©Chaytor Industries, Freews

DocLisboa ’20 | Work or to Whom Does the World Belong, em análise

“Work or to Whom Does the World Belong” foi o documentário escolhido para a abertura deste 18ª DocLisboa. A edição muito especial termina o seu primeiro momento neste último fim de semana de outubro mas regressa já na próxima semana, no dia 5 de novembro! 

Entre outubro de 2020 e março de 2021 o DocLisboa faz-se de uma vasta programação que vem problematizar múltiplas temáticas urgentes. “Work or to Whom Does the World Belong” ou “El trabajo o a quién le pertenece el mundo”  foi o filme que abriu as longas festividades e voltou a ser exibido no dia 30 de outubro, pelas 15h00 da tarde, numa sessão aberta a público e escolas que faz um ponto de situação na programação da secção “Corpo de Trabalho”, na qual este filme se insere.

“Corpo de Trabalho” é um tema pertinente e o mais atual possível se considerarmos as exigência e esforços que a pandemia do COVID-19 impôs ao mercado do trabalho. Por isso se torna tão urgente pensar sobre a própria natureza do trabalho e da estrutura do mercado. É precisamente isso que esta estimulante secção e este filme fazem.

Tendo em vista este conjunto de objetivos não é surpreendente que “Work or to Whom Does the World Belong” tenha sido o filme escolhido para iniciar esta jornada. É uma reflexão concertada sobre a própria natureza do trabalho, do associativismo e do capitalismo VS socialismo.

O filme acompanha uma história longa, a da carreira de mineiro numa zona específica das Astúrias. Esta narrativa é-nos apresentada ao longo de um longo século de lutas, de avanços e derrotas, de vitórias e perdas. Aqui, uma zona residencial reservada a esta classe profissional é uma vez mais campo de batalha para os confrontos entre aqueles que fazem a greve a a polícia. Contudo, passadas décadas e décadas, os trabalhadores deparam-se com o insucesso da sua última greve e perdem a motivação.

“El trabajo o a quién le pertenece el mundo”  acompanha uma comunidade mineira que começa a reagir com apatia e falta de resolução aos atentados contra a integridade da sua profissão, à medida que esta indústria entra cada vez mais em declínio e a desindustrialização começa a ser cada vez mais determinante em toda a região. As minas estão a fechar, os protestos multiplicam-se nas ruas, mas será que é possível esperar um retorno à forma? O seu estilo de vida e sustento está ameaçado, como esteve tantas vezes mais no passado.

TRAILER | WORK OR TO WHOM DOES THE WORLD BELONG – SECÇÃO CORPO DE TRABALHO 

Este é um filme perspicaz, capaz de analisar com detalhe uma situação complexa. Contudo, falha na sua tarefa de se manter entusiasmante e cativante. Ao longo de 65 minutos um narrador ominipresente conta-nos como se desenvolveu esta luta ao longo de todo o século XX, passando pelo período da ditadura e por tantos outros de rutura. Verdade seja dita, o objeto da narração é deveras interessante mas o que falta é a ligação com os sujeitos do filme. Estes nunca são mais do que a personificação da luta do capital contra o operário.

Os trabalhadores não têm nomes, durante grande parte do filme não têm sequer faces e os mecanismos mais corriqueiros do documentário, num filme que não foge à forma, poderiam facilmente ter sido melhor explorados. Porque não povoar o filme com alguns testemunhos de quem trabalhou nas minas durante décadas? Porque não acrescentar mais imagens e vídeos de arquivo?

No total destes surpreendentemente longos 65 minutos, temos talvez 3 ou 4 minutos de imagens de arquivo, se tanto. É uma oportunidade perdida, pois a longa-metragem, ainda que valorável, é povoada por fantasmas, por ideias e não por sujeitos de carne e osso.

Eles são símbolos, ideias, conceitos e não pessoas. É uma pena, pois “Work or to Whom Does the World Belong”  não deixa de ser um filme pertinente e que encaixa na perfeição no momento em que vivemos.

Work or to Whom Does the World Belong, em análise
Work or to Whom Does the World Belong

Movie title: Work or to Whom Does the World Belong

Date published: 31 de October de 2020

Country: Espanha, Reino Unido

Duration: 65´

Director(s): Elisa Cepedal

Genre: Documentário

[ More ]

  • Maggie Silva - 65
65

Conclusão

“Work or to Whom Does the World Belong” é um filme-ensaio que pensa questões estruturais, tão pertinentes há 100 anos como nos dias de hoje.

O MELHOR:A ambiciosa jornada que aqui é narrada, recuperando em pouco mais de uma hora a vida de uma classe operária negligenciada por norma.

O PIOR: A falta de especificidade e a pouca atenção ao particular. O filme não tem “heróis”, protagonistas, ninguém dá verdadeiramente cara a esta luta e tal torna os esforços mais estéreis e académicos.

 

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