Quando é que vamos voltar todos juntos ao cinema? ©Pixabay

COVID-19 na 7ª Arte | Quando voltam a abrir as salas de cinema?

A crise da COVID-19 na 7ª arte está a colocar em causa o espaço fechado e escuro da sala de cinema e a existência dos festivais. 

A pandemia do COVID-19 provocou impactos sem precedentes em todos os quadros financeiros, económicos, sociais e, obviamente culturais. Uma das artes que se viu mais afetada com o estado de emergência e pela quarentena – não só nacional, mas essencialmente mundial  – foi a 7ª arte. E o impacto do COVID-19 no cinema fez lamentavelmente algumas perdas, como a MHD tem vindo a partilhar convosco nas últimas semanas.

Tudo começou a 4 de março, quando o “007: Sem Tempo Para Morrer” o quinto e último filme de Daniel Craig como James Bond, foi adiado para novembro. Muitos pensaram que a decisão estaria relacionada com uma questão de distribuição, posto que esse é o mês preferido da MGM para lançar os filmes de 007. Outros analistas, viam que o mercado italiano – “Sem Tempo para Morrer” foi rodado na cidade de Matera – iria sair fortemente prejudicado com a pandemia, e não estavam errados. Desde então, tantos filmes têm sido adiados como “Um Lugar Silencioso 2” da Paramount, “Mulan”, “Viúva Negra”, “Soul”, “Artewis Fowl” da Walt Disney, ou “Mulher Maravilha 1984” e “Scoob” da Warner Bros., ou lançados em plataformas de streaming e de video-on-demand.

A verdade é que, hoje os cinemas de Portugal, dos Estados Unidos e da Europa encontram-se de portas fechadas. Em alguns países ainda não existem datas exatas para a sua reabertura (tudo é incerto, mas o encerramento pode ser de 4 a 5 meses). Segundo revelou recentemente a International Alliance of Theatrical Stage Employees (IATSE), para a indústria cinematográfica norte-americana, a ausência da sala de cinema poderá fazer perdas de receitas de bilheteira em torno dos 20 mil milhões de dólares, além de ter já provocado vários despedimentos – só em Hollywood 120 000 empregos deixaram de existir.

Acresce que, para evitar a propagação do vírus, muitas produções cinematográficas tiveram que ser suspensas, e festivais de cinema tiveram que ser adiados cancelados. Nem mesmo as medidas de recuperação económica tomadas pelos diferentes países parecem ter-se dedicado muito a pensar nos afetados pela crise do COVID-19 no cinema.

Enquanto não houver vacina, ou tratamento eficaz… a utilização das salas de cinema dificilmente será igual ao que foi, sinónimo de experiência comum e coletiva.

COVID-19 na 7ª Arte
James Bond em “No Time To Die” | © NOS Audiovisuais

2020 não será um ano fácil para a 7ª arte. Infelizmente, o coronavírus fez desaparecer os blockbusters da Páscoa de 2020 e, não será desmedido afirmar que também os blockbusters de verão de 2020, que nos fazem esquecer os nossos problemas, não existirão. Enquanto não houver vacina, ou tratamento eficaz… a utilização das salas de cinema dificilmente será igual ao que foi, sinónimo de uma experiência comum e coletiva. Mesmo assim, há que ver além da pandemia e de sermos positivos. A sala de cinema voltará a ser o que era antes, mas por enquanto – e considerando as medidas do governo português – a sala de cinema cheia e esgotada vai tardar um pouco a voltar. Apesar do aparente desespero em sair de casa, poucos serão aqueles que se voltarão a deslocar ao espaço fechado e escuro do cinema.

Porém se, neste tempo de estado de emergência, não podemos ir ao cinema e de estar sentados em frente do grande ecrã, temos que dar graças ao streaming e às novas formas de visualização dos filmes. Mesmo com as salas de cinema fechadas por uns meses, a paixão que sentimos pela arte do cinema não desapareceu. Nesta fase mais sensível e complicada, o streaming veio ajudar o cinema e poderemos aproveitar para assistir a filmes que, de outra maneira, não teríamos oportunidade. Foi até com algum choque que percebemos que este seria um ano estranho quando a Academia de Hollywood, responsável pela entrega dos Óscares, adaptou-se à mudança e, na próxima edição dos prémios, passam a ser elegíveis também os filmes que tenham estreado somente em streaming.

Os filmes previstos para estrear em sala devem ser adiados ou devem estrear agora online? Quais são as opções que tenho enquanto espectador e usuário para ver filmes? Quando voltam a abrir as salas de cinema? Quando é que poderemos voltar todos juntos ao cinema? São estas algumas perguntas que iremos refletir neste nosso artigo sobre o impacto do coronavírus na indústria cinematográfica tanto do ponto de vista nacional, como do ponto de vista internacional.

