© Biennale di Venezia

80º Festival de Veneza | ‘Poor Things’: Emma Stone, ‘enfarda’ pastéis de nata

Mais um dia de Competição com destaque para ‘Poor Things’, do grego Yorgos Lanthimos (‘A Favorita’) novamente com Emma Stone, desta vez numa fantasia científica e surrealista, que descobre uma Lisboa surrealista de papel, o prazer dos pastéis de nata e um fado da Carminho.

Depois de o grande sucesso internacional de A Favorita, (Grande Prémio do Júri de Veneza, 2018), o grego Yorgos Lanthimos traz-nos agora ’Poor Things’, uma espécie de variante do mito de Frankenstein, com Emma Stone no papel da criatura e Willem Dafoe, no médico que a criou. O filme, em jeito de fantasia surrealista, conta a incrível história e a evolução fantástica de Bella Baxter (Stone), uma jovem trazida de volta à vida, pelo brilhante e pouco ortodoxo cientista Dr. Godwin Baxter (Dafoe). Porém, sob a proteção de God, Bella fica ansiosa por aprender tudo sobre o mundo, fora do laboratório científico onde foi criada e da casa onde vive. Bella decide então fugir com Duncan Wedderburn (Mark Ruffalo), um advogado astuto e libertino, numa aventura turbulenta pelos vários continentes e cidades do mundo, passando por uma Lisboa surreal, cenografada e com o rio em fundo, as ruas estreitas, a calçada portuguesa e as ruínas do Convento do Carmo. É aí que a criatura vai-se empanturrar de pasteis de nata, ao som de um fado da Carminho e desta forma livrar-se dos preconceitos da sua época, em meados do século XIX.

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Poor Things
‘Poor Things’ © Biennale di Venezia.




A partir daí, Bella cresce como mulher, firme no seu propósito de defender a igualdade e a sua liberdade sexual. O filme é uma releitura feminina do clássico tema de Frankenstein e baseado no romance ‘Poor Things’ do autor escocês Alasdair Gray. Mas parte também da ideia de ‘uma mulher que viveu duas vezes’, de um recomeço fora das normas: uma bela criatura, quer recomeçar a viver, com o seu belo corpo — e não monstruoso — e experimentar tudo e todas as sensações, como se fosse a primeira vez. Tentando a mesmo tempo entender e aprofundar a sua sexualidade, o seu poder de escolha e sobretudo a sua capacidade de decidir e viver de acordo com suas próprias regras e não com as que a sociedade lhe impõe. Em ‘Poor Things’, a actriz Emma Stone, é brilhante — nesta sua segunda colaboração com Yorgos Lanthimos, depois de ‘A Favorita’ — e tudo o que faz parece quase instintivo — mesmo a comer os pasteis de nata — na criação da sua bela criatura, protagonizando, algumas cenas das mais sensuais até agora, desta Veneza 80. 

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VÊ TRAILER DE ‘POOR THINGS’




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Igualmente na Competição, o italiano Saverio Costanzo, regressou ao Lido de Veneza, com ‘Finalmente L’Alba’, uma visão cruel da Cinecittà dos anos 1950, quando se chamava ‘Hollywood no Tibre’ e se produziam muitos peplum: filmes de romanos, um subgénero da altura. Trata-se de uma uma história de aspirações frustradas e sobre um frágil equilíbrio juvenil, sobre uma noite em que uma rapariga de um bairro pobre de Roma, que se transformará rapidamente em mulher. É um relato da viagem noturna da jovem Mimosa (Rebecca Antonaci) e que a jovem jamais esquecerá e que passou no meio do controverso mundo das estrelas e dos famosos. Mimosa é uma rapariga simples, uma jovem candidata a figurante, que aceita um glamoroso convite de um grupo de actores americanos, para passar com eles uma noite interminável, numa festa particular. Ao amanhecer, Mimosa, sairá transformada, descobrindo que a coragem não consiste apenas em atender às expectativas dos outros, mas antes em descobrir a sua verdadeira identidade, fora desse terrível mundo do show bussiness. Também em Competição, passou ontem à noite ‘Bastarden’ (‘A Terra Prometida’), de Nikolaj Arcel (o realizador de ‘Royal Affair’), um drama histórico sombrio, passado na quase feudal e pobre Dinamarca, do século XVIII. Como protagonista, o perturbador e talentoso Mads Mikkelsen, que por si só vale todo o filme clássico e bastante convencional. Fora da corrida aos prémios, mas livre na sua imaginação muito particular, o visionário Wes Anderson, apresentou ‘A Maravilhosa História de Henry Sugar’, que depois de ‘Fantástico Mr. Fox’ regressa ao universo do escritor inglês Roald Dahl, com uma curta-metragem de 40 minutos composta por uma coleção de histórias, num jogo quase infantil e como sempre plasticamente muito bem construído, interpretado por Ralph Fiennes, Benedict Cumberbatch, Del Patel, Ben Kingsley e Richard Ayoade.

JVM, em Veneza

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