The Conjuring 3 – A Obra do Diabo, em análise
De “Annabelle” a “A Freia”, aos filmes originais da saga “Conjuring”, o universo criado por James Wan (“Saw”) em 2013 continua a expandir-se. O casal Warren regressa ao estrelato com o 8º filme do franchise, “The Conjuring 3 – A Obra do Diabo”.
Desta vez Wan assumiu um papel mais marginal, como produtor e criador, ficando a realização delegada. O resultado? Uma sequela da história central desprovida da sua habitual satisfatória descarga de sustos bem arquitetados.
Lorraine e Ed Warren (Vera Farmiga e Patrick Wilson) estão de volta à luz dos holofotes, passados cinco anos desde “The Conjuring 2 – A Evocação” (2016). O mais célebre casal de investigadores de paranormal do cinema, inspirado na vida de duas pessoas de carne e osso, e nas suas alegadas investigações sobrenaturais, retorna desta vez com outro evento “verídico” no qual Ed e Lorrain se envolveram de forma marginal.
O caso desta nova continuação da história é o da pessoa real de Arne Cheyenne Johnson (aqui interpretado por Ruairi O’Connor) , um jovem que alegadamente se encontrava possuído por uma força demoníaca quando assassinou o seu senhorio. O julgamento altamente polémico, o qual aconteceu em novembro de 1981, foi o primeiro caso nos Estados Unidos no qual a defesa procurou provar a inocência do arguido tendo por base o argumento de possessão demoníaca e recusando assim responsabilidade no que toca ao crime.
Michael Chaves (responsável pela longa-metragem inserida neste franchise, “A Maldição da Mulher que Chora”) guia o casal de investigadores à medida que estes lutam pela alma de Arne e pela libertação da maldição que levou a que cometesse tamanha atrocidade.
Há que reconhecer, desde logo, que “The Conjuring 3 – A Obra do Diabo” é uma vítima da sua própria ambição e início auspicioso. Tendo a primeira sequela resultado e mantido o nível do filme inaugural, nada seria de esperar senão uma elevada fasquia no que à qualidade desta terceira parte é respeitante.
A sequência inicial do filme está à altura do desafio, mostrando-nos um aparatoso e doentio exorcismo de um menino possuído. A tensão acumula-se de imediato e vários sustos e momentos mais gráficos prometem uma cadência que não se virá a verificar ao longo das quase duas horas de filme. Aliás esta sequela sofre, de forma frequente, de falta de ritmo e até de momentos mortos, durante os quais o encadeamento dos eventos se torna frouxo.
Não são poucas as oportunidades falhadas ao longo dos seus vários momentos de enervamento. O crescendo prepara-se, prepara-se, mas as sequências teimam em não entregar o que se espera: a imagem do duplo é usada uma e outra vez, sempre sem capacidade inventiva. Falta brilho, falta criatividade, ousadia na colocação e movimentação das personagens.
A saga Conjuring não é conhecida por transgredir noções de terror, de forma alguma, nem esperamos que o seja. Afinal é uma obra de época, situada nas décadas de 70 e 80 e dominada pelas narrativas de possessão espírita e nunca pretendeu assumir-se como disruptiva. Contudo foi capaz de o fazer devido à sua atenção ao detalhe, à sua manipulação do som e beleza e magnitude estética.
Apesar de ainda se elevar vários tiros acima de outras histórias sobre demónios e casos de possessão, devido à persistência de ângulos dramáticos interessantes e jogos de simetria e assimetria imagética que provocam um vertigo interessante, é evidente: “The Conjuring 3 – A Obra do Diabo” não passou o teste.
A sua linha narrativa central tem demasiados atalhos incapazes de agarrar o interesse, à medida que nos desviamos dos intervenientes principais e divagamos para personagens que nunca conhecemos e com as quais não conseguimos criar ligação. Certos pontos fundamentais para a progressão têm pouca a quase nenhuma explicação. A banalidade vence.
Como elemento de consternação adicional, a figura malevolente acaba por ser, e isto sem revelar demasiados aspectos de enredo, demasiado humana e debilitável. A magnitude da ameaça diminui e o desenlace assume uma natureza anti climática.
Como cereja no topo do bolo, o final é para lá de preguiçoso, com uma resolução que faz rir e nunca tremer de medo. Aliás, poucas são as ocasiões genuinamente assustadoras ou capazes de gelar os ossos. Na sala de cinema ouvimos risinhos abafados, a prova inequívoca da incapacidade de criar profundo desconforto e inquietação.
Há certos trunfos ao longo do filme, em especial na sua primeira meia hora, e em particular relacionados com o jogo de contraste entre os cenários extremamente negros e as descargas de tons vermelhos em momentos chave. Sim, 100 anos depois e o expressionismo alemão continua a ser a força orientadora para os pontos mais altos de uma representação fílmica de terror. Quando deixará de assim o ser? É provável que nunca!
Alguns momentos musicais e visuais inteligentes à parte, é fácil apelidar “The Conjuring 3 – A Obra do Diabo” de desilusão. Todavia, para amantes assolapados do género de terror ou simplesmente para aqueles que têm familiaridade com este franchise, dir-se-ia que vale a pena continuar a acompanhar esta história, não obstante o facto de Ed e Lorraine terem perdido notável fôlego.
Será que Wan estará de volta para uma potencial quarta parte capaz de oferecer aos Warren uma meritória redenção?
TRAILER | “THE CONJURING 3 – A OBRA DO DIABO” ENCONTRA-SE EM EXIBIÇÃO
The Conjuring 3 - A Obra do Diabo, em análise
Movie title: The Conjuring 3 - A Obra do Diabo
Movie description: A arrepiante história de terror, homicídio e de uma entidade malévola que chocou até os experientes investigadores de atividades paranormais, Ed e Lorraine Warren. Este é um dos mais sensacionais casos dos seus arquivos, que começa com a luta pela alma de um jovem rapaz, levando-os para além de algo que nunca tinham visto
Date published: 20 de June de 2021
Country: Estados Unidos
Duration: 112 minutos
Author: Michael Chaves
Actor(s): Vera Farmiga, Patrick Wilson, Ruairi O'Connor
Genre: Terror, Mistério
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Maggie Silva - 60
CONCLUSÃO
São muitas, demasiadas, as soluções fáceis e lugares comuns encontrados em “The Conjuring 3 – A Obra do Diabo” . Mais melodramático do que assustador, os espectadores não deverão saltar das suas cadeiras tantas vezes quanto poderiam esperar. Vários tiros abaixo dos capítulos anteriores, mas ainda assim preferível a outras longas-metragens com premissas afins, esta continuação não deverá ser o fim dos Warren no cinema. Deveriam reformar-se em breve?
Pros
A psicadélica explosão de música e cor que podemos testemunhar numa das sequências iniciais.
O arranque pujante e intenso.
Uma vez mais, e sem surpresa, as prestações de Farmiga e Wilson na pele dos Warren.
Cons
A pecaminosa falta de criatividade na escolha dos elementos centrais que configuram os jumpscares (sustos) elementares;
O final risível, preguiçoso e apesar de arrastado em igual medida apressado. Um oximoro palpável;
Desvio após desvio, lá chegamos ao destino final. O caminho foi demasiado longo, o tempo de filme idem aspas e o espectador já não está comprometido.