Street Food | Uma viagem deliciosa pelas ruas do mundo
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Num mundo globalizado, onde o homem tende a preferir o McDonald’s à comida tradicional quando viaja, “Street Food” mostra o poder social e económico dos pequenos negócios de rua.
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“Street Food” explora as particularidades de várias cidades e países da Ásia, na procura de tradições culinárias através de pratos típicos mas também de reinvenções dos mesmos, que passam frequentemente de geração em geração. Apesar de ainda não haver a confirmação de mais temporadas, será de esperar que venham mais com destinos continentais diferentes, pois mesmo descrição da série refere sempre os sabores do mundo e não exclusivamente da Ásia.
Para nós, ocidentais, este documentário é delicioso (e peço desculpa pela óbvia escolha de palavras). Para além da parte culinária interessante (que pode ajudar quem está na área a retirar boas ideias), este documentário tem um papel pedagógico muito importante. Não só nos ajuda a descobrir os “cantinhos do mundo” como nos mostra os costumes tão diferentes dos nossos. A Ásia tem realmente esta tradição muito forte da comida de rua, que cá pela Europa vai crescendo especialmente com negócios importados de lá ou inspirados neles. Em Portugal encontram-se alguns kebabs e pequenas lojas de noodles (e não falo nas roulottes por não serem, na maioria, negócios fixos) e, ao viajar, apercebi-me que realmente temos um grande défice dessa tradição. Apesar de enchermos frequentemente as esplanadas do país, é engraçado comparar e perceber que só recentemente começámos a ter, por exemplo, os típicos mercados de Natal com as barracas de comida, que foi algo que sempre encontrei (sim, viajei sempre muito pelo Natal!) nos vários países europeus que visitei.
![mapa](https://www.magazine-hd.com/apps/wp/wp-content/uploads/2019/05/mapa.jpg)
Quem gosta dos programas de competição culinária ou dos famosos programas da Netflix como o “Chef’s Table” (cujos criadores são os mesmos), este documentário será certamente interessante, mas para aqueles que adoram viajar e conhecer as particularidades dos diferentes sítios do mundo, “Street Food” é um must. Este documentário é uma autêntica viagem geográfica e também no tempo, pois estes negócios de comida de rua acompanham frequentemente gerações e gerações de famílias. “Street Food” é mais do que um documentário sobre tradições culinárias, é um testemunho de idosos quase centenários que dedicaram (e continuam a dedicar) a sua vida à comida, é um testemunho da vida social daqueles países, é um testemunho do império das tradições e costumes num mundo onde os gigantes reinam.
Posto isto, se ainda não vos convenci a ver a série, que tal uma pequena viagem (sem “spoilers”!) pelas cidades e países retratados na série? Vamos a isso!
BANGUECOQUE, TAILÂNDIA
![Street Food](https://www.magazine-hd.com/apps/wp/wp-content/uploads/2019/05/tailandia_omelete-de-caranguejo.jpg)
A viagem de “Street Food” começa com Banguecoque, uma das cidades com mais comércio de comida de rua, apesar de o governo ter vindo a tentar afastar os vendedores que ocupam os passeios. Mas existem nomes que continuam a vingar neste negócio, como Jay Fai, conhecida por reinventar pratos clássicos. A sua omelete de caranguejo, os seus “noodles bêbedos” e a sua sopa tom yum deram-lhe uma estrela Michelin. Khun Suthep também é um outro nome conhecido neste meio, bem como Jek Pui, que já vende a sua comida exatamente no mesmo passeio há mais de 70 anos.
OSACA, JAPÃO
![Street Food](https://www.magazine-hd.com/apps/wp/wp-content/uploads/2019/05/japao_atum.jpg)
O Japão é um país muito conhecido pela sua organização e regras, e a própria realidade do comércio de comida de rua em Osaca reflete esse rigor. Num beco escondido da cidade, está Toyo, um energético vendedor cujos clientes adoram, o que faz com que eles voltem sempre à sua barraca, mas que, tal como a maioria das pessoas retratadas nesta série, passou por grandes dificuldades até chegar onde está. A senhora Kita é um outro caso castiço de Osaca, uma das mais velhas vendedora de comida tradicional. Goshi e o seu pai são também conhecidos em Osaca pelo seu famoso prato okonomiyaki, conhecido como a “comida da alma” da cidade.
