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The Substance, a Crítica: Demi Moore e Margaret Qualley num argumento premiado em Cannes

*Análise originalmente publicada no âmbito da cobertura do Motelx 2024. 

Numa sexta-feira 13, na grande Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, assistimos à antecipada estreia nacional de “The Substance”, uma das mais aclamadas obras de body horror dos últimos anos (e com bons motivos para isso!). 

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Assinada pela francesa Coralie Fargeat, “The Substance” é apenas a segunda longa numa filmografia que é ainda curta mas já amplamente memorável. Este filme, vencedor de Melhor Argumento na última edição do Festival de Cannes, comporta tudo o que poderíamos desejar num filme de terror extremamente físico, visceral e pautado pelo mais refinado humor negro.

Já alguma vez sonhaste com uma versão melhorada de ti mesma?
Tu. Só que melhor em todos os aspetos.
A sério.
Tens que experimentar este novo produto. Chama-se A Substância. MUDOU A MINHA VIDA.

A premissa de “The Substance”, que conta com Demi Moore e Margaret Qualley nos papéis centrais, é bastante simples mas não precisa de complicadas justificações para fazer valer a força das suas imagens e das suas sequências sufocantes.

Aqui, uma atriz e estrela das rotinas de ginástica, Elizabeth Sparkle (Moore), é colocada de lado sem cerimónia mal faz 50 anos. A estação de televisão para quem trabalha descarta-a, não obstante o seu corpo perfeito e energia ainda cintilante, como transmitido na perfeição por uma Demi Moore infalível.

the substance tiff Toronto International Film Festival
“The Substance” | © TIFF

Mas eis que Elizabeth se depara com uma outra solução inesperada. E se optasse por iniciar a experiência da “Substância”, uma proposta que surge pela porta dos fundos e que promete criar uma versão duplicada de si própria, melhor em tudo e mais jovem?

Essa versão, que não deixa de ser parte integrante de Elizabeth, nunca dissociada de si mesma, será Sue, encarnada por Margaret Qualley, que foi também uma dançarina recentemente em “Kinds of Kindness” de Yorgos Lanthimos, e que até criou recentemente a sua própria coreografia para o videoclipe de “Tiny Moves”, que protagoniza, da banda Bleachers (liderada pelo seu marido). Qualley, filha de Andie Macdowell, remete-nos para uma beleza clássica e é um complemento ideal para a imaculada perfeição de Moore, que ancora toda a obra.


Demi Moore sugada por um ego devorador no MOTELx

Não ousaríamos entrar em detalhes sobre como funciona a “The Substance”, ou que caminhos levarão a nossa protagonista até um conflito irreparável com o seu alter ego, mas é seguro dizer que o filme de Coralie Fargeat não poupa uma oportunidade, garantindo a resolução mais extrema e dramática a cada viragem.

Fá-lo com humor negro em grandes quantidade, fá-lo nunca desperdiçando o seu tempo de ecrã e através de uma valorização do grotesco como consequência direta da obsessão pela juventude, perfeição e expectativas societárias.

The Substance Cinemas Estreias
Demi Moore no novo filme de  Coralie Fargeat | © Universal Pictures

Sim, “The Substance” é uma crítica hiperbólica, centrada nos padrões impossíveis aos quais as mulheres são subjugadas; sim, não inventa a roda nem escapa a convenções já definidas, mas eis que Carolie quase que se aproxima de um verdadeiro milagre: este empolgante “The Substance” parece-nos fresco, original, legítimo, mesmo movendo-se num universo onde tantos outros já passaram antes.


O seu ponto de vista nunca vacila, nem tão pouco a sua tensão. Do início ao fim, a obra é tensa, todas as suas sequências são necessárias e devidamente ligadas entre si. Quanto à abertura e fecho, cantam altíssimo, com uma dor profunda e um humor tão acídico que corre o risco de corroer os nossos órgãos internos.

Existe uma aura de suspensão temporal e espacial muito característica de obras de ficção científica, mas o uso dos códigos nunca enfraquece um argumento que sabe depender muito mais de imagens fortes que de conversa e exposição: não fosse este um filme de body horror, da forma mais plena.

The Substance tiff e motelx
©TIFF

“The Substance” não se fica pelo valor de choque, por muito que o incorpore, e delicia com a sua crítica social intencionalmente intemporal e desprendida de uma data específica. É um conto mais velho que o próprio tempo, ou antes, um conto inerente à idade contemporânea e às suas neuroses. Mas que conto, e eis que afinal ainda há tantas formas geniais de o narrar!

As palavras, essas são mesmo limitadas ao estritamente necessário, à medida que a fisicalidade estimulante de Demi Moore e Margaret Qualley nos encanta ao longo de todo o filme. Um tormento constante, os últimos 30 minutos levam-nos para outro patamar, para uma bizarria deliciosa, e para um êxtase que o cinema devia sempre fazer-nos sentir, mas onde muitas vezes não consegue chegar.

Trailer | The Substance chegou aos cinemas portugueses a 31 de outubro

“The Substance” chegou às salas de cinema comerciais, de norte a sul de Portugal, no próximo dia 31 de outubro – com a promessa dum Halloween de fazer dar a volta às tripas! 

The Substance, a crítica
The Substance no Motelx

Movie title: The Substance

Movie description: Uma celebridade em declínio decide usar uma nova droga do mercado negro, uma substância que replica células e cria temporariamente uma versão mais jovem e melhor de si mesma.

Date published: 15 de September de 2024

Country: EUA; França, Reino Unido

Duration: 140'

Author: Coralie Fargeat

Director(s): Coralie Fargeat

Actor(s): Demi Moore, Margaret Qualley, Dennis Quaid

Genre: Body Horror, Terror, Drama, Comédia Negra

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  • Maggie Silva - 95
95

Conclusão

Uma versão alternativa de “O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde”, adaptada ao universo feminino e às neuroses da contemporaneidade, “The Substance” é absolutamente glorioso. Por todo o seu valor de entretenimento, e esse é sobejo e inegável, eis que há tanto dinamismo nas suas ideias e criatividade na evocação de modos de representar que são tudo menos novos. Mas aqui parecem ser!

Pros

  • Demi Moore e Margaret Qualley, imperdíveis, hipnóticas, frenéticas, num duelo de titãs;
  • Uma caricatura grosseira verdadeiramente memorável;
  • Uma montagem incapaz de dar quaisquer tréguas.

Cons

  • Não ousaríamos a apontar nada. Talvez algumas explicações sobre o fabrico da substância? Mas será que o filme precisa delas, não perderia o poder na sua abstração? Talvez esteja bem mesmo assim.
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