Slowdive no Paredes de Coura 2018 (foto de Margarida Ribeiro)

5 Melhores Concertos do Vodafone Paredes de Coura 2018

O Vodafone Paredes de Coura 2018 foi, como se esperava, um grande festival. Mas que concertos ficariam para a história (pelo menos a nossa) seria sempre imprevisível. Eis o melhor da edição deste ano.

Na 26ª edição do Vodafone Paredes de Coura não faltaram bandas e cantautores de peso, um cartaz que prometia vir a ser este um dos melhores festivais portugueses do ano. Mas promessa não é cumprimento, e é da natureza de todo o acontecimento artístico que não possa ser derivado necessariamente de um algoritmo. Neste campo, quando uma coisa tem tudo para correr bem, o mais provável é que corra. Afinal estamos a falar de técnica e profissionais.

Ainda assim, pode ficar aquém do esperado, pode mesmo correr mal ou não correr de todo. De facto, não faltaram incidentes e não há dúvida de que tais incidentes prejudicaram os concertos que deles foram vítimas, mesmo se os contratempos foram superados com maior ou menor elegância, consoante o talento e os recursos pessoais de cada artista. Por outro lado, quem pode adivinhar aquele irredutível “qualquer coisa mais” que a pessoa, ou a pessoa no instante onde tudo se joga, acrescenta ao técnico em si? Nem o artista pode, quanto mais nós. Arte e história não são ciências da natureza, e chegou a altura – a única possível – de fazer a breve crónica do que mais nos impressionou no Vodafone Paredes de Coura 2018.

Lucy Dacus, Slowdive entre outros no Vodafone Paredes de Coura 2018
Lucy Dacus (© Margarida Ribeiro)

# 5 Vodafone Paredes de Coura 2018 | Lucy Dacus

É verdade, é o Kevin Morby a aproveitar, tal como nós, um dos melhores concertos do Vodafone Paredes de Coura 2018. O mesmo que fez Conrad Keely, vocalista e guitarrista dos …And You Will Know Us By The Trail Of Dead, passar e perguntar quem estava a cantar no palco. Sem ser uma ilustre desconhecida nos meios críticos, ou de algum público que cantava a plenos pulmões as letras das canções de Historian, Lucy Dacus está longe de habitar, contudo, as luzes da ribalta (como o atesta a falta delas, alinhada como foi para tocar às 18h30). Não precisava delas, vinham todas do seu rosto aberto e amável, espantado com a estima que lhe demonstravam, e do diálogo descontraído que mantinha com o público. Vinham da controlada dinâmica de silêncio-ruído da sua guitarra. Vinham, sobretudo, das suas letras cantadas com verdade, cada vez mais verdade. Foi cedo, foi curto, foi de pedir por mais e para breve.




Linda Martini@Paredes de Coura 2018
Linda Martini (© Margarida Ribeiro)

# 4 Vodafone Paredes de Coura 2018 | Linda Martini

Abandono crescente à música e ao público foi a história dos Linda Martini neste concerto que se alonga, indelével, na nossa memória. Se o ataque foi cerrado desde o primeiro instante, a entrega de cada membro à banda, da banda às canções e das canções ao público foi aumentando em intensidade até ao final feliz. Os Linda Martini saíram do palco, abraçados uns aos outros, numa amizade que a música e a história conjuntas trouxeram consigo, e aplaudidos por um público que, levado pela força desta performance ao vivo, para ela contribuiu cantado, em uníssono com a banda, os refrães hínicos em que os Linda Martini exprimem o seu exasperado desejo. Foi um espectáculo de pós-rock visceral, ligado ainda por infinitos fios invisíveis à atitude e sonoridade punk hardcore, o que esteve plenamente em exibição neste concerto português inesquecível. No topo, entre os melhores do mundo. Como deve ser.




