Ranking ALIEN | 7. Alien vs. Predador vs. Bom Gosto
“Alien vs. Predador” de Paul W.S. Anderson oferece uma aventura gelada com muita confusão metida pelo meio. Contudo, não é tão mau como parece.
Neste Artigo:
“AVP2: Aliens vs. Predador” ficou em nono lugar no ranking.
A seguir ficou “Alien: Romulus,” em oitava posição.
Não faz muito sentido que os monstros das sagas “Alien” e “Predador” habitem o mesmo universo, mas racionalidade é muito raramente a prioridade de Hollywood. Ou dos fãs, verdade seja dita. Porque o crossover entre os dois franchises nasceu primeiro da febre dos fanboys que, perante dois clássicos da ficção científica na década de 80, decidiram misturar as iconografias e suturar histórias um tanto ou quanto incompatíveis. Por isso mesmo, a primeira vez que estas entidades se encontraram não foi nem em cinema nem em televisão, ou mesmo um videojogo. Foi no mundo da banda desenhada que o Xenomorph de “Alien” e o Predador tiveram a sua batalha.
A Dark Horse Comics lançou “Alien versus Predator” em 1989, dando início a um franchise paralelo ao dos filmes. Desenvolveu-se principalmente a partir dos quadradinhos e novelas gráficas, mas foi popular o suficiente para garantir uma piada visual no “Predador 2.” Com a estreia dessa fita em 1990 outro fenómeno ocorreu. “Alien” continuava a ser um franchise respeitado, mas os predadores vacilaram com a sequela e a paixão decresceu e o prestígio ainda mais. Dito isso, chegado o novo milénio, um par de sequelas malfadadas haviam erodido a reputação dos aliens, equiparando os dois franchises aos olhos da indústria.
Este crossover nasceu na banda desenhada.
Chegados a esse ponto, nada impedia a banda-desenhada original de fazer o salto para o grande ecrã. E assim aconteceu, com Paul W.S. Anderson a tomar as rédeas do projeto enquanto realizador. Essa escolha provavelmente teve a sua origem no filme que ele lançou em 1997, uma preciosidade de terror em cenário espacial que dá pelo nome de “O Enigma do Horizonte.” Dito isso, as poucas marcas autorais que se podem registar em “Alien vs. Predador” devem mais a outros trabalhos do cineasta. Nomeadamente, é possível estabelecer uma continuidade estilística entre “AVP” e os “Resident Evil” que Anderson assinou.
Por outras palavras, o projeto estava entregue a um cineasta capaz de fazer entretenimento musculoso a partir dos conceitos mais inusitados que se possa imaginar. “AVP: Alien vs. Predator” caiu em boas mãos, consignado ao estatuto de obra de série B, mas empenhado em divertir o espetador apesar das ambições rebaixadas. Enfim, não se pode esperar mais de uma história cliché em que um grupo de exploradores – encabeçados por Charles Bishop Weyland, suposto fundador da empresa espalhada pelo universo “Alien” – vai investigar uma pirâmide sob a superfície do Ártico. Trata-se de um monumento dos Predadores.
O primeiro ato é o ponto fraco da fita.
Acabamos por desvendar que a estrutura seria usada pelos caçadores espaciais para treinar os seus guerreiros mais jovens. Uma espécie de ritual de passagem, por outras palavras. Nos confins dos corredores escuros, eles haviam de aniquilar o inimigo perfeito, esses Xenomorphs que são mais arma biológica que organismo. Na mitologia engendrada para o enredo, várias civilizações humanas ofereceriam sacrifícios a estes deuses, corpos humanos a servir de incubadora para o monstro, seu inimigo comum. É uma ‘backstory’ meio forçada, mas faz o serviço. O problema é o longo caminho até toda esta informação ser desvendada.
Todo o primeiro ato deste “Alien vs. Predador” se dedica ao diálogo expositivo e muitas sequências em jeito arqueológico num cenário congelado. É um crime quanto tempo demoramos até que as bestas titulares se confrontem, especialmente porque as personagens humanas não têm capacidade de sustentar a história por si mesmas. Lance Henriksen lá tenta, mas só Sanaa Lathan sucede no papel de Alexa Woods, a scream queen virada final girl deste capítulo na saga “Alien.” Entenda-se que ela não está ao nível da Ellen Ripley de Sigourney Weaver. No entanto, dá muito mais a esta história risível do que ela merece, elevando todo o projeto com seu talento.
A confrontação final justifica todo o filme.
Enfim, quando a pirâmide se ativa e os ovos de xenomorph libertam seus facehuggers, então a diversão começa. As primeiras cenas de ação deixam um pouco a desejar em termos coreográficos, mas o trabalho de efeitos especiais – com grande ênfase em construções práticas – é uma delícia. Tanto líquido reluzente, baba e vísceras, uma disrupção biológica que tanto enoja quanto enerva. É um festim para os sentidos de quem ama cinema monstruoso e gore fantástico, um circo aparvalhado capaz e nos pôr de pé a aplaudir. Mesmo que não seja um grande drama, que seja textualmente tolo e afins, “AVP: Alien vs. Predador” consegue empolgar, sempre despretensioso.
Algumas fragilidades nunca se superam, pois claro. O exotismo com que o filme considera o povo antigo das Américas cheira a preconceito fétido e o casting não ajuda. O argumento também é inegavelmente mau e só parece justo quando comparado diretamente com a catástrofe da sequela “Requiem” e a timidez nostálgica de “Romulus“. Ai, mas aquele ato final é bom demais, desde a química surpreendente que Lathan estabelece com o guerreiro Predador até à gloriosa visão da rainha Alien em polvoroso numa tempestade de neve. Estas confrontações junto à linha da meta são o melhor do filme e já justificam o preço do bilhete – ou do streaming, nos nossos dias.
No próximo artigo, chegamos ao mundo mirabolante de Ridley Scott, com Michael Fassbender em estado de graça. Não percas!