72º Festival de Cannes | Era uma vez os zombies…na abertura
A competição do 72º Festival de Cannes, vai abrir daqui a pouco, ao final da tarde de uma forma rara com uma comédia de zombies de Jim Jarmuch e com a obrigação de embargos à divulgação, muita segurança e várias alterações nos horários de projecções.
O 72º Festival de Cannes, e esta competição composta por 21 filmes, abre daqui a pouco (terça ao final da tarde) de uma forma algo inédita para todos os festivaleiros, com a sessão de imprensa e sessão oficial a realizarem-se mesma hora em salas diferentes: começam às 19h30 com a Cerimónia de Abertura Oficial no Grand Théâtre Lumière, e transmitida em directo para ali ao lado, para a Salle Debussy, onde vão concentrar-se os jornalistas e a crítica acreditada. Segue-se o filme de abertura ‘The Dead Don’t Die’, de Jim Jarmusch, uma comédia de zombies, e um acontecimento algo inédito numa abertura oficial de Cannes. No entanto, ‘The Dead Don’t Die’ tem um elenco fabuloso: Chloë Sevigny, Adam Driver, Tilda Swinton, Bill Murray, Steve Buscemi, Tom Waits, Danny Glover, Iggy Pop, que vai encher e animar logo no primeiro dia a passadeira vermelha. Não é muito habitual num festival que tem uma marca sempre muito ‘glamourosa’, ser um cineasta como Jim Jarmusch, uma espécie de rock star norte-americana a abrir com um filme de um género, que está geralmente remetido para as margens da cinéfila e da selecção de festivais generalistas como este: filme de terror, combinado com comédia. De qualquer modo Jarmuch é uma ‘descoberta da casa’, premiado várias vezes: ganhou Câmara de Ouro para uma primeira obra, ‘Stranger than Paradise’, em 1984), Palma de Ouro de Curta-Metragem, 1993, com ‘Coffee and Cigarettes: Somewhere in California’.

JURADOS SUPERSTARS
Cannes 72, vai também ser avaliada por um extraordinário grupo de jurados presididos pelo cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu, (‘Babel’ ou ‘O Regresso’) acompanhado de Elle Fanning, atriz norte-americana de ‘O Estranho que Nós Amamos’ e ‘Super 8’; Maimouna N’Diaye, atriz e realizadora do Burkina Fasso, conhecida pelo filme ‘O Olho do Furacão’; Kelly Reichardt, realizadora norte-americana de ‘Wendy & Lucy’; Alice Rohrwacher, realizadora italiana de ‘Feliz Com Lazzaro; Enki Bilal, autor francês de banda desenhada e realizador de ‘Bunker Palace Hotel’; Robin Campillo, realizador francês de ‘120 Batimentos por Minuto’; Yorgos Lanthimos, realizador grego de ‘A Favorita’ e ‘A Lagosta’, e Pawel Pawlikowski, realizador polaco de ‘Ida’ e ‘Cold Tar-Guerra Fria’.

REALIZADORES DA CASA
Esta edição está efectivamente marcada precisamente pela ‘guerra fria’, com a Netflix; e procura concorrer com o Festival de Veneza, que tem acolhido não só os filmes da plataforma de streaming como igualmente muitos dos potenciais vencedores dos Óscares dos últimos anos. Cannes dá o seu ‘grito do ipiranga’ trazendo à competição 2019, um grupo de cineastas ‘pesos-pesados’, que fazem parte da história das 72 Selecções Oficiais de Cannes e das suas Palmas de Ouro: Pedro Almodóvar, os Irmãos Dardenne, Ken Loach Xavier Dolan, Terrence Mallick, Elia Suleiman…e claro Quentin Tarantino.
ERA UMA VEZ….TARANTINO
Terminado o suspense dos dias posteriores à conferência de imprensa que anunciou a programação principal deste ano, ‘Era uma vez… em Hollywood’, de Quentin Tarantino, que também já ganhou com ‘Cães Danados’ em 1992 a Palma de Ouro, está felizmente na competição, ainda ‘fresquinho’, saído praticamente da sala de montagem num rolo de 35mm, para um conjunto de sessões que promete salas a abarrotar. O mesmo praticamente aconteceu com o cineasta franco-tunisino Abdlellatif Kechiche, Palma de Ouro 2013 com o provocador ‘A Vida de Adèle’. Em 2017 não apresentou em Cannes, o seu ‘Mektoub My Love: Canto Um’, que foi para a competição de Veneza e regressa agora com outro filme desta trilogia, intitulado ‘Mektoub My Love: Intermezzo’. Será a hora deles e todos candidatos à Palma de Ouro 2019, num misto de veterania e juventude, de se afirmarem na maior montra do cinema mundial e que vamos acompanhar com todo entusiasmo. No entanto, imprensa e festivaleiros sentiram já uma segurança anti-terrorismo cada vez mais apertada nas entradas do Palácio dos Festivais e com forças de intervenção a circularem pela Croisette; relativamente aos embargos de divulgação e crítica dos filmes da competição tal como ano passado houve a preocupação do Festival de Cannes, em limitar e com uma certa razão a publicação apenas depois da sessão oficial: a imprensa assinou mesmo um termo de responsabilidade, e resultou que os horários das sessões de imprensa foram completamente alterados, o que à partida parecem estar a criar alguma apreensão nos jornalista acreditados, que já estavam habituados a uma certas rotinas há muitos anos.

POLÉMICA CONTRA ALAN DELON
Um Festival de Cannes não pode começar sem haver uma qualquer pequena ou grande polémica, para animar as hostes informativas. Este ano anda a circular na internet uma petição contra a Palma de Ouro de Carreira para Alain Delon onde já constam ao que parece 18.000 assinaturas. Estes activistas procuram denunciar as atitudes de homofobia, misoginia e racismo de Alain Delon ao longo da sua vida. Thierry Frémaux, o director geral do Festival de Cannes já veio a público defender a liberdade de expressão e a questão da diferença geracional do actor em relação os activistas, insurgindo-se igualmente contra uma espécie de excessos do politicamente correcto e de uma espécie de policia política do pensamento.
José Vieira Mendes