Adrian © Bettman Archive

Adrian (1903-1959) | Deus do glamour em Hollywood

A Magazine.HD partilha contigo a história de Adrian Adolph Greenberg (1903-1959), um dos maiores figurinistas de Hollywood. 

Nos últimos meses Hollywood parece estar a pouco adormecida, em muito pela situação de crise provocada pela pandemia da Covid-19. No entanto, talvez seja este o momento justo para conheceres um pouco mais sobre a sua história e, inclusive, sobre os ostensivos trabalhos dos seus profissionais por detrás das câmaras que, surpreendentemente, parecem ter caído no esquecimento.

O rosto que propomos explorar neste artigo é o de Adrian Adolph Greenberg (1903-1959), ou simplesmente conhecido como Adrian. Adrian foi um dos maiores figurinistas de Hollywood – poderíamos colocá-lo no pódio ao lado de Edith Head, Milena Canonero, Colleen Atwood, Sandy Powell, Mark Bridges, etc. -, sendo bastante reconhecido por desenhar os sapatos mais famosos da sétima arte (provavelmente já saberão a quais nos referimos).

Além disso, teve o privilégio vestir as mais conceituadas atrizes da Era Dourada de Hollywood, entre as quais contam-se Greta Garbo, Norma Shearer, Myrna Loy, Vivien Leigh, Ingrid Bergman, Lana Turner, Judy Garland ou Hedy Lamarr. No entanto, a sua principal musa foi Joan Crawford, atriz vencedora do Óscar da Academia por “Alma em Suplício” (Michael Curtiz, 1945). Graças à sua colaboração dentro e fora do ecrã com esta estrela americana, nasceu a obsessão estilística com os ombros acolchoados, que definiriam a moda feminina na década de 1940 e que, até hoje, continuam a ser demarcantes nas roupas de milhares de pessoas em todo o mundo.

Adrian
Joan Crawford, Rosalind Russell, e Norma Shearer em “Mulheres” (1939) © MGM

Adrian revelar-se-ia figura crucial no universo MGM onde esteve responsável pela guarda-roupa de mais de duas centenas de filmes, entre os finais de 1920 e os inícios dos anos 50.

Nascido a 3 de março de 1903 na cidade de Naugatuck, Connecticut, Adrian era filho de Gilbert e Helena Greenberg, dois americanos descendentes de imigrantes. Enquanto os avós paternos eram oriundos da Rússia, os avós maternos eram provenientes do Reino da Boémia (atual região da Chéquia) e da Alemanha. Nos inícios dos anos 20, Adrian iniciava os estudos de figurinos em Nova Iorque – na Parsons School of Fine & Applied Art – e em Paris – onde esteve 4 meses. Depois disso, rapidamente encontraria trabalho, primeiro no famoso teatro de revista “The Music Box Revue”, e depois Broadway. Hollywood apenas a uma chamada de distância.

Foi então que, em 1924, Natacha Rambova, nada mais nada menos que a mulher de Rudolph Valentino pediu a Adrian para desenhar os figurinos do filme “The Hooded Falcon” (Joseph Henabery, 1924). Seguir-se-ia o seu trabalho com a “A Mana de Paris” (Sidney A. Franklin, 1925), comédia protagonizada pela atriz Constance Talmadge. Logo depois, Adrian acabaria por ser contratado por Cecil B. DeMille como figurinista-chefe e juntos mudar-se-ião para a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM). A partir de então, Adrian revelar-se-ia figura crucial no universo cinematográfico onde esteve responsável pelo guarda-roupa de mais de duas centenas de filmes.

Já alguma vez tinhas ouvido falar de Adrian? Clica nas setas para conheceres um pouco mais sobre o seu trabalho e sobre o seu elegantíssimo legado em Hollywood. 



Adrian, os primeiros anos

Adrian
Joan Crawford, Rosalind Russell, e Norma Shearer em “Mulheres” (1939) © MGM

Para perceber a ascensão de Adrian na sétima arte é importante entender o contexto histórico da Era Dourada. Falamos, na verdade, dos seus primeiros anos, aqueles da década de 1930, num momento chave para a consolidação do cinema sonoro. Nesta altura, eram mais os 8 milhões americanos que iam ao cinema todas as semanas, o que facilitou um maior investimento por parte dos estúdios, que começaram a trabalhar com revendedores para que as roupas utilizadas nos filmes pudessem ser igualmente compradas pelo dito cidadão comum (da classe média burguesa americana), como roupas de pronto a vestir.

Adrian foi um dos nomes importantes deste movimento de marketing dos estúdios. O sucesso começou quando tinha apenas 21 anos, e quando fez os figurinos do filme “O Rei dos Reis” (Cecil B. DeMille, 1924). Depois este filme, DeMille apostaria nos talentos do jovem para desenhar as roupas surpreendentes e incomuns para Greta Garbo. Uma das peças mais ousadas que Adrian desenhou para Garbo foi o famoso chapéu Eugenie, que a atriz utilizou em “Romance” (1930) e que influenciaria o design dos chapéus por mais de uma década. Já o casaco com cinto e chapéu desbotado feito para “Mulher de Brio” (Clarence Brown, 1928) conseguiu chamar à atenção da revista Women’s Wear Daily. Hollywood começava portanto a influenciar a moda americana como acontecia com Paris.

