Gillian Anderson em "Sex Educantion" | © Netflix

Sex Education, primeira temporada em análise

De entre as séries de adolescentes, a britânica “Sex Education” consegue destacar-se pela genuinidade que muitas das vezes falta às primas norte-americanas.

Sejamos francos, no que toca a séries adolescentes a premissa tende a tornar-se um pouco redundante. Existe o grupo dos populares e o grupo dos socialmente rejeitados, o melhor amigo apaixona-se pela melhor amiga, o popular pela ovelha negra, ou vice-versa. “Sex Education” não se afasta necessariamente destas narrativas, mas destaca-se face a elas pela sua genuinidade e originalidade.

Quando o tema é sexo, principalmente sexo na adolescência, é fácil cair nos clichés a ele associado. Porém, a série criada pela estreante Laurie Nunn consegue percorrer o quilometro extra. “Sex Education” apresenta-nos Otis Milburn (Asa Butterfield), um estudante de secundária sexualmente inexperiente e socialmente inapto que vive com a sua mãe, Jean (Gillian Anderson), uma terapeuta sexual. O seu melhor amigo é Eric (Ncuti Gatwa), um adolescente negro homossexual, também socialmente excluído, apesar das suas regulares tentativas em meter conversa com o gay popular do liceu. Tendo em conta que Otis cresceu rodeado por manuais, vídeos, objectos e conversas abertas sobre sexo, o tema acaba por não despertar nele a curiosidade normal de um adolescente de 16 anos. No entanto, quando na escola é revelado um vídeo que expõe a profissão da sua mãe, Otis é abordado por Maeve (Emma Mackey) que lhe propõe um negócio que o irá a obrigar a aprofundar ainda mais os seus conhecimentos no ramo. Juntos acabam por formar uma clínica de terapia sexual secreta, onde ajudam os colegas da escola a ultrapassar os seus problemas.

Sex Education
O cenário inicial da clínica de Maeve e Otis

Pelo meio das consultas, Otis irá ter de lidar com os seus próprios problemas e traumas. E aqui sim, temos algumas das narrativas comuns às séries de adolescentes (e outras). Distanciamento do melhor amigo, apaixonar-se pela rapariga que o vê apenas como amigo, conhecer outra rapariga igualmente interessante, mas sem conseguir esquecer a primeira, querer perder a virgindade o mais depressa que possível. Ainda assim, o argumento criado por Nunn consegue, quer pelos diálogos, quer pelo brilhante elenco, ser genuíno e relacionável. Não cai nos clichés demasiadamente exagerados, nem nos finais felizes que tradicionalmente vemos nas séries norte-americanas primas de “Sex Education.” E, mais interessante ainda, é a habilidade com que os oito episódios nos prendem.

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“Sex Education” não se limita à narrativa de Otis, navegamos também na primeira pessoa as histórias de Eric e Maeve, num plano mais secundário as de Adam (Connor Swindells) e Jackson (Kedar Williams-Stirling) e, como pano de fundo, as dos ‘pacientes’ da clínica. Cada personagem é interpretada de forma sólida, mas o nosso destaque vai para os jovens Gatwa e Mackey, Eric e Maeve respectivamente. Tendo em conta que ambos são praticamente inexperientes no mundo da representação, a forma como conseguem assegurar a sua presença face à veterana Anderson (“The X-Files”; “Hannibal”) ou a Butterfield (“A Invenção de Hugo”; “A Casa da Senhora Peregrine para Crianças Peculiares“) é surpreendente.

Sex education
Ncuti Gatwa (Eric) e Asa Butterfield (Otis)

Abandonada pelo seu pai em criança e com a mãe toxicodependente presa, Maeve aprendeu desde cedo a estar por sua conta. A adolescente vive sozinha num parque de rulotes, pelo que luta diariamente para arranjar formas de ganhar dinheiro para pagar a renda. Nada ilícito, apenas fazer trabalhos de escola para outros e, mais recentemente, a clínica. Maeve é extremamente inteligente, astuta e cheia de atitude, algo que transpira em Mackey, encaixando-a perfeitamente no papel. Aliás a jovem actriz 22 anos, que parece ter um toque de Margot Robbie,  poderá vir a ser uma interessante descoberta das terras de Sua Majestade.

