O canto de cisne de "The Marvelous Mrs. Maisel" com a 5ª temporada |©Prime Video

The Marvelous Mrs. Maisel T5, em análise

“The Marvelous Mrs. Maisel” regressou à Amazon Prime Video a 14 de abril para a sua 5ª e última temporada. É sempre difícil dizer adeus, particularmente a uma das melhores séries de comédia dos últimos anos. Aqui estamos, contudo, a propor a nossa análise ao derradeiro adeus. 

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Atenção: o artigo contém spoilers ligeiros acerca do final de “The Marvelous Mrs. Maisel”. 

“The Marvelous Mrs. Maisel” estreou originalmente em 2017 e tornou-se uma das “bandeiras” da Amazon Prime Video, e sem dúvida o mais importante conteúdo original da plataforma. Previamente, tivemos acesso a todos os episódios da série, exceptuando o último, lançado a 26 de maio à escala mundial. É com pesar que nos despedimos das aventuras de Midge Maisel, agora que já obtivemos uma visão compreensiva do seu passado, presente e futuro.

Vinte prémios Emmy depois, a mais recente criação de Amy Sherman-Palladino ficará certamente registada na história da televisão norte-americana, como uma exímia produção de época capaz de homenagear a figura da mulher, independente e feroz, fora da esfera doméstica, mesmo na Nova Iorque dos anos 50 e 60 que aqui é retratada.

Particularmente hilariante, a narrativa apresentou-nos a história improvável e fascinante de Miriam ‘Midge’ Maisel (Rachel Brosnahan), uma dona de casa de classe alta que descobre um talento particular para a comédia depois do seu casamento ruir e o seu marido, o simpático Joel Maisel (Michael Zegen) a deixar pela secretária. Midge é retratada como uma mulher astuta, feroz e incapaz de se centrar primeiramente nos prazeres domésticos, antes apaixonada pela sua ascensão e por uma vontade inata de ver meio mundo e viver a vida ao máximo.

The Marvelous Mrs. Maisel T5 no mapa das séries de abril
© Prime Video

Uma vez mais, e depois das suas estrondosas “Gilmore Girls”, Amy Sherman-Palladino criou novas personagens femininas complexas, desta vez com o benefício de escrever a série na segunda década do século XXI, com menos limitações e mais liberdade para abrir o jogo. Assim se pôde falar, finalmente, de temáticas como orientação sexual, à medida que observamos o tumulto interior de personagens LGBTIA+ importantes na narrativa, como Susie (Alex Borstein) Ou Shy Baldwin (Leroy McClain).

Ao contrário do que aconteceu com outras das suas séries, nomeadamente “Gilmore Girls”, não há momentos “mortos” em “The Marvelous Mrs. Maisel”. Se alguma vez recuperamos a alegria pura dos episódios da segunda temporada, situados nas Catskills? Não verdadeiramente, mas não existem temporadas fracas ou injustificadas ou os famosos ‘episódios filler’ que tanto enchiam a televisão por cabo na altura em que todas as séries contavam com 23 episódios por temporada. Ao longo dos primeiros quatro anos fomos vendo Maisel ascender e cair, lutando ferozmente pelo seu tão merecido reconhecimento.

Quanto a esta quinta temporada, marca finalmente o início do sucesso de Midge Maisel e ilustra, com analepses e prolepses, aquela que será a sua vida como uma comediante de sucesso. Desde o primeiro episódio, sabemos que Miriam e Susie serão capazes de atingir os seus objectivos e muito mais, mas é apenas no último episódio que finalmente vemos Midge abrir asas e voar.

The Marvelous Mrs. Maisel temporada final
Midge e Susie permanecem o coração da série |©Prime Video

O último capítulo da temporada, o seu nono, é perfeitamente reconfortante mas também (como esperado) bastante agridoce e nostálgico. Finalmente, Midge tem a sua grande oportunidade no Gordon Ford Show, o mais famoso talk show (fictional) dos EUA dos anos 60, onde Miriam trabalha como argumentista. Agora, Midge irá apresentar-se frente à câmara e, quebrando todas as regras, talvez consiga o seu primeiro número de stand up em televisão nacional. Escrever este final é um momento importantíssimo para Amy-Sherman Palladino, que escreve e realiza o final desta que é a série mais adulta da sua carreira.

O monólogo final de Midge, proferido com mestria por uma sempre magnífica Rachel Brosnahan, é o ponto de viragem para toda a vida da sua personagem central. Por tudo isto, era essencial que nada falhasse no ritmo deste texto. Conseguimos imaginar dias, meses, em que a autora da série terá potencialmente escrito e rescrito este pedaço de texto humorístico – aquele que é capaz de convencer o grande público do quão especial é Midge.