Lê Também:   O que ver na Spamflix | "Símbolo", de Hitoshi Matsumoto

Em 1932, Adrian desenharia um longo vestido branco com ombros largos e acolchoados para Joan Crawford no filme “Fascinada” (Clarence Brown, 1932). O vestido foi produzido por uma vasta equipa de 250 profissionais: entre alfaiates, bordadeiras, artesãos de jóias, trabalhadores de penas e costureiras. O vestido seria copiado pelos fabricantes de roupas em Nova Iorque e é ainda hoje considerado como o vestido mais comentado da história da moda em Hollywood.

Em 1939, Adrian teve a oportunidade de vestir os principais rostos femininos da MGM num filme exuberante chamado “As Mulheres” (ver imagem acima). Na obra participaram estrelas como Joan Crawford, Norma Shearer, Rosalind Russell, Mary Boland, Joan Fontaine e Paulette Goddard, e contam-se mais ou menos 130 personagens, todas elas mulheres. Apesar de ser a preto e branco, o filme teve um intervalo – os famosos interludes dos filmes americanos da Era Dourada – que mostrava um desfile de moda de alta costura em Technicolor, conciliando as inovações visual e têxtil da época num magnífico jogo de cores, como é possível assistir no vídeo abaixo.

A técnica do Technicolor era uma novidade em 1939, por isso o produtor de “As Mulheres” Hunt Stromberg queria que o desfile provocasse enorme surpresa entre os espectadores. No total, Adrian desenhou mais de 200 vestidos para o elenco do filme.

Segue as setas e conhece o trabalho mais reconhecido de Adrian no cinema americano. 




Os sapatos vermelhos de rubi de Dorothy

Adrian
Sapatos vermelhos de rubi de “O Feiticeiro de Oz” (1939), desenhados por Adrian © Warner Home Video

Podemos afirmar que as criações de Adrian iam da cabeça aos pés das estrelas de Hollywood. Entre os sapatos que esteve responsável de criar, poderemos encontrar os famosos sapatos vermelhos de rubi que Judy Garland calçou para a sua personagem Dorothy em “O Feiticeiro de Oz” (Victor Fleming, 1939). Embora os sapatos fossem prateados nos livros, Adrian preferiu cria-los a vermelho, uma vez que se destacariam melhor com o Technicolor. Não se sabe ao certo quantos pares de sapatos foram feitos até ser atingida a perfeição, mas muitas vezes são referidos 10 pares. Curiosamente, para que Garland não ficasse com os pés inchados, fora feito outro par com tamanho ligeiramente maior. Na verdade, este filme inclui, na sua totalidade, obras de Adrian que vão desde o vestido azul de Garland, a roupa do espantalho ou as roupas da bruxa e de Glinda.

Estes sapatos vermelhos sobreviveram a uma episódio peculiar, quando em 2005 foram roubados do Museu Judy Garland no Minnesota. Em 2018, foram recuperados pelo FBI e voltaram a casa. Alguns especialistas acreditam que os famosos sapatos vermelhos de rubi criados por Adrian possam valer atualmente 2,6 milhões de euros. Curiosamente, estes sapatos são um dos elementos da história do cinema mais admirados pelos americanos, não fossem eles mesmos uma representação das metáforas dos sonhos inerente à sétima arte…

Queres conhecer mais sobre o legado de Adrian? Segue com as setas. 




O legado de Adrian

The Philadelphia Story - A Marriage Story
Cary Grant, Katharine Hepburn e James Stewart em “Casamento Escandaloso” (1940) |©MGM

Nos finais dos anos 40, o contrato de Adrian com MGM expirou. Foi então que deixou Hollywood para abrir a sua própria loja. Voltaria os estúdios em 1952 para o filme “O Amor Nasceu em Paris” (Mervyn LeRoy, 1952). Mesmo assim, não teve uma vida muito longa e após um ataque cardíaco, Adrian acabaria por comprar uns terrenos no Brasil, por onde passaria longas temporadas em família.

Voltaria regularmente aos Estados Unidos, mas em 1959 acabaria por ter outro ataque cardíaco que lhe roubaria a vida. Quanto à sua vida pessoal, Adrian era assumidamente homossexual, mas até à sua morte esteve casado com a atriz Janet Gaynor, num dos casamentos vistos por conveniência em Hollywood, em resultado da publicação do Código Hayes. Com Gaynor teve um filho, Robin Adrian atualmente com 80 anos e regularmente presente em discussões sobre os trabalhos do pai e da mãe.

Infelizmente, os figurinos em Hollywood só começaram a serem mais celebrados, com a criação do Óscar de Melhor Guarda Roupa em 1948 – entregue pela primeira vez a Roger K. Furse por “Hamlet” (1948) e a Dorothy Jeakins e Barbara Karinska por “Joana D’Arc”. Poderíamos mesmo perguntar quantas estatuetas douradas venceria Adrian caso existisse a categoria durante o período em que esteve na MGM.  Talvez até tivesse mais vitórias que Edith Head, a atual campeã de vitórias de Óscares na categoria, com 8 prémios. De qualquer forma, Adrian jamais será esquecido e merece a aclamação do mundo, afinal foi o seu trabalho que definiu o glamour das estrelas.




Os figurinos de Adrian

Poderemos continuar a maravilhar-nos com os créditos e a frase “Vestidos de Adrian” (“Gowns by Adrian“), mas acreditamos que desta forma já poderás conhecer os trabalhos de um dos profissionais do cinema e da arte norte-americanos.

Qual consideras como o melhor trabalho de Adrian? Deixa-nos  o teu comentário.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *