‘Top Gun: Maverick’ | Geração Top Gun
Em 1986 com ‘Top Gun-Ases Indomáveis’, muitos quiseram ser pilotos de elite, usarem os Ray Ban Aviator, namorar com a miúda loira ou com o puto mais giro lá do bairro e sobretudo ser rebelde como a dupla Tom Cruise/Val Kilmer. Será que o cinema da actualidade e este novo ‘Top Gun: Maverick’ e nós também como espectadores, ainda temos paciência para tantos ‘voos’?
Em 1986, muitos espectadores de cinema, sobretudo os mais jovens, foram presenteados, com ‘Top Gun-Ases Indomáveis’ de Tony Scott e com a dupla de Cruise e Kilmer, numa aventura de alta vibração, com o rebelde Maverick e um Iceman que nunca cometiam erros, nas suas missões no ar. Jatos, mísseis, putos valentes e rebeldes e miúdas loiras e giras…e Tom Cruise sempre tão perto de Val Kilmer — não apenas no ar e cada um nos seus cockpit, a fazerem manobras que até arrepiava — que quase ficávamos com a sensação que eles iriam além de abraçar-se em tom de camaradagem, beijarem intensamente como acabou por acontecer com Charlie (Kelly McGillis), a miúda mais disputada da base. Outros tempos, porém hoje se calhar até seria aceite e seria uma coisa mais banal, mesmo num filme de guerra.
Porém ‘Top Gun-Ases Indomáveis’ (1986), tinha tudo para nos levar ao cinema e nos fazer saltar e vibrar nas cadeiras, então e sobretudo nos grandes ecrãs. Tinha todos os ingredientes de um filme de amor e aventura e de puro entretenimento para largas audiências. Agora e depois de meses, ou melhor um ano ou mais de adiamento, salvo erro, a Paramount Pictures anuncia finalmente a estreia de ‘Top Gun: Maverick’, um filme visto como um dos mais inovadores de todos os tempos, no que diz respeito às cenas aéreas e ao próprio treino dos actores, dentro dos caças F/A-18 Hornet. Além disso, o filme transporta-nos novamente, para a ideologia do patriotismo norte-americano, do pós-Guerra Fria — qualquer associação com a Guerra da Ucrânia é bastante plausível, embora o filme fosse produzido muito antes — para uma era actual da guerra assimétrica ou não-convencional, com uns F-35 super-equipados e evoluídos, que existem apenas para encher o ego do complexo militar-industrial e não só…, enfim, sabendo nós que os pilotos de caça e as missões aéreas — vimo-lo em filmes como ‘Morte Limpa’, (2014), de Andrew Nicoll, com Ethan Hawke, por exemplo — podem ser substituídos por jovens nerds de jogos de computador e a guerra global, pode ser feita através de drones, comandados no conforto de um contentor, com ar condicionado em Las Vegas, nos EUA. Isto, quase como se esta guerra não-convencional, em nenhum aspecto, fosse uma aposta ou um jogo de casino à distância. Deixemos este lado pouco divertido e até sinistro da guerra moderna, porque não é a minha especialidade e centremo-nos antes um pouco, ainda sem a ter visto, na nova aventura que aí vem e no novo filme ‘Top Gun: Maverick’, que estreia a 25 de maio nas salas portuguesas; e que vai ter ampla divulgação mundial daqui dias, na passadeira vermelha do 75º Festival de Cannes, com Tom Cruise (e os outros) a passearem-se na Croisette.
VÊ EXCERTO DE ‘TOP GUN: ASES INDOMÁVEIS (1986)
Para aqueles que não conhecem e já serão poucos, pelo menos os que se interessam por cinema — o filme demorou tanto tempo a estrear — e têm saudades do primeiro, recordo a sinopse oficial deste ‘Top Gun: Maverick’: Após 30 anos de serviço Pete ‘Maverick’ — Tom Cruise, está agora com 59 anos — está onde devia estar, a voar nos limites como piloto de testes e a treinar um destacamento de jovens oficiais-pilotos da famosa escola-esquadrilha Top Gun, para uma missão especializada. Maverick vai encontrar o Tenente Bradley Bradshaw (Miles Teller), nome de código ‘Rooster’, curiosamente filho do falecido amigo: o Tenente Nick Bradshaw, nome de código ‘Goose’. Maverick é obrigado a enfrentar os seus medos mais profundos, culminando numa missão que exige o sacrifício daqueles que forem escolhidos para voar a cumpri-la.
A principal atração ‘Top Gun: Maverick’, dirigido por Joseph Kosinski (‘Tron, o Legado’) é sem dúvida um muito aguardado regresso de Tom Cruise — também ele um símbolo dessa geração de espectadores e actores — à ribalta e à grande aventura aérea, desta vez para interpretar, não o piloto mais rebelde da esquadrilha, mas um amadurecido e experiente instrutor/mentor de voo, para outros jovens pilotos, embora de vez em quando, não hesite em ‘cortá-los’ nos céus. Além disso, temos a bela Jennifer Connelly (‘Alita: Anjo de Combate’, entre outros com excelentes participações) que obviamente vai envolver-se com o personagem de Tom Cruise, — mostrando a velha tese de que a rebeldia e o poder dão paixão (e tesão), no melhor dos sentidos — enquanto Ed Harris vai interpretar um icónico e arrogante oficial superior (General ou Almirante, não sei bem…) da Marinha dos EUA, que insiste em lembrar a Maverick (Cruise), que ele já está acabado como piloto de caças.