Arcade Fire no Vodafone Paredes de Coura 2018
Arcade Fire (© Margarida Ribeiro)

# 3 Vodafone Paredes de Coura 2018 | Arcade Fire

É certo que ninguém dá um espectáculo como os Arcade Fire, mesmo se não é certo espectáculo do quê. As canções disco e pop retiradas dos dois últimos discos corroíam a identidade original rock da banda, que “Rebellion (Lies), “Ready to Start” e “Wake Up” trouxeram ao de cima. Estes últimos foram os temas que mais levaram a multidão a saltar, como uma única massa ondulante, e a gritar, de entusiasmo ou saudade. Mas é também verdade (admitindo tratar-se isto de um elogio) que o público ao nosso redor sabia de cor toda a letra de “Everything Now” e “Put Your Money On Me”. Pop ou rock, é inegável que o concerto foi apoteótico, com a tribo de Win Butler a dar tudo de si, em alma e virtuosismo, às canções novas ou velhas e ao público que as recebia de braços no ar e luzes ao alto. Um espectáculo, entre o infinitamente grande das bandas de estádio e o infinitamente pequeno do do it yourself de Win Butler e Régine Chassagne, capaz de cativar até os mais renitentes.




Fleet Foxes no Vodafone Paredes de Coura
Fleet Foxes (© Margarida Ribeiro)

#2 Vodafone Paredes de Coura 2018 | Fleet Foxes

Desde que estão de volta, os Fleet Foxes não deixaram de conquistar novos fãs, como a idade do público à nossa volta, lá à frente, atestava. Público que cantava de cor, palavra por palavra, as letras etéreas, abstractas, fugidias de Robin Pecknold. E não só da “Mykonos” ou “White Winter Hymnal”, mas também de “Third of May / Odaigahara”. Como em todo o grande concerto de música indie, o herói foram as canções e o artista, mas só enquanto revelado por elas. Não houve senão os gestos necessários para encher o Vodafone Paredes de Coura 2018 da frágil força desta música – frágil a ponto de poder nunca mais ser ouvida – e atender a pedidos do público por fragmentos físicos do espírito de onde vinha. Destilada até à sua essência, a música dos Fleet Foxes brilhava transcendente nas suas melodias em permanente ascensão e ritmo eufórico, numa celebração de vida que nos aquece até agora.




Slowdive no Vodafone Paredes de Coura
Slowdive (© Margarida Ribeiro)

#1 Vodafone Paredes de Coura 2018 | Slowdive

Era previsível? Talvez. Os Slowdive são uma banda magnífica, a todos os níveis, e ainda não pararam de conquistar o primeiro lugar em tudo, aqui na MHD. Mesmo assim, não houve nada de previsível no concerto que a banda britânica deu no Vodafone Paredes de Coura 2018. Maravilhou-nos instante após instante, enquanto assistíamos ao surgir inexplicável daquela música. “Mas donde é que isto veio?” era a pergunta que latejava dentro do gozo que as canções nos davam, num sinal inconfundível da presença do génio. A química da banda, que os anos não destruíram nem sequer corroeram, o diálogo instrumental que abria um rasgo no espaço-tempo, permitindo um vislumbre do outro mundo, a harmonia das vozes feminina e masculina de Rachel Goswell e Neil Halstead, o ritmo das luzes que, sincronizado com o das canções, lhes descobria novos matizes, tudo se fundia, sem atrito, numa única experiência de enlevo. Bela e sublime, esta é a música da modernidade, dando voz ao seu desejo e paz à sua procura.

Não foi fácil vencer a tentação de alargar a lista ou inventar empates para poder incluir outras grandes preferências. Os Shame fizeram das tripas coração para nos dar a sua versão de “that’s entertainment!”. Os …And You Will Know Us By the Trail Of Dead mostraram-nos uma atitude hardcore que não conhece compromissos, nem o da idade. Os Big Thief, na pessoa de Adrianne Lenker, provaram que confessional e punk podem ser uma e a mesma coisa. Todos estes concertos nos transportaram, todos eles merecem uma menção honrosa, todos eles perdurarão intactos na memória. Tal e qual como o Vodafone Paredes de Coura 2018 no seu todo e os cinco concertos que aqui destacámos, em particular.

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