Faminto, em análise

“Faminto” segue uma jovem professora – protagonizada por Keri Russell – que descobre que o pai e o irmão mais novo do seu aluno problemático escondem um segredo sobrenatural. Produzido por Guillermo del Toro, David S. Goyer e J. Miles Dale, esta obra de Scott Cooper segue uma narrativa com muito potencial que, infelizmente, não é alcançado.

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Quando um filme é produzido por cineastas por detrás de filmes como “A Forma da Água”, “A Guerra do Amanhã” e “Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro”, os espetadores sabem que a obra receberá, pelo menos, um bom tratamento técnico. Com Scott Cooper (“Hostis”) na cadeira de realizador, assim como no argumento juntamente com C. Henry Chaisson (primeiro crédito) e Nick Antosca (“A Floresta”), as minhas expetativas encontravam-se moderadamente altas. Mesmo sem ver trailers, reconhecia de antemão que o filme muito provavelmente pareceria ótimo visualmente, mas previ uma desilusão relativamente à sua história.

Bem, “Faminto” possui alguns problemas narrativos e inconsistências lógicas frequentemente encontradas em filmes de horror, mas considerando o seu orçamento evidentemente reduzido e argumento baseado no conto original de Antosca, “The Quiet Boy”, deixei a sala de cinema satisfeito. Está longe de oferecer algo remotamente imaginativo ou inovador, mas devo elogiar o seu foco notável nas personagens, tal como no manuseamento extraordinário das suas limitações financeiras. Pegando no último tópico, os efeitos visuais (VFX) melhoraram drasticamente na última década…

Hoje em dia, um ano de estudo e evolução de VFX avança as tecnologias relacionadas com muito mais rapidez e impacto do que há cinco ou dez anos atrás. Logo, mesmo para um filme independente com pouco orçamento, começa a ser incomum uma produção depender tanto de efeitos práticos, visto que muitas pessoas conseguem criar efeitos digitais convincentes em casa nos seus computadores. No entanto, “Faminto” combina na perfeição uma quantidade mínima de CGI, cinematografia excelente (Florian Hoffmeister) e um uso inteligente de um monstro prático para oferecer sequências de horror assustadoras, sangrentas e eficazes no campo dos jumpscares.

Faminto
Jeremy T. Thomas em “Antlers – Faminto” (2021) © Fox Searchlight Pictures

Infelizmente, acredito que o público geral se sinta ligeiramente frustrado com a falta deste tipo de cenas. Cooper não comete o erro de centenas de outros filmes de horror enfadonhos que se concentram somente em jumpscares previsíveis e repetitivos. No entanto, quer os espetadores gostem de admitir ou não, estes filmes genéricos dão a sensação de conter mais entretenimento do que um “Faminto” atmosférico e guiado por personagens. Por outro lado, aprecio sinceramente o último subgénero de horror. Keri Russell (“Star Wars: A Ascensão de Skywalker”) interpreta Julia Meadows, uma mulher com um passado traumático de abuso, levando-a a sentir preocupação com um jovem aluno dela, Lucas Weaver (Jeremy T. Thomas).

Lucas mostra sinais claros de estar emocionalmente, fisicamente e psicologicamente perturbado, mas, tal como na vida real, as coisas nem sempre são o que parecem. Jesse Plemons (“Judas e o Messias Negro”) retrata o irmão de Julia, Paul, e o seu passado comum é, na verdade, a porção mais intrigante da narrativa. Infelizmente, Cooper e a sua equipa de argumentistas não são capazes de explorar profundamente este enredo. Os flashbacks e memórias de Julia simplesmente parecem deslocados em retrospetiva. Teria sido agradável e interessante assistir a mais quinze minutos dos irmãos a discutir os seus traumas, o invés de uma rápida conversa num corredor aleatório.

 

Todos os atores apresentam prestações convincentes, apesar de alguns momentos em que as crianças não conseguem expressar os sentimentos certos, mas nada que seja verdadeiramente impactante. O argumento caminha por aquela linha ténue de consistência lógica e quase cai severamente algumas vezes, mas felizmente, tirando um ponto da trama flagrante que os espetadores terão que aceitar e seguir em frente, Cooper e os seus colegas escritores fizeram um bom trabalho em atar todos os nós. Menção para a banda sonora de Javier Navarrete (“Greta – Viúva Solitária”), que eleva algumas sequências de suspense.

O final é visualmente satisfatório e os últimos minutos farão os espetadores sair do cinema com uma (boa) sensação agridoce. No entanto, o terceiro ato carece de criatividade geral. Desde as sequências com o monstro praticamente idênticas ao “plot armor” pesado entregue aos protagonistas, o clímax é muito genérico e clichê demais para um filme de horror tão distinto.

Ainda assim, acredito que a maioria do público desfrutará deste filme, embora o potencial para algo melhor esteja presente. Estreia esta quinta-feira, dia 11 de novembro, no cinema.

Aproveita para ler a nossa entrevista com a protagonista do filme Keri Russell, feita pelo nosso Coordenador de Cinema e Streaming Virgílio Jesus.

Faminto, em análise

Movie title: Faminto

Movie description: Uma jovem professora descobre que o pai e o irmão mais novo do seu aluno problemático escondem um segredo sobrenatural. Decidida a tomar conta do rapaz, ela tem de lutar pela sobrevivência de ambos contra horrores muito para além da imaginação.

Date published: 11 de November de 2021

Country: Estados Unidos da América

Duration: 99'

Director(s): Scott Cooper

Actor(s): Keri Russell, Jesse Plemons, Jeremy T. Thomas, Graham Greene, Scott Haze, Rory Cochrane, Amy Madigan

Genre: Horror, Mistério, Thriller

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  • Manuel São Bento - 65
65

Conclusão

“Faminto” é uma história de horror guiada por personagens e habilmente filmada, com jumpscares eficazes e uma narrativa cativante que acaba por falhar em atingir o seu verdadeiro potencial. Com a ajuda de produtores experientes, Scott Cooper é capaz de gerar uma atmosfera rica e oferecer um monstro intrigante, combinando efeitos práticos com CGI mínimo na perfeição, apesar do orçamento reduzido. Acompanhada por uma cinematografia agradável, Keri Russell lidera um enredo interessante focado no seu passado traumático, mas termina muito pouco aprofundado. A linha narrativa principal apresenta desenvolvimentos mais genéricos e um final visualmente satisfatório que, ainda assim, deixa muito a desejar. No geral, é uma visualização que se recomenda, mas que dificilmente se volta a ver.

Pros

  • Argumento cativante guiado por personagens.
  • Combinação perfeita entre efeitos digitais e práticos.
  • Restantes aspetos técnicos surpreendentes, tendo em conta o orçamento reduzido.
  • Prestações do elenco adulto.

Cons

  • Passado da protagonista muito pouco explorado.
  • Narrativa principal demasiado genérica para um filme tão distinto.
  • Final que “sabe a pouco”.
  • Baixo valor de repetição.
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