Schmicago é o novo universo a descobrir na 2ª temporada |©Apple TV+

Schmigadoon!, Temporada 2 em análise

“Schmigadoon!” regressou, em abril de 2023, à Apple TV+ para mais uma temporada (a segunda) desta comédia musical protagonizada por Cecily Strong (“SNL”) e Keegan-Michael Key (“Key & Peel”), dois comediantes de topo. 
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Uma comédia musical que se inspira fortemente no universo do teatro musical, “Schmigadoon!” é uma raridade num panorama televisivo no qual mal conseguimos recordar-nos de comédias com música à mistura, de “Crazy Ex-Girlfriend” a “Zoey’s Extraordinary Playlist”. Criada por Cinco Paul e Ken Daurio (a dupla responsável pelos filmes “Gru, O Maldisposto”) e produzida por Lorne Michaels, o ‘pai’ do importante programa de sketch comedy ao vivo “Saturday Night Live“.

“Schmigadoon!” é ainda mais raro por nos situar num universo inteiramente musical e pautado pela recorrência de músicas originais todos os episódios, embora estas se façam, acima de tudo, de um retalho de inspirações diretas. Mas lá chegaremos.

A comédia musical original da Apple TV acompanha as vidas de Josh (Key) e Melissa (Strong), um casal de médicos com algumas dificuldades em valorizar a sua vida. Cansados e desanimados, Josh e Melissa perdem-se um dia enquanto fazem um trilho na floresta e vão inesperadamente parar à vila utópica de “Schmigadoon”, onde todas as pessoas vivem numa existência paralela retirada diretamente de um musical íntegro e feliz dos anos 50. Desta forma, Josh e Melissa vêem-se ‘presos’ nesta cidade colorida e apenas de lá conseguem sair ao procurar o seu final feliz.

Schmigadoon!
O mundo colorido e idílico da primeira temporada © Apple TV+

Em suma, estes foram os eventos da primeira temporada. No seu segundo ano, e alguns largos meses depois de regressarem ao mundo real, Josh e Melissa dão por si cada vez mais longe do seu final feliz. Estão cansados, desmotivados e incapazes de ter um filho, por mais tratamentos de fertilidade que façam. Um dia, decidem voltar a Schmigadoon para uma nova tentativa de felicidade neste lugar quase perfeito. Todavia, não é possível voltar a Schmigadoon e os nossos protagonistas acabam antes em “Schmicago”, uma vila com exatamente o mesmo elenco de personagens que Schmigadoon (mas com uma vibe muito, muito diferente).

Avançamos algumas décadas no mundo dos musicais, e a inspiração central deixa de ser “Brigadoon”, o musical de Vincente Minnelli lançado em 1955 acerca de uma cidade encantada na Escócia, que só aparece ao comum dos mortais 1 dia a cada século. Não, não, Schmigadoon é agora inspirado nos musicais mais sombrios da década de 60 e 70, com três influências centrais a determinarem a narrativa e os momentos musicais: “Chicago”,Sweeney Todd”  e ainda o movimento Hippie.

Kristin Chenoweth and Alan Cumming in "Schmigadoon!,
Kristin Chenoweth e Alan Cumming em “Schmigadoon!” |©Apple TV+

“Schmigadoon!”, na marca da sua segunda temporada, continua a ter, mais coisa menos coisa, as mesmas qualidades e defeitos que caracterizaram a série no seu ano de estreia. Por um lado, a criação do mundo e o valor de produção são inegáveis, e é muito agradável ver uma série musical na qual as canções são efetivamente compostas de raíz para o conteúdo televisivo. Todavia, o reservo da medalha é que não há muito espaço para originalidade nesta criação. O mundo apresentado é quase pastiche ou uma sucessão de spoofs do conteúdo original.

Ou seja, se pensarmos que o criador do SNL é produtor desta série e uma das suas estrelas, Cecily Strong, foi um dos membros mais amados do programa de sketches ao vivo durante os últimos anos, é fácil imaginar “Schmigadoon! e este novo “Schmicago” como uma sucessão de sketches que prestam homenagem a grandes musicais. Ao fim de contas, Cecily sempre gostou de cantar (e bem) enquanto fez parte do elenco de Saturday Night Life.

Famous as Hell Schmigadoon! T2
Keegan-Michael Key e Cecily Strong na temporada 2 de “Schmigadoon!” |©Apple TV+

Não só os eventos são muito próximos aos dos musicais aqui citados, como as músicas mal variam em composição musical e letras. Na primeira temporada da série, como profunda desconhecedora de musicais dos anos 50, não fui capaz de identificar esta colagem excessiva ao original. Todavia, com “Schmicago”, as referências estão mais frescas, com ambos os musicais mais citados – Chicago” e “Sweeney Todd” – adaptados ao cinema já no século XXI e mais presentes no imaginário colectivo, particularmente para quem aprecia musicais.

