© Biennale di Venezia

80º Festival de Veneza | Não há estrelas, mas há ‘Ferrari’!

Chegou hoje a concurso o muito aguardado ‘Ferrari’, de Michael Mann, com Adam Driver e Penélope Cruz e foi primeiro na grelha de partida do dia de hoje. Mas a ausência das estrelas dos filmes, começa a sentir-se na passadeira vermelha do Lido de Veneza. Isto, depois de ontem à noite vermos Margaret Thatcher transformada em mãe de Pinochet, no filme ‘El Conde’, do chileno Pablo Larraín.

Ferrari
O ex-piloto de automóveis Enzo Ferrari, transforma-se em construtor. | Foto no Domínio Público

‘Ferrari’, de Michael Mann baseado na biografia ‘Enzo Ferrari – The Man and the Machine’, de Brock Yates (Penguin Books, 2010), é o novo filme do realizador de verdadeiras obras-primas da história do cinema: o western de fronteira ‘O Último dos Moicanos’ (1992) e grandes filmes de acção como ‘Heat’ (1995), ‘The Insider’ (1999), ‘Collateral’ — apresentado na competição de Veneza 2006 — e ‘Public Enemy’ (2009) ou ‘Blackhat’ (2015). Há muito tempo que Michael Mann, entusiasta de automóveis e de velozes perseguições — ver pela sua filmografia — pensava fazer um filme biográfico sobre Enzo Ferrari e as suas máquinas vermelhas. As primeiras versões de um possível argumento, foram escritas há bastante tempo com o falecido Troy Kennedy-Martin (‘Um Golpe em Itália’) que morreu em 2009 e que aparece aliás no genérico, embora tivesse trabalhado, muito antes de publicada a biografia de Yates. O projecto foi sendo adiado, tal era a dificuldade em contar a história de uma vida tão preenchida de altos e baixos e muitas emoções. Contudo, este não é exactamente um filme biográfico, mas um relato concentrado num momento da vida de Enzo Ferrari, em 1957, quando a sua situação familiar e profissional se complica bastante, apesar do homem manter a sua aparente frieza e espirito de luta.

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Depois de muitas hesitações Adam Driver, volta a interpretar uma grande figura da História de Itália. © Biennale di Venezia

Mesmo assim, ‘Ferrari’, é um filme complexo, e como todos os filmes que metem questões de poder e prestígio, parece-se quase um drama shakespeariano contemporâneo ou como uma ópera italiana, mas bastante mais preciso e objectivo. O ex-piloto de automóveis de corrida Enzo Ferrari (Adam Driver), transformado então em construtor, leva a falência a empresa fundada dez anos antes, com a sua esposa Laura Dominica Garello (Penélope Cruz). Efectivamente, o casamento não andava bem devido à morte do seu filho Dino, falecido em 1956, com apenas 24 anos, devido a uma doença rara; bem como por causa do relacionamento extra-conjugal de Ferrari com Laura Lardi (Shailene Woodley), com quem teve o filho Piero. Assim, num contexto tão delicado, na esperança de salvar a sua fábrica mais focada em carros desportivos, Ferrari acha que só há uma coisa capaz de curar as suas últimas e dolorosas derrotas na vida: apostar tudo numa corrida automobilística que percorre 1.600 km em Itália, que mais tarde ficou famosa como, a Mille Miglia (Brescia-Roma-Brescia). Porém as coisas não correm tão bem como previa. Sobretudo por causa do acidente fatal, o rebentamento de um pneu do Ferrari 335 Sport Scagliettei, de Alfonso de Portago/Giuseppe Morandi, na aproximação da vila de Guidizzolo, que provocou a morte dos dois concorrentes e de nove espectadores, entre os quais cinco crianças. Por isso, o filme é bastante forte e não é aconselhável a espectadores mais sensíveis, especialmente por causa da forma espectacular como são retratadas as corridas, os acidentes em corrida ou os treinos dos pilotos.




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Porém o filme de Mann consegue, para além disso, mostrar as paixões, o fascínio, a sagacidade e inteligência de Enzo e por outro a devastação pela perda de um filho, em extraordinários momentos operáticos à italiana, com as emoções, a tragédia, a sua monumental aposta, a sua luta pela sobrevivência e a sua persistência em manter viva a sua ‘scuderia’ Ferrari. E tudo isto, coincidindo aproximadamente nesses quatro meses de 1957. Para interpretar, Enzo Ferrari, Mann havia pensado inicialmente em Christian Bale (‘Le Mans’66: O Duelo’) que foi posteriormente substituído por Hugh Jackman, antes de Adam Driver ser o escolhido e muito bem, depois de ter sido Maurizio Gucci, no recente filme de Ridley Scott, em outro dos grandes protagonistas da história italiana. Ao lado de Driver, além das duas mulheres da vida da Enzo Ferrari encarnadas por Penélope Cruz e Shailene Woodley, encontramos Patrick Dempsey (Derek “McDreamy” Shepherd de Anatomia de Grey) — piloto de automóveis grande entusiasta de corridas, fundador com ex-futebolista Alessandro Del Piero da equipa Dempsey Del Piero-Proton e duas vezes participante das 24 Horas de Le Mans — que interpreta o piloto Piero Taruffi, — vencedor dessa fatídica Mille Miglia, de 1957 — enquanto Jack O’Connell desempenha o papel de Peter Collins, que conduzia um Ferrari 335 S.

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Enzo Ferrari (Driver), faz tudo para salvar a sua ‘scuderia’. © Biennale di Venezia

‘El Conde’, do chileno Pablo Larraín (‘Spencer’), mais um repetente da Mostra de Veneza, apresentou uma estranha e absurda variação horror-grotesca da martirizada história do Chile com o ditador Augusto Pinochet, como filho de Margaret Tatcher e transformado em vampiro bebedor de batidos de sangue. Um filme louco, sem grande coisa para dizer. Pelo contrário, ’Dogman’, é um bom regresso de Luc Besson (‘Lucy’) ao seu ritmo típico adrenalínico e hiperbólico, ao estilo ‘Nikita’, com o retrato de um homem marginalizado — e quem melhor para o interpretar que o fabuloso e inquietante actor Caleb Landry Jones (‘Nitram’) — em comunicação estreita com os seus muitos cães, que ama mais do que os humanos. As dificuldades em superar uma grande dor e a vingança, emergem também de uma forma controlada e não demasiado violenta — a contrário da maioria dos filmes mexicanos — em ‘A Cielo Abierto’ (Orizzonti), um primeira obra de Mariana e Santiago Arriaga — filhos do argumentista e realizador Guillermo Arriaga — um road movie de crescimento de três adolescentes, entre o México e os EUA.

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JVM em Veneza

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