We’re Here | Entrevista com a drag queen Shangela

“We’re Here”, o programa de reality TV que acompanha as aventuras de Shangela, Bob the Drag Queen e Eureka, três drag queens famosíssimas, à medida que estas transformam vidas no interior profundo dos Estados Unidos da América, está de regresso à HBO Portugal para a sua segunda temporada.

Com os novos episódios já disponíveis, divulgamos uma entrevista disponibilizada pela própria HBO, onde Shangela Laquifa Wadley (ou simplesmente) Shangela deixa algumas indicações sobre o que poderemos esperar neste segundo ano!

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Shangela – Parabéns por “We’re Here”, deves estar muito orgulhosa do sucesso da série?

Estou tão entusiasmada. Esta série é verdadeiramente a concretização dos meus sonhos mais loucos. De ter crescido num cidade pequena para agora poder ter uma série que realce a experiência queer e ajude pessoas em pequenas cidades por toda a América, é um verdadeiro presente. E porque eu, Bob e a Eureka, todas crescemos em pequenas cidades na América, compreendemos o que é ter a experiência de ter uma vida excêntrica
numa pequena cidade, e penso que tal permite-nos a conexão necessária para sermos capazes de trabalhar com as pessoas neste programa. E isso confere também uma maior autenticidade, e reforça a mensagem ainda mais.

Alguma vez traz de volta memórias do teu crescimento que possas ter reprimido?

Há definitivamente uma grande familiaridade com muitas das questões, desafios e experiências que muitas das crianças com quem trabalhamos neste programa estão a passar. E sim, as situações podem ser muito evocativas de certa forma, mas penso que pode ser tão terapêutico. Não só para as pessoas com que estamos a trabalhar, mas também para nós. Lembro-me de na primeira temporada estar em Gettysburg, numa loja de chapéus, em drag, e a falar com a proprietária, e ela era super simpática, e depois ouvimos alguém entrar na loja e sair, e depois voltar e dizer: ‘Não volto a fazer compras aqui nunca mais, porque deixou entrar aqui todo o tipo de aberrações! ‘E todas nós ficámos atordoadas. Eu lembro-me de olhar para a Bob e Eureka e dizer: “Será que isto acabou de acontecer? Será que acabou de acontecer? Mas é uma recordação de que não importa quão célebre nos tornemos ou até onde possamos chegar no mundo, ainda há pessoas que não aceitam a comunidade LGBTI+, que são muito homofóbicas e discriminatórias, e elas existem. E ainda que possamos não lidar com isso diariamente, as pessoas que vivem nestes espaços – muitas vezes mais conservadores – lidam com isto por vezes no dia-a-dia.

We're Here Shangela HBO Portugal
©HBO Portugal

 

E é por isso que é tão importante ter este tipo de programa – faz-nos recordar. Eu digo que é um gatilho mas é também um lembrete da importância de ter uma série como esta, que amplifica as vozes queer que vivem nessas comunidades, mas talvez não tenham um um lugar para congregar, onde possam construir um sentido de comunidade para apoio. Para aqueles que se sentem sós e isolados.

Recordamos a importância da comunidade, para que possamos celebrar, apoiar-nos e elevar-nos uns aos outros quando há muitas pessoas por aí que não nos celebram. Apesar de parecer que assim é. Trabalhando na televisão, fico tão feliz por ver que há uma maior visibilidade da cultura queer, ou heróis queer lá fora. Mas, ao mesmo tempo, ainda há muitos homofóbicos, ainda há muita discriminação contra a comunidade queer. Especialmente na América. E é por isso que o nosso programa é válido, e é por isso que sentimos que isto é tão necessário, e nos sentimos tão gratos.

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E estamos a ver desaparecer nos últimos anos muitos espaços gays importantes…

Porque muitos de nós vivemos num mundo tão social, e tantas pessoas estão ligadas num mundo de forma social – com Instagram, Twitter Facebook, TikTok, tantas coisas diferentes, que nos esquecemos da importância de poder estar realmente juntos e aprender uns com os outros, e celebrar juntos. É por isso que o Pride é tão importante e nós mantemos o Orgulho Gay e lembramo-nos da importância de estarmos juntos e especialmente depois de termos atravessado uma pandemia e ainda estarmos a vivê-la em muitos lugares, onde nos foi exigido que tivéssemos distância social um do outro, e não nos podemos tocar, ou abraçar, ou mesmo estar juntos, e dançar o “Chromatica” da Lady Gaga ou apenas fazer coisas gays e celebrar quem somos como gays, juntos. Espero que seja isso que este programa traga de volta, uma sensação de que somos capazes de estarmos juntos.

