© Alambique

O Processo do Cão | Análise

“O Processo do Cão” marca a estreia da atriz franco-suíça Laetitia Dosch na realização de cinema. O filme estreou na secção Un Certain Regard do Festival de Cannes de 2024 e irá estrear em Portugal na próxima quinta-feira 10 de julho.

A longa-metragem aborda a “estranha” história da advogada Avril (interpretada pela própria realizadora) que aceita defender um cão em tribunal. Cosmos, o canídeo, terá atacado várias mulheres e uma delas, Lorene Furtado (Anabela Moreira), pretende que o cão seja abatido e que o dono pague uma indemnização. Está assim aberta a audiência de “O Processo do Cão”.

Lê Também:
75º Festival de Cannes | ‘Un Petit Frère’

A comédia francesa deste Verão

O Processo do Cão
© Alambique

“O Processo do Cão” tem todo o potencial para ser a comédia francesa deste Verão em Portugal. Primeira obra de Laetitia Dosch, atriz franco-suíça, “O Processo do Cão” é um filme bem conseguido.

Quando uma advogada (Laetitia Dosch) com pouca sorte nos seus casos recebe um caso no mínimo bizarro – defender o cão Cosmos (Kodi) – está dada a premissa para uma história inacreditavelmente cativante.

“O Processo do Cão” é um filme leve, mas, ao mesmo tempo, denso. Divertimo-nos com o inacreditável papel de Kodi como Cosmos – ator completo, ainda que canino (não é por acaso que ele recebeu o prémio Palm Dog).

Lê Também:
Festa do Cinema Francês '22 | Toda a Gente Gosta de Jeanne, em análise

Argumento e personagens bem polidas

© Alambique

Este é um filme tremendamente bem escrito (sendo esta mesmo a maior qualidade que se destaca no filme). As cenas de tribunal com o Comité de Ética ou a “simples” cena com Cosmos a responder, como humano, num tapete cheio de botões levam-nos a questionar “Como é que se lembraram disto?” de tão bem feito que está.

Do lado das personagens, elas não são nada planas – outra mais-valia forte do filme. Roseline (Anne Dorval) e Lorene (Anabela Moreira) avançam com o processo contra o cão mas, no fundo, adoram cães, o que nos leva a sentir alguma raiva por estas personagens. O próprio jovem Joachim (magnífico papel do ator-estreante Tom Fiszelson) poderia ter o seu próprio filme. Tem potencial para isso. Laetitia Dosch dá-nos um pouco da sua tristeza o que nos leva a querer imaginar o que se passa na casa dele.

Sinto que o filme descamba um pouco quando consideram o cão misógino. Acho que poderia haver outra razão para o ataque do cão… mas, pronto, aceita-se. Sobretudo porque, depois, a luta de Avril para perceber Cosmos com as cenas em que o testa a dar comida e quando vai com ele à floresta fazem atingir um clímax bem conseguido no filme.

No fim, infelizmente para o espectador “cúmplice”, “O Processo do Cão” é um autêntico murro no estômago porque o cão é considerado culpado e condenado à morte. Pior do que isto é saber que, efetivamente, este filme se inspira numa história verdadeira…

Lê Também:
Cannes em Casa | Potiche – Minha Rica Mulherzinha (2010)

A parte técnica do filme O Processo do Cão

O Processo do Cão
© Alambique

Como comédia, “O Processo do Cão” é um pouco diferente. Foi algo estranho, para mim, ver um filme com uma iluminação tão sombria na maioria do filme. É algo que joga a favor do filme porque, na verdade, esta é uma comédia, mas uma comédia séria. Estamos perante o julgamento de um cão, o que nos faz questionar sobre a nossa própria sensibilidade. Ou seja, estes negros “combinam” com o próprio destino complicado que o cão enfrenta…

Tive oportunidade de falar com a realizadora esta quinta-feira – podes ler a entrevista por aqui muito em breve – e ela foi perentória: “Eu devia refletir em como fazer uma comédia. As comédias em França são muito iluminadas, muito brancas e acho que isso apaga as caras. Eu gosto muito de ver os traços das caras, de ver a vida, a experiência marcada nelas e ainda fazer piadas. Então, decidi com o meu diretor de fotografia fazer muitos contrastes (…) e forçámos também as cores. Assim, isso fez uma coisa não naturalista, um pouco como uma espécie de conto e um conto um pouco perigoso. E achei que o contraste traz de volta o ar urbano, da cidade, a dificuldade das cidades que eu gostava de ver, e as cores trazem de volta o pop.”

Também a música de “O Processo do Cão” está muito bem conseguida, sendo de destacar uma cena no supermercado que pontua o encontro de Avril com um homem, simbolizando o palpitar do coração.

Por fim, é, de facto, de fazer uma ovação de pé ao cão Kodi que tem um papel excelente como Cosmos. Um cão super expressivo que parece mesmo compreender estes humanos. Divertimo-nos com ele e com o seu ar simpático e dócil mas também sofremos com ele face ao seu complicado destino…

Lê Também:
Micróbio e Gasolina, em análise

O Processo do Cão

Conclusão

  • “O Processo do Cão” é uma comédia franco-suíça onde assistimos a uma história delirante de um cão que é levado a tribunal por, alegadamente, ter atacado várias mulheres.
  • Trata-se de um filme muito bem escrito, com os traços de comédia bem pontuada onde são incríveis várias das cenas de tribunal.
  • É a primeira obra realizada pela atriz Laetitia Dosch. Uma comédia leve mas também com profundidade. Todas as personagens principais do filme são bastante complexas e têm as suas camadas bem trabalhadas.
Overall
9/10
9/10
Sending
User Review
0 (0 votes)


Também do teu Interesse:



About The Author


Leave a Reply