Segue agora as setas para conheceres os impactos da crise do Coronavírus na sétima arte. Deixa-nos a tua opinião nos comentários abaixo ou nas nossas redes sociais. 




Enquanto as salas não abrem, vence o streaming

COVID-19 na 7ª Arte
“Trolls 2” foi lançado em video-on-demand e a sua receita foi superior ao filme original © DreamWorks Animation LLC

O primeiro registo de salas de cinema encerradas em 2020 data do passado mês de janeiro na China, quando as 70 mil salas desse país fecharam as suas portas (o mercado chinês é o segundo maior do mundo em termos e box-office e perdeu 2 bilhões de dólares até março, como publica o The Hollywood Reporter). Haveria que se preparar para alternativas de distribuição… A produtora Huanxi Media fez mesmo um acordo de 91 milhões de dólares com a gigante tecnológica Bytedance para exibir “Lost In Russia”, de Xu Zheng, gratuitamente no TikTok. O lançamento aconteceu a 22 de janeiro, e o filme obteve 180 milhões de espectadores apenas nos seus 3 primeiros dias após o lançamento.Sucesso imediato superando, inclusive, os 159 milhões de espectadores de “Wolf Warrior 2”, filme com maior receita de bilheteira na China. O épico de artes marciais “Enter the Fat Dragon”, de Kenji Tanigaki e Wong Jing tornou-se o segundo filme a estrear online na China, também com grande sucesso.

No entanto, quase ninguém no Ocidente parecia preocupado com a proliferação do vírus, nem sequer com as suas repercussões ao nível cinematográfico. Após a China, a Itália passou a ser o epicentro da pandemia, seguida, na Europa, pela Espanha, pelo Reino Unido, pela Alemanha, entre outros, até chegarmos ao nosso Portugal. Em todos estes países, as principais estreias cinematográficas da temporada de Páscoa – “Peter Rabbit 2” e “Mulan” estavam previstos para finais de março – tiveram que ser adiadas para conter o coronavírus. O adiamento de estreias em sala acontecia em simultâneo aos cancelamentos e adiamentos de festivais…. No nosso país, por exemplo, a Festa do Cinema Italiano começou por ser o grande festival cinematográfico afetado, seguido até de festivais mais locais e regionais como o Madeira Film Festival.

Porém, os públicos não poderiam ficar sem cinema, pelo menos numa época de isolamento e distanciamento em que precisamos também de algum lazer. E, por isso, os estúdios começaram a adaptar-se à nova realidade, primeiro para não terem perdas financeiras ainda mais catastróficas e, segundo, para começarem também a aprender como lidar com esse recurso digital. A Universal acabou por ser a grande pioneira nos lançamentos em video-on-demand com os filmes “O Homem Invisível”, “Trolls 2: World Tour” (recorde de visualizações em streaming com 100 milhões de dólares) e “Emma”. A própria Walt Disney, aproveitando o lançamento da sua plataforma de streaming Disney+ na Europa, disponibilizou rapidamente o filme “Bora Lá!”, estreado nos cinemas portugueses a 5 de março. Já a Sony Pictures lançou “Bloodshot”, filme de ação com Vin Diesel, online.

Apesar de estreias adiadas, antestreias canceladas, a crise do COVID-19 permitiu uma maior adaptação, em todos os níveis, da indústria ao streaming. Esta ferramenta que não falta aos cinéfilos mais modernos, começou a conciliar-se também com os cinéfilos mais conservadores, que começam a olhar para plataformas como a Netflix, a Disney+, a AppleTV, a Filmin ou a MUBI como uma espaços de (re)descoberta de objetos cinematográficos e que, além disso, estão disponíveis a qualquer momento (e a vários preços).

É verdade que o lançamento de filmes nestas plataformas não será certamente tão elevado como agora, mas num futuro próximo muitos filmes irão estrear na sala de cinema e em online em simultâneo. E não há nada de mal com isso, afinal quantos mais meios possíveis para visionar filmes, existirão também mais conteúdos, mais ofertas para os diferentes tipos de públicos e, por conseguinte, as mais distintas histórias e representações humanas. Por exemplo, a Filmin PT expandiu o seu catálogo, e a Netflix está a implementar melhorias na sua plataforma, com investimentos na ferramenta Netflix Party que permite assistir a conteúdo de maneira sincronizada com amigos graças a uma extensão do Google Chrome. Neste período em que as salas estão fechadas há muito por onde explorar.

