Viu-se Shrek e seu Burro, o Desdentado do “Como Treinares o Teu Dragão” e até o “Panda do Kung Fu,” o Gato das Botas de olhos arregalados e os “Bad Guys” prontos para nova travessura. Quiçá no futuro, vamos pensar em Roz como figura igualmente memorável. Ela é um ícone da animação Americana à espera do seu tempo na ribalta. Já só faltam uns quantos meses. Além disso, até já se fala de sequela.

“Robot Selvagem” tem estreia marcada para inícios de Outubro nos cinemas portugueses, com distribuição da Cinemundo. Não percas!



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