Barbie, Dumb Money e o ano em grande de America Ferrera
America Ferrera, para muitos a eterna Ugly Betty, é uma atriz norte-americana mais (re)conhecida pelo seu trabalho na televisão. Em 2023, com obras como “Barbie” e o futuro “Dumb Money”, dá cartadas no cinema.
Atriz, produtora e até em breve realizadora de filmes, com “I Am Not Your Perfect Mexican Daughter” (adaptação de um romance YA de sucesso) no futuro próximo, America Ferrera, de 39 anos de idade, está a viver de momento um período alto da sua carreira já longa.
Persistentemente dedicada à ideia de fazer carreira frente às câmaras, foi muitas vezes dito a America Ferrera que não correspondia ao ideal de beleza físico e etnicidade procurado pelos agentes de castings. Ora era demasiado latina (Ferrera é filha de pais das Honduras), ora não era latina o suficiente, sem sotaque a “provar” a sua descendência hispânica.
Como adolescente, chegou a um público mais amplo através do já icónico filme para jovens “The Sisterhood of the Travelling Pants” ( ou “Quatro Amigas e um Par de Calças”), em 2005, que até mereceu uma sequela e que a viu a interpretar Carmen e a partilhar o ecrã com nomes sonantes como Alexis Bledel (a Rory de “Gilmore Girls”) ou Blake Lively (A Serena de “Gossip Girl”).
America Ferrera e o seu legado “Betty Feia”
Já entre 2006 e 2010 chegou a sua verdadeira “claim to fame”, o projeto pelo qual é ainda hoje reconhecida e pelo qual venceu inúmeros prémios, do Globo de Ouro ao SAAG, passando pelo Emmy. Trata-se, claro está, de “Ugly Betty”, ou “Betty Feia” em português. America foi escolhida para este papel por Salma Hayek. A atriz e produtora mexicana, produtora executiva em “Ugly Betty”, cruzou-se, por força de acaso, com America e garantiu-lhe o papel que a viria a definir perante uma geração. Na altura, Ferrera tinha apenas 22 anos.
“Betty Feia”, uma série de comédia da ABC, irreverente no seu gozo descarado e crítica à indústria da moda, baseia-se numa telenovela colombiana “Yo soy Betty, la Fea”, originalmente estreada no ano de 1999. Esta produção foi adaptada dezenas de vezes para outros países, mas a versão dos EUA destacou-se através do seu tom jocoso mas simultaneamente sincero.
America tornou-se uma estrela da televisão, quase do dia para a noite, não fosse a ABC um canal de sinal aberto. A sua interpretação, honesta e destemida, como Betty Suarez, uma aspirante a escritora que começa a trabalhar como assistente numa revista de moda afamada, é ainda hoje elogiada. Feia só mesmo no nome, a sua personagem estabelecia um aguçado debate, propondo uma ridicularização de ideias de beleza formatados e limitados. Aqui começou uma nítida tendência na carreira de America Ferrera, representar mulheres fortes, emancipadas e orgulhosas da sua herança e paixões.
2011 – 2015 – Vozes da animação e Christine
Terminada “Betty Feia”, em 2010, Ferrera deu a voz a vários filmes de animação(nomeadamente a co-protagonista feminina em “Como Treinares o Teu Dragão”), teve um pequeno arco no drama “The Good Wife” e, em 2012, protagonizou um drama cerca de encontros rápidos na idade contemporânea, “Christine”. A narrative fez-se compor por 12 episódios rápidos e pode ser encontrada, na íntegra, no Youtube.
2015-2021 – Superstore
O seu próximo grande projeto chegaria apenas 5 anos depois do final de “Ugly Betty” e tratar-se-ia de uma outra comédia num canal público. “Superstore”, a história de um grupo de funcionários a trabalhar num supermercado, sem grandes condições laborais, numa era das compras online, nunca teve o nível de exposição ao grande público que provavelmente mereceria, como série engraçada, povoada por personagens excêntricas e extremamente ciente dos problemas sócio-económicos enfrentados pelos seus protagonistas.
America Ferrera deu aqui vida a outra mulher forte – Amy – uma jovem mulher algo zangada com a vida, presa num casamento de liceu motivado por uma gravidez e repleta de arrependimentos. Inteligente e promissora, Amy sonha com algo mais do que ser chefe de turno num supermercado. Naturalmente, vai acabar por conseguir subir na escada empresarial. E embora America tenha abandonado a série uma temporada antes do seu fim, para tirar algum tempo aquando da sua segunda gravidez e para produzir/ realizar o projeto “Gentefied”, a verdade é que a atriz deixou uma marca inesquecível com esta personagem (e foi novamente nomeada a prémios pela sua prestação). Assim, cimentou-se um pouco país o seu estatuto como estrela da televisão.
2020 a 2022 – Gentefied e WeCrashed
Nos últimos anos, America Ferrera continuou a destacar-se no reino da televisão, por cabo e no streaming. Para além de ter participado, como atriz, na comédia “Gentefied”, acerca da gentrificação em Los Angeles, Ferrera realizou quatro episódios desta série astuta e assim começou também a construir as suas credenciais e reputação como realizadora – uma veia que continuará a explorar num futuro bem próximo.
Em 2022, “WeCrashed”, com Anne Hathaway e Jared Leto, entrou no seu currículo, desta vez envolvida na qualidade de atriz.
2023 – Ano em estado de graça com Barbie e Dumb Money
E depois de uma carreira de quase 2 décadas na televisão, eis que em 2023 o ano de America Ferrera fez-se e far-se-á (ainda) no cinema. Em “Barbie”, o filme mais lucrativo do ano menos de um mês depois da sua estreia, é Gloria, uma humana que sonha com celulite e pensamentos de morte, mas também com uma vida menos rotineira e mais empolgante. Em “Barbie”, dá voz ao monólogo que Greta Gerwig preparou com tanto cuidado, ao longo de vários meses, e o qual expressa o que muitas mulheres sentem no dia-a-dia. Poderás relê-lo no nosso artigo acerca das melhores citações do filme “Barbie”.
Ainda este ano, America Ferrera vai co-protagonizar, ao lado de tantas outras estrelas, de Seth Rogen a Paulo Dano, passando por Shailene Woodley ou Pete Davison, a comédia tresloucada “Dumb Money”, a dramatização de um momento fora de série que todos recordamos. Aquele que que, em janeiro de 2021, no pico dos confinamentos motivados pela pandemia, começou o caso GameStop, uma companhia que vale quase nada e cujas ações galoparam na bolsa devido à iniciativa de cidadãos comuns que decidiram “manipular” as regras do jogo.
A narrativa tresloucada é liderada por Craig Gillespie, o realizador de “Eu, Tonya” (2017) e “Cruella” (2021). Gillespie não é um novato no que diz respeito a candidaturas dos seus filmes a Óscares e, na temporada de 2023/2024, o que não faltam são especialistas que indicam America como potencial indicada a uma estatueta de melhor atriz secundária.
Se por “Barbie”, se por “Dumb Money”, ainda estamos para ver (para isso, terá de bater uma fortíssima competição, de Lily Gladstone em “Killers of the Flower Moon”, a Emily Blunt em “Oppenheimer”, passando pelo talento imenso de Jodie Foster em “Nyad” ou ainda por mais de uma intérprete da nova versão de “A Cor Púrpura”).
Algo é certo: já com Globo, SAAG e Emmy na estante, America não é estranha a prémios de televisão e os sinais dos tempos dizem-nos que está na hora de vermos esta grande atriz algo subvalorizada a brilhar também no grande ecrã!
Desse lado, qual é o teu papel favorito de America Ferrera?