Inesperadamente, os espectadores privilegiados por esta crise são aqueles das pequenas cidades e aldeias, que nunca haviam tido as mesmas oportunidades de ir ao cinema como o espectador da grande metrópole. Isso acontece quer em Portugal, quando comparamos Lisboa e o Porto às outras regiões, quer em qualquer outro país. No caso de seres tão cinéfilo como a equipa da Magazine.HD irás certamente adquirir um projetor em casa, ou ChromeCast da Google e umas colunas topo de gama para ter a melhor experiência.

Esta quarentena poderá ser uma forma de pensares finalmente na tua sala de cinema privada! Só não te esqueças que quando tudo estiver mais tranquilo, poderás voltar ao cinema, e voltar a mergulhar noutra realidade através do ecrã gigante. Afinal, não esqueçamos que as salas de cinema portugueses reúnem a melhor tecnologia e nada as poderá substituir a longo prazo.

Segue com as setas para conheceres os efeitos da crise do coronavírus nos festivais de cinema e seus certames. 




2020 sem Festival de Cannes

parasitas
“Parasitas” | © Alambique

Festa do Cinema Italiano em Portugal adiada. Prague International Film Festival e Karlovy Vary Film Festival cancelados na República Checa. Locarno Film Festival cancelado na Suíça. Festival International du Film Policier de Liège cancelado na Bélgica. Munich Film Festival cancelado na Alemanha… A lista de festivais de cinema cancelados, adiados ou que passaram a ser online continua… Mas talvez aquele que tem sido mais falado nos últimos dias é o caso do Festival de Cannes.

É irónico pensar que no início deste ano “Parasitas” ganhou o Óscar de Melhor Filme, tornando-se apenas o segundo filme a vencer quer a estatueta dourada nessa categoria, quer a Palma de Ouro do Festival de Cannes, algo que não acontecia desde 1955 com “Marty”, de Delbert Mann. Este ano não voltará a acontecer. 2020 poderia ser um ano particularmente interessante para o Festival, porque finalmente após 72 anos de existência, um afro-descendente havia sido eleito Presidente do Júri, nada menos que Spike Lee.

Com o cancelamento ou adiamento, o Festival de Cinema de Cannes anunciou que lançará o Mercado do Filme online, mais precisamente a 22 de junho, para apoiar os profissionais da indústria cinematográfica. Esta é a alternativa encontrada para que a experiência do mercado cinematográfico de Cannes possa ser sentida em 2020. O Festival não pode chegar-se nem abandonar os seus propósitos, mesmo que estes momentos sejam de alguma confusão e imprevisibilidade para a indústria cinematográfica. Segundo Thierry Frémaux, o Diretor Geral do Festival de Cannes:

Ninguém sabe o que a segunda metade do ano pode trazer e se será possível organizar grandes eventos cinematográficos novamente em 2020, incluindo o Festival de Cannes. Portanto, Cannes decidiu adaptar o seu formato para este ano peculiar. Aqui está uma primeira iniciativa: um Mercado do Filme completamente online. Esse novo tipo de mercado permitirá uma participação de diversos profissionais de todo o mundo.

Ainda quanto ainda ao impacto da crise do COVID-19 nos festivais de cinema, vale a pena destacar o evento de 10 dias “We Are One: A Global Film Festival”, que apresentará gratuitamente conteúdo selecionado pelos festivais de cinema de Cannes, de Berlim, de Veneza, de Sundance, de Toronto, Tribeca, entre outros. Afinal que cada festival tenha as suas idiossincrasias há possibilidade de uma harmonia em prol da arte cinematográfica.

E quanto às cinematecas, casas do cinema e de “preservação” do espaço da sala por excelência? Segue com as setas para conheceres algum do trabalho que tem sido feito na Cinemateca Portuguesa. 




A Cinemateca Portuguesa mais nacional

A Cinemateca Portuguesa, a principal casa do cinema em Portugal também teve que se adaptar à pandemia do coronavírus. Não podemos visitar as suas poderosas salas, nem ler os poderosos livros no espaço público da biblioteca, nem assistir às várias conferências gratuitas. Porém, hoje temos uma cinemateca mais nacional. Por estar em Lisboa, a Cinemateca Portuguesa pouco chega os cidadãos das restantes zonas do país. Portanto, esta crise cinematográfica veio, de uma maneira muito subtil, abrir as portas da Cinemateca a todos os portugueses e fazê-lo com propostas interessantes da história do nosso cinema.

