Robert de Niro em dose dupla de "The Alto Knights". ©Max

The Alto Knights – Análise

“The Alto Knights” marca o regresso de Barry Levinson (“Bugsy”) ao universo dos filmes de máfia, trazendo Robert De Niro num desafiador papel duplo como Frank Costello e Vito Genovese, dois dos mais notórios mafiosos de Nova Iorque dos anos 1950. Este é o mais recente filme de De Niro que não estreou nas salas em Portugal e que, apesar das críticas não muito favoráveis é já o mais vistos no streaming da Max. 

De Niro em dose dupla: uma experiência ousada

A decisão de Barry Levinson de escolher Robert De Niro para interpretar ambos os protagonistas de “The Alto Knights” é, sem dúvida, bastante ousada. Trata-se de uma história intensa sobre dois titãs do submundo do crime nova-iorquino, que transcenderam os títulos sensacionalistas dos jornais da época, para se tornarem autênticos retratos de poder e contradição.

Enquanto a performance de De Niro como Frank Costello destaca a diplomacia e um cínico controlo de emoções, além de uma certa doçura com a mulher (Debra Messing), a sua interpretação de Vito Genovese revela uma figura bastante mais impulsiva e agressiva. No entanto, essa escolha também levanta questões sobre a necessidade e eficácia de tal abordagem, especialmente considerando a vasta gama de talentos disponíveis, para interpretar esses papéis.

Realização e história: entre o clássico e o previsível

O cinema de gangsters, essa catedral de traições, charutos e fatos impecáveis, passou décadas a beber das mesmas fontes: Scorsese, Coppola, Leone. De Niro, claro, agora com os seus 81 anos, é um pilar deste templo, um ator que faz parte desse mundo, que que quase se transformou no seu próprio feudo cinematográfico. Levinson, consciente dessa herança, não foge a um diálogo com o passado, mas acaba por ficar na sombra e na dependência do ator.

Um filme como “The Alto Knights” não pode deixar-se cair em clichés, porque, na vida real, o quotidiano de um gangster deveria ser muito mais diversificado do que aquilo que nos é repetidamente mostrado. É mesmo preciso fazer um certo esforço para aderir ao fetichismo do poder e optar por uma análise quase clínica da dinâmica interna da máfia. Levinson opta por uma narrativa que efetivamente tenta homenagear os clássicos do género (inclusive os seus próprios filmes, como “Bugsy” (1991), que juntou Warren Beatty e Annette Bening), utilizando flashbacks e uma estética que remete para esses filmes de máfia das décadas passadas. Apesar disso, “The Alto Knights” carece de uma certa inovação, apresentando uma história que, embora baseada em factos reais, não consegue destacar-se em relação a tantas outras produções semelhantes.

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Robert De Niro, diferencia claramente os dois personagens mafiosos. ©Max

Argumento de Pileggi: uma repetição de fórmulas?

O argumentista Nicholas Pileggi, conhecido pelo seu trabalho em obras-primas do género (“Casino” e “Tudo Bons Rapazes”, de Martin Scorsese, também ambos com Robert De Niro), concebeu um argumento que, embora tecnicamente competente, não oferece novidades significativas em relação aos seus escritos anteriores. Apesar do seu grande magnetismo, já vimos De Niro fazer aquilo várias vezes, incluindo como Al Capone, no extraordinário “Os Intocáveis” (1987) de Brian De Palma, com um elenco fabuloso que ia de Sean Connery a Kevin Costner. Aqui, em “The Alto Knights”, a história da turbulenta amizade e rivalidade entre Costello e Genovese é contada de uma maneira muito linear, sem grandes surpresas ou reviravoltas.

The Alto Knights
Um sóbrio regresso de Debra Messing, como mulher do mafioso. ©Max

Produção e ambientes: um retrato fiel da época

De qualquer modo, a ambientação de “The Alto Knights” é, de facto, um dos seus pontos fortes. A recriação da Nova Iorque dos anos 1950 é bastante detalhada e autêntica, transportando com precisão o espectador para esse período retratado de conflitos entre grupos rivais. A caracterização, principalmente, mas também os figurinos, cenários e a banda sonora contribuem para uma verdadeira imersão na história, que é interessante de facto, mas pouco diferenciada de outros filmes sobre esses grupos mafiosos das décadas de 50. Quanto às interpretação destaca-se o sóbrio regresso de Debra Messing, mas o magnetismo de De Niro seca tudo à sua volta.

The Alto Knights
Papéis da máfia é o feudo de Robert De Niro. ©Max

O cinema de mafiosos nunca morre

“The Alto Knights” não tem a grandiloquência épica das grandes sagas mafiosas de Coppola, nem o tom elegíaco dos finais inevitáveis que marcaram a obra de Scorsese. Mas talvez seja aqui, precisamente, que resida o seu valor: em mostrar o quotidiano sórdido e o desgaste interno de quem levou décadas lidando com a morte e o poder.

Para todos os efeitos, Levinson, que tem muitos anos de cinema, entrega-nos um filme sólido, elegante, com algo de brilhante, mas, de facto, nunca inolvidável. Pode-se dizer que “The Alto Knights” caiu no purgatório, mas com uma certa dignidade. De facto, a máfia nunca morre, simplesmente envelhece, reinventa-se e continua a cobrar as suas dívidas pendentes. Um filme feito para amantes de sempre do cinema de mafiosos.

JVM

“The Alto Knights” — Análise | Dois De Niro, Uma Só Máfia

  • José Vieira Mendes - 65

Conclusão:

“The Alto Knights”, de Barry Levinson, com argumento de Nicholas Pileggi (“Tudo Bons Rapazes”, “Casino”) e produção de Irwin Winkler, é um filme que mergulha nas complexas relações de poder e traição do submundo do crime. Além de Robert De Niro num duplo papel, trata-se de uma produção que, apesar de envolver grandes talentos do cinema de Hollywood e uma história intrigante, não consegue destacar-se no saturado universo dos filmes de gangsters. A interpretação de De Niro é bastante competente e o seu magnetismo impressionante, mas a história, apesar de baseada em factos reais, carece de originalidade e impacto. Para os amantes do género filme de mafiosos, pode ser uma experiência nostálgica, mas para o público em geral, talvez não ofereça a frescura esperada. Vê-se bem!

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Pros

O melhor: A atuação versátil de Robert De Niro, diferenciando claramente os dois personagens. A fidelidade na recriação da atmosfera dos anos 1950. A direção de arte e fotografia que capturam a essência do género mafioso.

Cons

O pior: Falta de inovação na abordagem do tema. Uma história bastante previsível e sem grandes momentos de tensão. A escolha de De Niro para ambos os papéis pode causar confusão e parecer desnecessária.



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