DELI, ÍNDIA
![Street Food](https://www.magazine-hd.com/apps/wp/wp-content/uploads/2019/05/india_chaat_aloo_tikki.jpg)
Em Deli, as várias pessoas que abraçaram esta cidade como a sua nova casa trouxeram com elas a sua cultura e os seus hábitos culinários, influenciando vários pratos atuais. Aqui, destacam-se quatro nomes: Dalchand Kashyap, que tentou reunir a sua família através da comida, nomeadamente através do seu famoso chaat, conhecido por ser uma verdadeira explosão de sabores; Mohamed Rehan, que continua a fazer o nihari, um prato que era servido aos soldados de Mughal no século XIX e que as pessoas continuam a adorar, chegando ao ponto de esperar horas na fila; Karim, com os seus kebabs que têm vindo a ser servidos desde há cinco gerações e Dharmender Makkan, com a sua receita especial de chole bhature, que mantém a tradição do seu avô.
JOGJACARTA, INDONÉSIA
![Street Food](https://www.magazine-hd.com/apps/wp/wp-content/uploads/2019/05/indonesia_jajan.jpg)
Jogjacarta é um caso especial de uma cidade onde a comida tradicional não foi alterada pela globalização. Um dos snacks mais conhecidos da cidade é o jajan pasar, que já conta atualmente com 200 tipos de diferentes sabores. Mbah Satinem é uma das vendedoras deste típico doce e é tão famosa que se os clientes chegarem depois das 9 da manhã irão ficar desiludidos… Porque já se vendeu tudo! Ainda no que toca ao jajan pasar, Leonarda Tjahjono tem vindo a aplicar uma versão mais moderna da receita, criando diferentes tipos para todas as ocasiões.
Mbah Lindu, uma das mais velhas vendedoras de comida de rua, conta já com 100 anos e tem estado a cozinhar regularmente há mais de 86 anos. Costuma-se dizer que a idade é só um número, e Mbah é a prova disso, uma vez que diz que vai continuar a cozinhar até morrer!
CHIAYI, TAIWAN
![Street Food](https://www.magazine-hd.com/apps/wp/wp-content/uploads/2019/05/taiwan_cabecapeixe.jpg)
Chiayi é um dos casos onde existe muita vida no comércio noturno, com mais de 300 barracas, mas as receitas ancestrais estão sob ameaça. As gerações mais novas vêem-se obrigadas a tentar inovar para manterem os seus negócios ativos. Grace Chia Hui Lin e os seus pais são um caso que demonstra este conflito entre gerações: quando os pais estão fora, Grace faz algumas alterações ao negócio dos pais, tentando torná-lo mais moderno. Aos poucos, os seus pais vêem os resultados e começam também a mudar, pois só graças à persistência da filha é que a sua cabeça de peixe se tornou famosa.
Existe ainda uma receita tradicional de estufado de cabra, famoso por curar muitas doenças, mas que tem um senão: exige que o cozinhado esteja numa panela, enterrado três dias e três noites, num sítio extremamente quente. Apesar dos benefícios deste prato, cozinhá-lo é um grande desafio e, ironicamente, diminui drasticamente a saúde de quem o cozinha.
Um dos casos mais antigos da cidade é Liu, que trabalha com muita determinação e humor e Tsui-Eh, que cozinha o famoso douhua (pudim de tofu) há mais de 60 anos. O douhua é uma sobremesa conhecida de Taiwan, que Tsui-Eh deseja manter exatamente como tem vindo a fazer ao longo dos anos.