 

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Bob, Shangela e Eureka fora de drag em “We’re Here” |©HBO Portugal

 

“We’re Here” foi nomeado para um Primetime Emmy, um prémio TCA, um Independent Spirit e venceu um prémio GLAAD Media. Compensa a coroa que muitos pensavam que deverias ter ganho na terceira temporada de RuPaul’s Drag Race All Stars?

Bem, sabes que mais, “We’re Here” é apenas mais um tipo de coroa, suponho eu. Além disso, em Drag Race, Shangela nunca ganhou a coroa, mas sempre me apresentei me senti como uma rainha. Não é preciso ter uma coroa para se ser rainha. E é isso que este programa também me recordou. É apenas mais um momento fantástico para mim na minha carreira e que faz todo o sentido para mim. É isto que eu quero na minha vida, não preciso de uma coroa. Aprendi a caminhar em frente de cabeça erguida, sempre. Olha para o meu cabelo, querida, só isso já é uma coroa! Esta dá-me realmente um sentido propósito superior. Na vida e na minha carreira, aprendi que quero poder ter um maior impacto na nossa comunidade gay.

Tive tantas pessoas que admirei e que me inspiraram ao longo do meu caminho e estou entusiasmada por fazer parte da inspiração. Para outras pessoas, saber que se pode estar fora do armário, orgulhoso, uma drag queen, pode-se ser negro na América, pode-se andar altivamente e ir lá fora e fazer o bem no mundo. Os prémios são óptimos, porque o reconhecimento só faz com que o nosso nome seja ainda mais conhecido, o que é muito fixe. Há muitas pessoas fantásticas que trabalham no mundo do espectáculo e fazem a magia acontecer e merecem ser reconhecidas, o que sabe sempre bem. Mas é apenas um bónus para mim. O facto de termos um programa que destaca a cultura queer na América, que nem sempre tem esse destaque, é realmente o prémio para mim.

Shangela eureka bob the drag queen
O trio em drag |©HBO Portugal

 

Aqui consegues mostrar um lado mais suave da Shangela – que os fãs têm conhecido como uma personagem engraçada e animada. É refrescante para ti?

Sim, penso que ao ser uma entertainer drag, uma grande parte da minha carreira tem sido divertida. E continuo a ser isso em “We’re Here”, sou a Shangela, engraçada, animada, e está tudo lá, até porque temos performances no programa e eu adoro entreter.

Mas uma outra vertente da série permite-me mostrar o coração da Shangela e ser realmente capaz de me ligar às pessoas a um nível emocional. Aliás, nunca esperei ser tão impactada emocionalmente ao trabalhar nesta série em particular. E isto porque temos de ser completamente honestas para estabelecermos uma ligação com os nossos participantes.

É preciso ser completamente aberta, honesta e vulnerável, de modo a que eles também o sejam. Sinto que com Drag Race, é lindo, é drag, é espantoso, e também se retira emoção, mas dentro da workroom. Isto tira a experiência e realça como é ser gay fora da pista de dança, da passadeira e da sala de trabalho. Aqui temos pessoas reais, a vida real e histórias reais.

Achas difícil lidar com algumas das questões emocionais que surgem em “We’re Here”?

Não me custa nada lidar com questões emocionais sensíveis porque a vida é assim. E por detrás de todo o drag, sou uma pessoa real, sei o que é passar pela vida e enfrentar desafios, sei o que é ser discriminado ou ter um compromisso com a tua família e querer agradar a todos, assim como ser quem tu és. Sou o DJ, tal como sou a Shangela, e fiz uma viagem muito longa na minha vida para ser a pessoa que sou hoje, por isso estou muito entusiasmada por poder partilhar isso com outras pessoas, mas também por ainda aprender com outras pessoas e com as suas experiências, e partilhar como passei os momentos mais difíceis da minha viagem.

Shangela "We're Here" HBO
Shangela na segunda temporada da série |©HBO

 

Há algum momento em destaque que te faça explodir de orgulho de “We’re Here”?

Meu Deus, cada episódio! E é realmente com o trabalho com a minha nova família de drag, as minhas filhas drag, porque elas – em muito pouco tempo – filmamos em cerca de uma semana, somos capazes de construir relações reais. Estas são as pessoas com quem ainda hoje me mantenho em contacto. Chamam-me “Mãe Drag”, porque sou mesmo. Não tenho filhos verdadeiros no mundo, como se pode ver. Talvez precisemos de fazer alguns testes de ADN! Não tenho filhos verdadeiros, mas sinto-me como uma mãe verdadeira para todas estas crianças que “dei à luz” por toda a América, porque me ligo tanto à sua viagem – e vejo o seu empenho e coração no final do episódio. Sou uma mãe orgulhosa, rebento de alegria.

