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75º Festival de Cannes | ‘Les bonne étoiles’

Quatro anos após a Palma de Ouro por ‘Spotlifters-Uma Família de Pequenos Ladrões’, o japonês Hirokazu Kore-Eda retorna a Cannes com ‘Les bonne étoiles’, um thriller familiar sobre o abandono e à adopção, passado na Coreia do Sul. 

‘Les bonne étoiles’ (‘Broker’) ou dois homens e um bebé, é o oitavo filme na Seleção e sexto na Competição Oficial de Cannes para o japonês Hirokazu Kore-eda, um vencedor merecido da Palma de Ouro 2018, pelo drama familiar ‘Spotlifters-Uma Família de Pequenos Ladrões’, que foi aliás um grande sucesso de bilheteira para um filme independente. Com ‘Les bonne étoiles’ (‘Broker’) este auto-proclamado herdeiro do cinema de Yasujirō Ozu e de Ken Loach, volta à questão familiar, aproveitando agora para abordar o tema do abandono de crianças, considerado até há pouco algo raro, na Coreia do Sul, — ou antes camuflado — como aliás a questão da lei da adopção. Para explorar ainda mais esse fenómeno crescente desde o endurecimento da lei de adoção coreana, que exige que mães solteiras divulguem sua identidade, o realizador voou para a Coreia do Sul, antes de começar o seu filme.

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‘Les bonne étoiles’ é aliás filmado em coreano, com actores conhecidos e de culto como Song Kang-ho, — membro do júri o ano passado — a estrela de ‘Snowpiercer’, ‘Transperceneige’ (2013) e ‘Parasitas’ ( Palma de Ouro, 2019); ou Bae Doo-na, a atriz dos filmes de Park Chan-wook ou das Irmãs Wachowski. Em ‘Les bonne étoiles’, novamente o trágico convive de perto, com a graça, como na vida real ou no cinema e como quase sempre na obra deste virtuoso realizador japonês.

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No entanto, esse fato de a sociedade coreana, demonstrar uma deriva em relação à ação social, serve como ponto de partida para este filme, abre precisamente, sob os auspícios de um thriller de investigação de identidade e depois em segundo plano um crime passional: Numa noite chuvosa, uma jovem abandona misteriosamente, o seu bebé à porta de uma igreja metodista, numa calçada de Busan. O bebé é recolhido ilegalmente por dois homens, determinados a encontrar-lhe uma nova família a troco de uma avultada quantia. Durante uma inusitada e inesperada viagem pelo país, ou aliás várias tentativas para consumar o ‘negócio’, o destino de quem conhece esta criança, será profundamente alterado e complicado.

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Sempre cáustico e delicado, Kore-Eda Hirokazu oferece-nos mais uma visão diferente sobre a família, mas também um mosaico sobre a infância e solidariedade entre irmãos, de sangue ou não, temas aliás já abordados nos seus filmes anteriores. Em ‘Les bonne étoiles’ o realizador volta a pegar no seu tema favorito, mas trazendo-o agora desde o berço, com a exploração desse fenómeno das baby boxes, uma espécie de casulos seguros, dedicados ao abandono de bebés, o primeiro dos quais nasceu em Seul em 2010, por iniciativa precisamente de um pastor metodista. Mais uma vez também Hirokazu Kore-eda, faz uma profunda imersão numa unidade familiar disfuncional, atípica, mas também muito normal ao nível dos afectos, dependendo da percepção e do ponto de vista, já que o amor ganha-se muito mais com o coração do que por vezes, com os laços familiares.

JVM, em Cannes

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