SEUL, COREIA DO SUL
![Street Food](https://www.magazine-hd.com/apps/wp/wp-content/uploads/2019/05/coreia_noodles.jpg)
Apesar da inovação constante que se verifica na cidade de Seul, que se espelha também na comida, pode-se encontrar os pratos tradicionais da Coreia do Sul no Mercado Gwangjang. Nele existem casos como o de Cho Yonsoon, que abriu uma barraca de kalguksu para pagar as dívidas da família, cuja versão da receita leva os clientes ao encontro de verdadeiros sabores tradicionalis. Gunsook Jung é outro destaque de Seul, conhecido pelo seu caranguejo marinado em soja, vendido na mesma barraca que a sua avó abriu há 86 anos atrás, quando ainda não havia sistemas de refrigeração.
Gumsoon Park e a sua filha Sangmi Chu são a dupla que vende o pakgane mais popular do Mercado de Gwangjang e Jo Jungja criou a sua receita famosa, o baffle, por acaso, num dia em que não podia sair do seu local de trabalho. Aproveitou arroz que tinha sobrado e fritou-o numa máquina de fazer waffles e… Eureka!
HO CHI MINH, VIETNAME
![Caracóis](https://www.magazine-hd.com/apps/wp/wp-content/uploads/2019/05/vietname_caracois.jpg)
A cidade de Ho Chi Minh acabou por emergir depois de tempos conturbados, tendo agora uma grande cultura de comida de rua que demonstra a resiliência da sua população. Exemplos de pessoas que dão vida às ruas são Truoc, que conseguiu preservar uma receita de caracóis que aprendeu através do seu pai e Anh Manh, que mantém a famosa receita de sopa pho, criada pelos seus pais.
Dois dos conhecidos pratos de Ho Chin Minh são o com tam, feito através dos grãos de arroz que são desperdiçados durante a colheita e a sanduíche banh mi, uma recreação da típica baguette francesa que se tornou um ícone da cultura vietnamita.
SINGAPURA
![Putu piring](https://www.magazine-hd.com/apps/wp/wp-content/uploads/2019/05/singapura_putupiring.jpg)
A cultura da comida de rua é única em Singapura, uma cidade-Estado hipermoderna composta por uma enorme diversidade de grupos étnicos. Desta cidade, destaca-se o putu piring, um bolo húmido de arroz com recheio de açúcar de palma, e os famosos noodles wanton, que Tang aprendeu a fazer enquanto órfão, após a 2ª Guerra Mundial. Com 85 anos, continua fiel ao seu prato. O arroz de frango é a comida de conforto predilecta da cidade.
CEBU, FILIPINAS
![Nilarang](https://www.magazine-hd.com/apps/wp/wp-content/uploads/2019/05/filipinas_nilarang.jpg)
O último destino de “Street Food” é a cidade de Cebu, que tem disponível uma grande variedade de marisco e, graças à influência do comércio antigo de peixe, a rua Filipino está atualmente repleta de receitas únicas. No entanto, nem tudo são boas notícias: 1/4 da população de Cebu vive abaixo da linha de pobreza. Para combater isto, a população tenta explorar o melhor que a cidade oferece através do comércio de rua.
O prato lechon cebu é um dos mais famosos em Cebu, e a família de Leslie Enjambre tem dado continuidade ao negócio aberto pela sua avó em 1940. O nilarang bakasi é um estufado de enguias, famoso pela sua qualidade afrodisíaca capaz de aumentar a libido. Mas, para quem não tinha dinheiro para comprar peixe nem carne, o tuslob-buwa era a solução: um molho rico em gordura, aproveitando o cérebro de porco, cebola e alho. Por último, Rubilyn Diko Manayon tem um negócio que reflete a influência da cozinha chinesa na cidade. Com mais de 18 pratos diferentes, o mais famoso é o lumpia, uma espécie de crepes chineses.
Qual o teu episódio preferido de “Street Food”? E qual o prato que comias sem pensar duas vezes? Partilha connosco!
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