Star Wars: A Ascensão de Skywalker" | © NOS Audiovisuais

Star Wars: Episódio IX – A Ascensão de Skywalker, em análise

Star Wars: Episódio IX – A Ascenção de Skywalker“, esforça-se por ser aquela última carta de amor requisitada pelos fãs, mas esbardalha-se numa comoção obrigatória de desfechos simplórios e nostálgicos empacotados à pressa.

É sempre estranho e entristecedor falarmos do término de algo, mas no caso específico deste “Star Wars“, ainda mais o é, não pelo encerramento propriamente dito do arco histórico da gloriosa lenda Skywalker, mas pela forma algo desengonçada como lá chegamos. Não será de todo um caminho inteiramente desastroso, aquele que o regressado J.J. Abrams propõe aos seguidores mais puristas deste mega franchise intergeracional, mas ao tentar ser um “crowd-pleaser”, escorrega na esparrela de sobrelotar a fita mais sensível da saga com demasiadas ideias recicladas de outras tantas Guerras das Estrelas. A elevada soma de avanços e recuos cronológicos de sequelas precedidas de prequelas endrominadas com “spinoffs” pelo meio, também nunca abonou a favor da coesão estrutural de uma história demasiado vandalizada pela demanda comercial do seu sucesso massificado.

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E se tal descaraterização impunha que novas personagens subissem ao plateu de mãos dadas com os grandes vultos icónicos da novela espacial em “O Despertar da Força“, aqui, a mesma façanha já nos soa a uma certa promiscuidade facilitista do enredo, que tenta intrujar-nos com uma quintessência normativa de preguicite aguda proveninente do passado. Por outras palavras, não ascendessem algumas interpretações às estrelas, e estaríamos na presença de um caldeirão de recortes heróicos e vilanescos de outros filmes colados a cuspo, apenas para justificarem mais uma vez a sua existência. E desconfiamos se George Lucas alguma vez tenha sonhado com um alinhamento de ideias tão miudinho para a despedida do seu bebé, ele que nem se deu ao trabalho de meter a cara nos holofotes da estreia deste derradeiro episódio, que só alimentou quarenta e dois anos da sua vida cinematográfica.

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Contudo, não obstante a falência formal de um argumento completamente “adisneyzado”, assente numa narrativa tão básica e linear quanto um daqueles jogos de plataformas Super Mario, à que reconhecer total mérito à palpitante imagem de encher todo e qualquer olho. Nada que um pôr do sol emoldurado naquela fúria ardente do afamado deserto jordano de “Wadi Rum” não seja capaz de proporcionar, quando os postais idílicos de Dan Mindel (“Star Trek”) unem forças com os delírios cromáticos de Paul Inglis (“Blade Runner 2049”) como “pornografia artística”. E é com sede ao pote, que atracamos a vista naquele abutre furtivo de Kylo Ren (Adam Driver), enquanto o vemos pousar na superfície cúbica do planeta “Exegol” – o covil secreto dos Sith, que logo nos dá a conhecer, sem demora, aquela gargalhada maléfica do renascido Imperador Palpatine (Ian McDiarmid). De resto, o resgate do grande Lorde Sith para este finalíssimo ato, já não constituía segredo para ninguém, com trailers e “leaks” a esbanjarem com meses de antecedência mais uma cartada, das poucas já existentes, que não fosse vislumbrada a léguas de distância. Sob a égide de um Darth Sidious marionetizado por uma espécie de quadro elétrico suspenso num emaranhado de cabos, emerge mais uma ordem militar autocrata, equipada por uma vasta armada de Estrelas da Morte apontadas à obliteração definitiva da Resistência, resistentemente capitaneada pelos pixels virtuais de uma Carrie Fisher (Leia) de arquivo.

