Tudo Vai Ficar Bem, em análise

 

No seu regresso ao cinema de ficção, Wim Wenders cria um inerte e entediante drama. Tudo Vai Ficar Bem brilha pelos seus coloridos visuais em 3D e pela sua delicada musicalidade, mas, para além dessa bela superfície, apenas existe um sufocante vazio.

 

Tudo Vai Ficar Bem Título Original: Every Thing Will Be Fine
Realizador: Wim Wenders
Elenco: James Franco, Charlotte Gainsbourg, Rachel McAdams
Género: Drama
Leopardo Filmes | 2015 | 118 min[starreviewmulti id=18 tpl=20 style=’oxygen_gif’ average_stars=’oxygen_gif’]

 

James Franco protagoniza Tudo Vai Ficar Bem, onde o ator interpreta Tomas Eldan, um sorumbático escritor que é assombrado pela morte de uma criança. O filme acompanha o seu protagonista ao longo de vários anos, desenvolvendo-se sobre os relacionamentos deste com várias figuras da sua vida, namoradas, afilhadas, seu pai e Kate (Charlotte Gainsbourg), a mãe da criança cuja morte Tomas causa no início do filme.

O guião de Bjørn Olaf Johannessen envolve o drama humano numa mistura corrosiva de sufocantes clichés. A figura central de Tomas é quase uma paródia da imagem trágica de um artista atormentado por crimes do passado, e as figuras femininas, apesar das suas primorosas intérpretes, nunca se manifestam como algo mais humano que simples mecanismos narrativos. Apenas Gainsbourg e Robert Naylor, como o filho mais novo de Kate, conseguem injetar alguma humanidade no vazio da narrativa. A atriz fá-lo ao telegrafar para a audiência o peso da tragédia de Kate, enquanto Naylor oferece um trabalho que, ao fugir à tentativa de subtileza, cria uma fogosa presença que vai avivando o entediante enredo.

Tudo Vai Ficar Bem

Wim Wenders aplica uma absoluta seriedade na sua abordagem à narrativa de Tudo Vai Ficar Bem, construindo uma experiência que nunca deixa de ser fatigante para o público. O filme peca pela sua sinceridade sombria, com a história a avançar ao ritmo de uma procissão fúnebre e povoada por personagens distantes e frias, onde a emoção que deveria guiar a tragédia humana nunca se manifesta de modo satisfatório.

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O autor alemão tem vindo a desenvolver o uso de 3D no cinema de intenções artísticas nos últimos anos, tendo utilizado esta inovação técnica para transformar o seu documentário sobre Pina Bausch num dos mais luxuriantes filmes sobre dança alguma vez criados. Em Tudo Vai Ficar Bem, o fracasso narrativo é compensado pelos maravilhosos visuais em três gloriosas dimensões. As imagens, no entanto, não primam apenas pela tridimensionalidade do cair da neve, reflexos em janelas, ou mesmo do movimento de um diáfano cortinado. Benoît Debie, o diretor de fotografia, pinta as paisagens outonais e invernais de Tudo Vai Ficar Bem com luxuriantes e intensas tonalidades cromáticas, criando algo que se assemelha a um filme de Douglas Sirk concretizado com toda a modernidade técnica do cinema atual.

Tudo Vai Ficar Bem

Numa linha mais abertamente classicista, a música de Alexandre Desplat confere ao filme uma delicada elegância sonora. As suas composições vão injetando no filme a emoção que o seu guião e elenco vão negando. Juntamente com a luminosa fotografia, a banda-sonora cria a impressão de um melodrama tecnicamente formidável, onde infelizmente os seres humanos envolvidos na trama padecem de uma apatia alienante que impede o filme de ser mais que um modesto triunfo formal.

Tudo Vai Ficar Bem

Tudo Vai Ficar Bem é uma criação inerte e desapontante, especialmente quando se toma em consideração a obra passada do seu célebre realizador. Wenders tem-se ultimamente revelado como um dos mais formidáveis autores de documentários da contemporaneidade, sendo que este filme foi um surpreendente retorno à ficção cinematográfica. Apesar do autor ter, no passado, criado obras narrativas tão gloriosas como Paris, Texas e As Asas do Desejo, face a este seu último esforço, parece que Wim Wenders se deveria restringir a documentários, por muito magnífica que a sua técnica formal continue a ser.

CA

 

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