É com prazer que vemos a sua ascensão, mas também com alguma apreensão. Nas cenas finais, Amy Sherman-Palladino recorda-nos do elemento mais importante da narrativa – a relação entre Susie e Midge. Foi esta relação profissional e de amizade que iniciou tudo, na primeira temporada, e na cena final a sua cumplicidade salta à vista. Ao longo desta 5ª temporada, uma rixa instala-se temporariamente entre as duas, a qual provoca desconforto e tristeza em quem vê. Claro está, tal zanga não foi feita para durar, nunca poderia durar.

No final, algumas pontas ficam soltas e pedimos desesperadamente novos dados. Lenny Bruce (Luke Kirby), uma das poucas figuras reais introduzidas em “The Marvelous Mrs. Maisel”, morreu na vida real de overdose, na casa dos 40, na década de 60. Na série, num dos saltos temporais,  vemos uma tentativa desesperada de o trazer de volta para a luz, orquestrada por Susie e Midge. Todavia, a sua morte nunca entra na narrativa e até ficamos felizes por tal profecia da vida real não se concretizar.

Quanto a Joel, não sabemos bem qual é o seu futuro, mas temos a certeza de que Midge nunca deixou de o amar e que o seu role posterior de amantes não invalida tal constatação. Mulher-guerreira, Midge nunca regressa para aquele que a atraiçoou, e para a vida doméstica que iria cortar as pernas ao seu sonho. Todavia, depois da aproximação registada entre os dois nesta última temporada, é com alguma tristeza que constatamos que o seu final feliz é mesmo a separação.

Também gostaríamos de ter sabido mais acerca do futuro de Susie, para lá do grande sucesso como agente no mundo do espectáculo. Terá encontrado a felicidade romântica?  Amy Sherman-Palladino não coloca nunca ênfase nesta temática, colocando legítima importância antes nas relações familiares e de amizade. Não obstante, não deixamos de nos interrogar.

Já as restantes personagens centrais, Rose e Abe Weissman (Marin Hinkle e Tony Shalloub) e ainda Moishe e Shirley Maisel (Tony Shalhoulb e Caroline Aaron) vão sempre brilhando, em particular no presente da narrativa. Abe Weissman destaca-se largamente e a sua realização em relação ao potencial de Miriam, bem como o seu infinito orgulho, formam um dos enredos mais enternecedores e valiosos da temporada. Tony Shalhoub merece sem dúvida um Emmy por uma prestação de apoio tão engraçada como emocionante, repleta de epifanias e momentos em que rouba totalmente a cena.

Prime Video
O sempre charmoso clã Weissman brilha na última temporada |©Prime Video

A quinta temporada de “The Marvelous Mrs. Maisel” deixa-nos orgulhosos, curiosos e desconcertados, prontos para conquistar o mundo e os nossos sonhos, motivados para aspirar a mais e melhor. Midge Maisel e a sua família ficarão, sem dúvida, para a história como algumas das personagens televisivas mais cativantes do século XXI. Maisel acabou cedo, mas acabou bem. E não é isso o mais importante?

Mal podemos esperar para ver a série limpar os prémios de comédia no próximo ano – entre os finais de “The Marvelous Mrs. Maisel”, “Ted Lasso” e “Barry” é certo que a comédia televisiva em 2023 está de parabéns e de boa saúde!

“The Marvelous Mrs. Maisel” regressou à Amazon Prime Video a 14 de abril e estreou o último episódio a 26 de maio. De olhos lavados, despedimo-nos desta comédia de excelência que nos transportou para a Nova Iorque dos anos 50/60 ao longo dos últimos anos. 

TRAILER  | THE MARVELOUS MRS. MAISEL – TEMPORADA 5 

The Marvelous Mrs. Maisel T5, em análise
The Marvelous Mrs. Maisel

Name: The Marvelous Mrs. Maisel T5

Description: Na quinta e última temporada, Midge dá por si mais perto do que nunca do sucesso com que sonhou, mas descobre que mais perto do que nunca continua a ser uma grande distância.

Author: Maggie Silva

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  • Maggie Silva - 85
85

CONCLUSÃO

“The Marvelous Mrs. Maisel” terminou a sua última temporada em chave de ouro, finalmente acelerando no ritmo da narrativa e oferecendo-nos uma visão macro do futuro das nossas personagens favoritas – ao longo de várias décadas. Midge Maisel cumpre o seu destino num final emotivo e repleto de eventos estimulantes.

Pros

  • Uma nova estrutura narrativa, repleta de prolepse e capaz de transmitir muita história em poucos episódios.
  • Todo o clã Weissman e mais revelações dentro da temática das dinâmicas de género.

Cons

  • Algumas pontas que ficam soltas no final.
  • Não será o amor romântico compatível com o sucesso profissional? Amy Sherman-Palladino parece sempre acabar a sacrificar o primeiro.
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