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Fala Comigo, a Crítica

“Fala Comigo” é um hábil filme de terror que recupera uma premissa clássica, munindo-a de um toque contemporâneo. Sophie Wilde brilha no papel principal, como iremos defender nesta análise. “Talk to Me” chegou às salas de cinema nacionais a 24 de agosto. 

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Na era do alegado terror elevado, “Fala Comigo” (2022), continua uma tradição nobre: a de reinventar antigas fórmulas de terror, confrontando-as com os hábitos culturais dominantes do aqui e agora. Esta colaboração entre a Austrália, Reino Unido e Estados Unidos, realizada pelos gémeos Michael Philippou e Danny Philippou, começou por estrear no circuito de festivais: Adelaide Film Festival, Sundance Film Festival, Berlin International Film Festival e por aí fora.

Tal é o apreço dos pares pela obra, que autores consagrados como Jordan Peele e Peter Jackson já falaram publicamente acerca do seu entusiasmo em relação a esta nova história de terror.

No circuito de festival, conseguiu o selo de qualidade A24 para a sua distribuição americana, e a partir daí o burburim nunca parou. A obra que nos chega agora a Portugal foi realizada por uma dupla de irmãos gémeos, Michael e Danny Philippou, afamados pelo seu trajeto invulgar – de Youtubers especializados numa mistura de terror e comédia ao vivo, a realizadores aclamados. Esta é a sua grande rampa de lançamento no cinema, depois de ambos integrarem a equipa técnica de “O Senhor Babadook” (um filme cujas influências conseguimos identificar neste “Fala Comigo”).

Este mesmo casamento entre comédia e terror está bem vivo em “Fala Comigo”, ou “Talk to Me” no original. O filme abraça a estranheza, o desconforto, o humor negro e o grotesco de forma ampla. Aqui, acompanhamos um grupo de amigos que se vicia num perigoso e inesperado jogo – evocar espíritos ao utilizar uma mão embalsamada. O “jogo” acaba por ir longe de mais, e forças sobrenaturais violentas são libertadas.

Fala Comigo
Sophie Wilder em “Talk to Me”| ©Cinemundo

Mia (Sophie Wilde) é a jovem mais afetada pelas presenças de outra dimensão, uma vez que continua a tentar superar o suicídio da mãe, que ocorreu há apenas um ano. Depressa acabará por se deparar com uma inóspita situação: decidir se confia nos mortos ou nos vivos.

Hábil no equilíbrio entre o gore, o horrífico e o terror psicológico, “Talk to Me” é um filme bem construído e pensado. Na marca dos 94 minutos, tem a duração ideal para uma narrativa de terror, e consegue, ao longo da sua duração, apresentar as personagens, o seu perfil, vontades e principais características, sem comprometer de forma alguma o clima tenso que é capaz de garantir do início ao fim.

Um thriller de terror orientado para o público jovem, e para a faixa etária dos seus intérpretes, até a possessão espírita se torna uma experiência de grupo e uma para ser captada, partilhada e utilizada como moeda de troca para jogos de popularidade. Mais um filme que, em 2022/2023, sabe reconstruir aquele que é o mundo dos jovens, de uma forma mordaz e apontando os perigos de certos comportamentos viciados sem precisar de dogmas ou de comentários demasiado óbvios e gritantes.




Em vez disso, “Fala Comigo” é subtil, mas sem dúvida tem algo a dizer acerca de pressão de grupo e  jogos psicológicos jogados na juventude. Resultado de tal ângulo, “Talk to Me”, ou “Fala Comigo”, é mais inquietante do que assustador. Não dispensa os clássicos “jump scares”, claro está, mas nem tão pouco se constrói em torno deles.

Talk to Me
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Antes, brinca muito com a questão da perspectiva. O argumento, escrito por pelo co-realizador Danny Philippou, em cojunto com Bill Hinzman e Daley Pearson, não garante ao espectador o “luxo” de saber mais do que as personagens centrais. Pelo contrário, acompanhamos a confusão mental da Mia de Sophie Wilde, à medida que luta contra a possessão resultante de uma sessão espírita. O seu medo é o nosso medo, a sua paranóia partilhada e as reviravoltas são por nós sentidas na pele, sofridas em conjunto com a personagem.

Hábil no seu percurso, “Fala Comigo” consegue surpreender e fazer-nos acreditar naquilo que na literatura seria tido como um “narrador não fiável”. Desta forma, a pujança das reviravoltas do enredo são sentidas de forma mais poderosa. O diabo está nos pormenores, tal frase é sempre verdade, mas torna-se ainda mais imperativa num género tão cansado como o terror, feito de fórmulas e lugares-comuns.

Quanto à protagonista Sophie Wilde, começa já a ser apelidada de “Scream Queen” do século XXI. Não é para menos, a sua performance é capaz de se instalar debaixo da nossa pele, provocando desconforto, vergonha e ocasionalmente desespero. O espectro das suas emoções é vasto e impressionante e, houvesse justiça no mundo, prestações desta qualidade, no campo do terror, não seriam ignoradas no circuito de prémios.

“Fala Comigo” chegou às salas de cinema a 24 de agosto e merece ser a escolha para uma noite arrepiante de verão.

TRAILER | FALA COMIGO, NOS CINEMAS DESDE 24 DE AGOSTO 

Fala Comigo, a Crítica
Fala Comigo Poster

Movie title: Fala Comigo

Movie description: Um grupo de amigos fica viciado na emoção de evocar espíritos utilizando uma mão embalsamada, até ao momento em que um deles vai longe demais e liberta terríveis forças sobrenaturais.

Date published: 31 de August de 2023

Country: Austrália, EUA, RU

Duration: 94'

Author: Michael Philippou, Danny Philippou

Director(s): Michael Philippou, Danny Philippou

Actor(s): Sophie Wilde, Joe Bird, Alexandra Jensen

Genre: Terror, Thriller

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  • Maggie Silva - 80
80

CONCLUSÃO

“Fala Comigo”, uma inesperada entrada popular de cinema australiano, atualiza uma proposta clássica do terror: a possessão espírita. Sim, “Talk to Me” não inventa nada novo, mas sabe apresentar, à luz da corrente cultura adolescente, uma história contada ao longo de décadas e décadas.

Pros

  • Os jovens intérpretes, ilustres desconhecidos perante o público americano e europeu, e que estão à altura do desafio. O destaque vai inevitavelmente para Sophie Wilde, arrebatadora e assombrosa como a protagonista Mia;
  • Outras formas de explorar uma temática “gasta” – a possessão como uma potencial experiência coletiva, e uma nova capacidade para retratar as formas como estas entidades negociam e aterrorizam os sujeitos que possuem (mais não podemos dizer sem entrar em detalhes do enredo);
  • O clima de cortar à faca, que nunca é sacrificado e, ainda assim, as personagens são estudadas e apresentadas com cuidado.

Cons

  • A inevitável “banalidade” do enredo. Por muito bem explorado que esteja, já vimos muitas versões desta história. Tal será sempre um ponto negativo, por muitos elementos curiosos e distintos que possam aqui ter surgido.
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