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Já Eric não tem quaisquer problemas em assumir-se, utilizando as suas roupas e maquilhagem como forma de o exteriorizar. Ao longo da série, este é provavelmente o personagem que mais metamorfoses sofre, permanecendo a caracterização física como espelho das mesmas. De todas, a sua história é a mais cativante. Conhecemos Eric na fase de adolescente homossexual, pelo meio atravessa uma fase em que quer aparentar ser um heterossexual cheio de atitude, culminando num jovem adulto homossexual confiante e seguro de si. Esta mudança poderá parecer um cliché, mas não querendo fazer spoiler da série, apenas podemos dizer que Gatwa desempenha cada fase com uma naturalidade e genuinidade impressionante, sem se deixar cair em exageros fáceis.

Sex Education
Gillian Anderson e Asa Butterfield, mãe e filho na série

Anderson e Butterfield também não deixam de brilhar na série como mãe e filho. Embora este seja um dos poucos papéis em que a ex-agente Dana Scully mostra a sua faceta mais cómica, ainda não é aqui que vacila. Anderson brinda-nos com uma divertida, extrovertida e confiante prestação enquanto Jean, caracterizada por alguns decotes e um curto cabelo loiro. A sua personagem é uma mãe solteira, de espírito livre e mente (muito) aberta, que apesar de liberal gosta de manter Otis debaixo da asa. Principalmente quando o tema é sexo. Aqui não esperes encontrar A conversa, porque “Sex Education” é a aula avançada. Chamam-se as coisas pelos nomes e sem falinhas mansas. No entanto, Otis, apesar de estar mais por dentro do assunto do na realidade que desejaria, não exibe os comportamentos tido como normais num adolescente de 16 anos, levando a uma observação mais atenciosa por parte da mãe, que não consegue a resistir a ser terapeuta do próprio filho. Butterfield prova que consegue acompanhar o ritmo alucinante da atriz, quer nos diálogos mais cómicos, quer nos mais sérios, ainda que o seu personagem não saia, na essência, muito do seu registo habitual.

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Em suma, “Sex Education” é uma visão divertida, calorosa e constrangedora do auge da adolescência, repleta de momentos bons, crus e duros, que prima sobretudo por ser uma série sem medos. É igualmente a lufada de ar fresco que a televisão (e público adolescente) precisava depois de duas sufocantes temporadas de “13 Reasons Why.”

Isto não quer dizer, contudo, que tenha a mesma qualidade que outras séries britânicas com o mesmo tema, como por exemplo “Skins.” Ainda assim, segundo os poucos dados que a Netflix revela, a série também está perto de alcançar 40 milhões de subscritores no espaço de menos de um mês da sua estreia, provando ser mais um sucesso para a plataforma. 

TRAILER | “SEX EDUCATION”

Já fazes parte dos quase 40 milhões de subscritores que viram a nova aposta adolescente da Netflix? O que achaste da série?

Sex Education, em análise
Sex Education

Movie title: Sex Education

Director(s): Ben Taylor , Kate Herron

Actor(s): Asa Butterfield, Gillian Anderson, Ncuti Gatwa, Emma Mackey, Connor Swindells, Kedar Williams-Stirling, ,

Genre: Comédia, Drama

  • Inês Serra - 79
  • Catarina d'Oliveira - 87
  • Maria João Bilro - 80
  • Miguel Pontares - 78
  • Marta Kong Nunes - 85
82

Conclusão

“Sex Education” prima pela genuinidade e naturalidade, sendo uma divertida lufada de ar fresco dentro das séries do género.

O MELHOR: O jovem elenco que acompanha a veterana Gillian Anderson.

O PIOR: Apesar de não ter muitos clichés habituais, os mesmos ainda existem, impedindo “Sex Education” de alcançar o mesmo nível de outras séries britânicas do género.

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