Há ainda um grupo de pilotos mais jovens interpretados por outras estrelas em ascensão como Miles Teller (‘Whiplash – Nos Limites’ ou ‘Quarteto Fantástico’), Monica Barbaro (da série ‘A Lei de Chicago’) e Lewis Pullman (da mini-série ‘Catch-22’ ou do filme ‘Sete Estranhos no El Royale’). Teller interpreta Galo, filho de ‘Goose’, o piloto que morreu no primeiro Top Gun. Kelly McGillis (a Charlie do primeiro filme) parece que decididamente não voltará e dá-se bem com isso: ‘Estou velha e gorda, e tenho a aparência apropriada para a minha idade, e isso não faz parte da indústria’, disse McGillis, que está agora com 62 anos. ‘Mas… prefiro sentir-me segura na minha própria pele, e quem sou na minha idade, do que colocar-me em todas as outras coisas’, concluiu. Concordo, com ela até pelas fotografias da actriz na actualidade. Porém, quem sabe que esse ainda possa ser um dos grandes ‘golpes’ publicitários do filme? Contudo, a grande questão relativamente ao elenco era…saber se Val Kilmer estaria de volta como Iceman? Também parece não haver dúvidas…
Val Kilmer tem sido bastante aberto em falar sobre o seu cancro na garganta. Aliás no documentário ‘Val’, disponível na Amazon Prime, junta vários excertos de videos caseiros e de filmes em que participou ao longo dos anos da sua vida em Hollywood. Teve a coragem de se abrir para o mundo durante um período vulnerável da sua vida, mostrando o seu caminho de galã de Hollywood até ao diagnóstico de cancro e, finalmente, de a luta de um sobrevivente, embora tenha perdido a voz. A sua falta, deixaria um vazio em ‘Top Gun: Maverick’, dado que Iceman foi um papel muito importante no filme original. Como Val Kilmer disse creio que no documentário, quase implorou aos produtores deste segundo filme, 36 anos depois, para para trazerem Iceman de volta. Tudo leva a supor que o personagem não estaria no argumento original. Porém, num dos últimos trailer, parece que Iceman está mesmo de regresso, numa ocasional reviravolta (ou num funeral?). Espera-se que seja em algo ou numa cena grandiosa e que sirva de uma espécie de homenagem ao enorme actor que foi Val Kilmer e que apesar de ter perdido a voz possa ainda ‘voar’, mesmo que seja baixinho.
Há outro bom motivo para ver-mos ‘Top Gun: Maverick’, chama-se: Jon Hamm (o galã e protagonista entre tantas outras coisas da série ‘Mad Men’). Além da sua participação marcada nos vários trailers, segundo o próprio Hamm, que diz uma coisa importante é que há quase zero efeitos-especiais CGI, no filme. Realmente os actores foram colocados no céu, dentro dos aviões e andaram mesmo de um lado para o outro e de cabeça para baixo. Provavelmente alguns daqueles olhares de tirar o fôlego, que vimos nos trailers e por baixo das máscaras de oxigénio dos pilotos de caças, são reais e os actores apanharam mesmo alguns ‘cagaços’. É por isso que, ‘Top Gun: Maverick’ é não só um filme que promete acção e grandes actores no elenco, como a propria direcção de fotografia aérea (do peruano Claudio Miranda, Óscar de Melhor Direcção de Fotografia 2012 por ‘A Vida de Pi’ será uma verdadeira estrela, no filme de Joseph Kosinski, famoso aliás por ser um especialista na utilização das técnicas de efeitos-especiais de computação gráfica (CGI), embora Jon Hamm, diga o contrário. Não será necessário, ver o primeiro filme ‘Top Gun-Ases Indomáveis’, mas provavelmente os novos espectadores não entenderão muito bem, o sub-texto completo entre Maverick e Rooster sem o ver; e sobretudo acompanhar como o pai de Rooster morreu. ‘Goose’, era um elemento muito importante no primeiro filme e ao que parece terá reflexo também neste, pelo menos na personalidade do Tenente Bradley (Teller).
VÊ TRAILER DE ‘TOP GUN: MAVERICK (2012)
Fora isso… ‘Top Gun: Maverick’ será mais uma sequela, em que vamos assistir a ‘autênticas’ batalhas e perigosas acrobacias aéreas no limite das capacidades técnicas do avião, assistir a aviões explodindo no ar e pilotos de caça arriscando-se por causa da muita adrenalina, se calhar e na realidade, sem necessidade, como já vimos até em outros filmes. Outras das novidades é que Lady Gaga acaba de lançar o seu novo single, ‘Hold My Hand’, retirado da banda-sonora de ‘Top Gun: Maverick’. ‘Hold My Hand’ foi escrito propositadamente para este filme e conta com produção adicional e música de Harold Faltermeyer e Hans Zimmer, o compositor várias vezes premiado nos Óscares. É também o regresso de Lady Gaga à escrita e produção de música original para cinema, depois do sucesso da banda sonora de A Star is Born (2018), que valeu a Gaga um Óscar, dois Grammys, um BAFTA Award, um Globo de Ouro e um Critics’ Choice Award.
Resumindo, o Top Gun de 2022 terá certamente boas interpretação, grandes estrelas, uma óptima direcção de fotografia, acção no céu, até dizer chega, algum ‘romance’ e uma excelente banda-sonora. Sobretudo foi feito para agradar de sobremaneira aos fans do primeiro filme! Para quem não viu o primeiro (esta ainda não vi, quando vos escrevo, vai ser no próximo domingo dia 15, só para alguns sortudos) deve antes assistir a ‘Top Gun-Ases Indomáveis (1986), disponível em DVD — há que tenha um exemplar bem velhinho como eu — ou na HBO Max, onde vai estar ‘Top Gun: Maverick’, certamente daqui a poucos meses. Apertem os cintos, pessoal e toca a voar até às salas de cinema, porque é um filme que decerto, merece ser visto em grande!
JVM