Vale a pena, por isso, mencionar o Diretor da Cinemateca Portuguesa José Manuel Costa, que confirma o quanto este período é uma forma de expansão da organização a nível nacional:

Num período em que, para o bem de todos e de cada um, devemos manter-nos nas nossas casas, esta é a nossa forma de levar um pouco mais do que somos e do que fazemos aos que nos procuram, além de, porventura, no caminho, suscitar o interesse de outros que por esta porta nos descubram. Ao fazê-lo, pensamos tanto naqueles que, por interesse e possibilidade, são utilizadores habituais dos nossos espaços agora “suspensos”, como em todos os que, vivendo longe da capital, não podem senão visitá-los esporadicamente. Também por esta última razão, esta não é apenas uma frente temporária. Vários destes documentos ficarão disponíveis a mais longo prazo, e algumas das rubricas tornar-se-ão residentes neste sítio.

COVID-19 na 7ª Arte
Propostas da Cinemateca Portuguesa: Gestos e Fragmentos e Sala de Projeção © Cinemateca

Filmes como “A Canção de Lisboa” (José Cottinelli Telmo, 1933), um dos clássicos do cinema português ou “Os Verdes Anos” (Paulo Rocha, 1960), que marca o nascimento do Novo Cinema Português poderão ser assistidos facilmente através da plataforma online do instituto designada “Gestos & Fragmentos”. O nome é realmente tão peculiar enquadra-se perfeitamente nesta nova realidade. “Gestos” porque há certamente um gesto de maior solidariedade para com todos os espectadores nacionais e “fragmentos” porque, embora que não conheçamos todos os seus objetos e trabalhos, há possibilidade de conhecer uma parte daquilo que tem sido feito pela Cinemateca.

Note-se que além desta proposta, há possibilidade de assistir aos registos das conferências da rubrica “Histórias de Cinema”, existente de 2011, conhecer os filmes sobre o 25 de abril (disponível até 14 de maio) ou até conhecer o espaço da Sala de Projeção, que é precisamente um espaço de reflexão em torno do cinema, da sala de cinema e daquilo que é a ideia de cinemateca. Afinal o que é a sala de cinema? Será que a sala defendida por críticos fundamentalistas ainda existe realmente? Ou será esta apenas contemplada em museus e cinematecas?

De facto, o momento do presente exige que lutemos pela sala de cinema como o espaço de emoções e sensações plenas, que eventualmente terá que ser trazido de volta à vida. Mas como? E quando?

Quando é que os cinemas vão voltar a abrir? Com o fim da quarentena?




Quando voltam a abrir as salas de cinema?

o setor cinematográfico precisará de apoios para trazer pouco a pouco o público de regresso às salas.

Screen X
A Sala Screen X dos Cinemas NorteShopping | © NOS Cinemas

Quando é que os cinemas vão voltar a abrir? Talvez seja esta a principal questão dos espectadores e dos leitores da Magazine.HD. Segundo as medidas de desconfinamento do Governo da República Portuguesa, tornadas públicas a 30 de abril, as salas de cinema e espaços culturais reabrirão as suas portas a 1 de junho, desde que reunidas todas as condições sanitárias.

COVID-19 no cinema
Excerto referente à cultura no Plano de Desconfinamento, aprovado no Conselho de Ministros a 30 de abril 2020 © Governo da República Portuguesa

Verdade seja dita, o setor cinematográfico precisará de apoios para trazer pouco a pouco o público de regresso às salas. E as salas de cinema vão voltar a abrir em breve porque, historicamente, a sala de cinema sempre encontra uma forma de sobreviver. Aliás, recordemo-nos como o cinema tem ultrapassado guerras mundiais, pandemia – como a da Gripe Espanhola na década de 1920 – e a uma série de mudanças tecnológicas desde os primórdios da sua existência.

A sala de cinema não desapareceu com a televisão, não desapareceu com o mercado de DVD’s ou Blu-Ray e também não vai desaparecer com o streaming e os monopólios de distribuição que deles advenham.

Há que ter ainda uma réstia de esperança de que nos vamos a reunir todos na sala escura e a reabertura dos cinemas será motivo de celebração, de todos nós. Mesmo com um menor número de espectadores, a sala de cinema não conseguirá ser desinfetada de emoções que, ao longo destes 125 anos de cinema, nos tem feito melhores seres humanos.

Um agradecimento especial a todos os espectadores e profissionais de cinema em Portugal. Este artigo é dedicado a eles e ao seu esforço neste e noutros momentos. 

A MHD continuará atenta aos efeitos da crise cinematográfica provocada pela pandemia do COVID-19! Fica atento aos nossos artigos especiais e às nossas redes sociais. 

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