A primeira temporada foi espantosa e agora a segunda, temos um grupo inteiramente novo de pessoas com quem trabalhámos. Se acham que a primeira temporada foi espantosa, a segunda temporada vai rebentar-vos com a cabeça, e quero mesmo dizer que, nem sei como a contive. E Shangie – sou uma trabalhadora esforçada, uma CEO, a chefe, é assim que me trato, e não sou uma pessoa super chorona, mas há certos momentos que simplesmente me levam às lágrimas quando não tenho a capacidade de me limitar a berrar. Por isso digo a todos vocês, preparem-se para celebrar com a segunda temporada e lembrem-se de trazer o lenço de papel porque vos vai tocar!

Há lugares onde tenhas ficado surpreendida por ser reconhecida como Shangela?

Estou tão grata por ter uma ligação com tantas pessoas em todo o mundo, incluindo o Reino Unido. Para mim um dos sítios onde me é mais estranho ser reconhecida é na minha cidade-natal de Paris, Texas. Estive lá este fim-de-semana com a minha avó, para a ajudar (ela está a recuperar da segunda dose de Moderna), e ela está a correr muito bem.

Levei a minha tia ao seu jantar de aniversário no Chilli’s, um restaurante local em Paris, Texas. Entramos pela porta e eles dizem, “olá, vai ser uma espera de cerca de 15/20 minutos, ok? E depois a rapariga vem de trás e diz: ‘Shangela?’ ‘Sim…?’. E ela diz: ‘oh meu Deus, eu amo-te tanto, vocês não têm de esperar, vou-te sentar agora mesmo! Noutro momento estamos no Chilli’s, a almoçar, e estas duas senhoras – e é sempre interessante para mim, a demografia dos fãs da Shangela. Vai de crianças a adolescentes, a adultos seniores muito mais maduros, por vezes amigos da minha avó. E estas duas senhoras, estas duas idosas de cabelo azul, disseram: “Desculpe incomodá-la, Shangela, somos grandes fãs, podemos tirar uma fotografia? E eu penso, agora estas duas parecem-se com as senhoras locais que vão ao almoço da igreja! É tão surpreendente para mim.

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Bob e Shangela com o participante Bruno |©HBO Portugal

O que mais te surpreendeu ao trabalhar com a Bob e a Eureka?

Tínhamos trabalhado juntas antes e eu conheci-as desde que começaram a sua viagem em Drag Race, e eu conhecia a Bob antes da Drag Race. E agora que estamos todas juntas nesta irmandade, é muito fixe porque mais ninguém sabe tudo o que passámos a não ser que estivessem lá. E estou tão grata por poder partilhar isto com a Bob e a Eureka. Aprendi tanto sobre elas com esta série, o quanto ambas têm um enorme coração. Antes conhecia-as apenas como artistas, e agora conheça-os mais como irmãs, amigos, co-apresentadores e apenas como família. Têm corações espantosos, ambas. Estou encantada por estar na série com elas.

Há mais alguma Drag Queen que gostarias de ver em destaque na série?

Querida, estou sempre a convidar as raparigas para virem connosco. Porque é tão fixe, poder ter uma oportunidade fantástica como esta, e por isso queres partilhá-la com todos. A pessoa número um que me vem à cabeça é a minha mãe Drag – Alyssa Edwards. Penso que ela é uma grande professora, educadora e motivadora, especialmente com o seu estúdio de dança “Beyond Belief” no Texas.

Se pudesses escolher qualquer celebridade para colocar em Drag, quem escolheria?

Seria a Ariana Grande. É claro que ela é uma incrível estrela pop e eu tenho conseguido trabalhar com ela. Fiz a sua introdução no álbum “Thank U Next” para a canção “Nasa”, e ela é uma espécie de drag queen, e eu adoro isso. E eu adoraria levá-la lá com as pestanas, e o cabelo maior, e as ancas, colocar-lhe enchimento e tudo isso, e deixá-la sentir tudo ao limite. Ela já tem os saltos de plataforma, queria dar-lhe o glamour!

Tens algum conselho para alguém com nervosismo em relação a estar em drag pela primeira vez?

As drag queens perguntam-me isso constantemente porque me viram crescer a olhos vistos em Drag Race. Cheguei como uma bebé mal arranjada na temporada dois, mas não podiam dizer-me que não ia ganhar porque no meu coração achava que era a melhor. Eu digo sempre “fá-lo porque estás pronto para te divertir”.

O drag não precisa de ser levado assim tão a sério, não ao ponto de não te divertires a fazê-lo. É uma forma de desafiar todas as restrições e estereótipos da vida, a forma de apresentação esperada. Sejas uma queen repleta de glamour, campy, ou simplesmente desajustada, o importante é que te divirtas!

 

WE’RE HERE | JÁ EM EXIBIÇÃO NA HBO PORTUGAL 

 

“We’re Here” estreou, a 19 de outubro de 2021, a sua segunda temporada na HBO Portugal. Bob the Drag Queen, Eureka e Shangela prometem mudar o mundo, uma pequena cidade de cada vez!

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