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E pese embora a injeção nostálgica dos agressivos remates verbais do vilão mais cáustico e hostilizador de sempre, cujas asquerosas expressões faciais são engrandecidas numa jigajoga de sombras contrastantes assustadoras, o mesmo não se aplica à atuação robotizada da sua congénere na barricada oposta, vítima da artificialidade digital da sua inexistência humana. Mas para compensar uma presença de caráter meramente simbólica, Rey (Daisy Ridley) e os seus irmãos de armas, repõe a velha mística a bordo do imponente Falcão Milenar, com Poe Dameron (Oscar Isaac) a encarnar a vez de um valente Han Solo, ancorado por um laborioso Chewbacca e um temerário Finn (John Boyega); sem esquecer as habituais latinhas de serviço: C-3PO, R2-D2 e BB-8. Contudo, o grosso de todas as atenções é, obviamente, açambarcado pelas impetuosas perseguições e acalorados duelos de luz entre Ren e Rey, numa reverência performativo-imagética digna dos melhores confrontos mano a mano que a saga já produziu até à data. É assim que, Adam Driver, com o seu olhar penetrante, naquele metro e noventa escanifrado, consegue provocar-nos um frisson sôfrego cada vez que aparece do nada como um stalker faminto pelas vestes divinas de Rey que, por seu turno, incita Daisy Ridley à sua melhor performance.

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“Star Wars: Episódio IX: A Ascensão de Skywalker”, não é, nem por sombras, um péssimo filme, mas esbanja uma oportunidade soberana de reconciliar quatro décadas de sonhos estelares para miúdos e graúdos de uma forma memorável. É certo que possui momentos de sublime ascensão estética, representativa, e sonoplástica, mas logo se deixa embaraçar numa espiral descendente de memórias atropeladas que forçam a sua entrada fora de tempo. É como se este desenlace estivesse condenado desde o início por constrições temporais, e tivesse de ser acelerado numa estufa para reter um aspeto delicioso à superfície, mas que vai revelando uma óbvia adulteração precipitada de sabor a cada dentada mais profunda. Ainda assim, na hora do adeus, este Star Wars respeita a sua essência original, passando o testemunho a uma nova geração de aventureiros para novas aventuras nas estrelas.

Star Wars: Episódio IX - A Ascenção de Skywalker
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Movie title: Star Wars: Episode IX - The Rise of Skywalker

Movie description: A Lucasfilm e o realizador J.J. Abrams voltam a unir forças para levar os espectadores numa jornada épica para uma galáxia muito, muito distante, com este novo e final capítulo da saga Skywalker, a fascinante conclusão da saga Skywalker, onde vão nascer novas lendas e a batalha final pela liberdade ainda está para chegar.

Date published: 2 de January de 2020

Director(s): J.J. Abrams

Actor(s): Daisy Ridley, Adam Driver, John Boyega, Mark Hamill, Oscar Isaac

Genre: Ação, Aventura, Fantasia, Sci-Fi

  • Miguel Simão - 69
  • Rui Ribeiro - 85
  • Cláudio Alves - 50
  • José Vieira Mendes - 60
  • Daniel Rodrigues - 30
  • Inês Serra - 30
  • Marta Kong Nunes - 60
55

CONCLUSÃO

“Star Wars: Episódio IX – A Ascensão de Skywalker” é, com toda a sua manta de retalhos, uma valiosa adição ao portefólio da saga, nem que seja para rematar a cosedura de um conto tão apaixonante como aquele que foi iniciado com Skywalker. É, sem dúvida, uma longa metragem de pipoca com altos valores de produção, que certamente deslumbrará mais facilmente a criançada ou um adulto muito indultário.

O Melhor: Interpretações genéricas de bom nível; efeitos especiais de ponta; cinematografia e direção artística do melhor; orquestração pujante do veterano compositor John Williams.

O Pior: Guião medíocre e atabalhoado é espremido até ao limite pela competência dos intervenientes; referências históricas impingidas à força num certo anacronismo; problemas de ritmo e cadência; final confuso e agridoce.

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