Por exemplo, a série musical “Crazy Ex-Girlfriend”, acerca de uma advogada que sofre de Borderline à procura de um lugar no mundo, raramente é direta nas suas referências e acaba por citar centenas de influências sem se tornar demasiado explicito ou pastiche. Quanto a Schmigadoon! e agora este seu Schmicago, o caso é bem diferente, sendo habitual que cada música seja facilmente identificada, musicalmente e textualmente, associada com uma canção do musical “x” ou “y”.

Cecily Strong and Dove Cameron in "Schmigadoon!," now streaming on Apple TV+.
Cecily Strong e Dove Cameron em “Schmigadoon!” |©Apple TV+

Ainda assim, Schmicago torna a série “Schmigadoon!” bem mais interessante que na primeira temporada. O humor é mais sarcástico, negro e macabro e francamente, em geral, bastante mais engraçado. As situações tornam-se também elas mais reconhecíveis, à medida que avançamos alguns anos no mundo dos musicais. Desta forma, é mais fácil apreciar o enredo e cada um dos seus momentos individuais.

Por outro lado, não há como não congratular o magnífico elenco da série. Entre estrelas da comédia, da Broadway ou da nova música pop, “Schmigadoon!” pode até ter dois protagonistas, mas é uma série de elenco exímia. Para lá do par central, como não destacar a cantora Dove Cameron, hilariante e etérea em ambas as temporadas, ou a estrela da Broadway e de “Unbreakable Kimmy Schmidt!”, Jane Krakowski, que deslumbra com um absurdo e delicioso número musical em tribunal, ou a oscarizada Ariana deBose (“West Side Story”, “Hamilton”) com uma incrível interpretação à lá “Dream Girls”, ou ainda Kristin Chenoweth, protagonista original de “Wicked” na Broadway e ocasional estrela de “Glee”, que aqui interpreta uma versão alternativa de Mrs. Lovett,  Miss Coldwell, que pondera cozinhar órfãos com o seu “Sweeney Todd”, o Dooley Blight de Alan Cumming.

Ariana DeBose in "Schmigadoon!,"
Ariana DeBose na temporada 2 de “Schmigadoon!” |©Apple TV+

Para além do elenco verdadeiramente impressionante, no que toca a dotes vocais e capacidade de interpretação, “Schmigadoon!” e a sua versão “Schmicago” pautam-se pela sua qualidade estética, dos sets aos guarda-roupas. O que fica mais aquém é a própria criação do argumento, para lá do conceito fascinante. A série nunca é particularmente divertida, embora seja possível rir pontualmente, e também nunca é verdadeiramente emocionante, embora alguém mais suscetível se possa comover no final.

Final esse que é outro grande ponto positivo, com um número final que tem como rival, aliás o engraçado número de abertura da temporada. No fim, quando o nosso par central se prepara para regressar para o mundo real, uma música final rejeita, de forma doce e realista, a existência de finais felizes, substituindo-os antes pelo conceito adorável de “princípios felizes”.

E enfim, destaque ainda, claro está, para Martin Short uma vez mais no papel de um gnomo mágico e, pela primeira vez, para Titus Burgess (“Kimmy Schmidt”) e o seu vozeirão no papel de um narrador participante travesso e com uma queda para a desgraça,

“Schmigadoon” regressou mais arrojado e divertido que na sua primeira temporada – e também menos inocente e idílico. Aguardamos pela potencial confirmação da temporada 3 para descobrir para que reinos musicais poderá a história ainda evoluir. Por aqui, podemos não achar que esta seja a série do ano, mas somos apreciadores e continuaremos a acompanhar (se nos derem a oportunidade).

TRAILER | SCHMIGADOON! ABRAÇA MUSICAIS SINISTROS NA SUA SEGUNDA TEMPORADA

Schmigadoon!, temporada 2 em análise

Name: Schmigadoon!

Description: Na segunda temporada de "Schmigadoon!", Josh (Keegan Michael-Smith) e Melissa (Cecily Strong) sentem falta da alegre e colorida cidade de Schmigadoon, e decidem partir em busca deste lugar, Porém, o casal acaba por ir parar a um local bem distinto: a ultrajante cidade de Schmicago.

Author: Maggie Silva

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  • Maggie Silva - 73
73

Conclusão

Na sua segunda temporada, “Schmigadoon!” é mais sexy, arriscado, mórbido e identificável. Continua a crescer e tem como maior trunfo recuperar todo o elenco da primeira temporada e acrescentar ainda alguns nomes valiosos a um conjunto de intérpretes já irrepreensíveis.

Pros

  • A opção de escolher uma nova década de musicais, tornando esta segunda temporada inteiramente diferente da primeira – com um humor mais corrosivo e um tom menos inocente;
  • O excelente elenco que continua a exibir um talento imenso.

Cons

  • A falta de originalidade na abordagem às músicas, que permanecem sempre, ou quase sempre, demasiado próximas do original e mais no campo do pastiche e menos da influência ou homenagem. Por vezes, chegam a parecer quase paródias das músicas originais.
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