©Arlindo Camacho/ NOS Alive

NOS Alive 2022 | A mítica vocalista de Florence + The Machine

Num dia que também contou com as prestações audazes de Celeste e Jorja Smith no Palco NOS Stage, eis que 7 de julho foi a data do evento com maior poderio no feminino. O grupo Florence + The Machine deslumbrou como cabeça de cartaz e como fenómeno de culto: quer do ponto de vista figurativo, com o tom sarcástico que introduziu a prestação de “Rabbit Heart (Raise it Up)”; quer do ponto de vista literal, quando olhamos para a notável legião de fãs que provou ser mais forte do que nunca. 

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Passado pouco tempo desde a divulgação de um estudo da BBC News, em 2022, que dava conta de que apenas 13% dos cabeças de cartaz nos seus eventos musicais seriam mulheres e equacionando que, por terras lusas, a APORTFEST indicava a mesma figura a rondar os 14% em 2019, é uma importante lufada de ar fresco estar na presença musical de Florence Welch e da sua banda – uma que “vive na sombra” (salvo seja) de uma grande vocalista, a mezzo-soprano Florence Welch. A cantora de 35 anos é a principal figura – frontwoman – e também a compositora central deste grupo.

Na publicação das redes do Nos Alive: Florence e Celeste nos bastidores do Festival

Foi em 2009 que “Lungs”, o primeiro álbum da banda inglesa, foi lançado. Com a confluência de vários géneros musicais perfeitamente conciliados, como o indie rock, o indie pop, o pop barroco ou até o soul – “Lungs” surgiu como um disco importante e uma novíssima Florence, ainda no início da casa dos 20, começou a dar os primeiros passos rumo à perfeita diva que viria a tornar-se. “Kiss With a Fist”, uma das mais sarcásticas músicas desta tracklist (que inclui alguns temas deliciosamente mórbidos), foi single de lançamento ainda em 2008 e, passados 14 anos, ainda é capaz de obter uma resposta forte e contagiante junto do público.

Um testemunho à capacidade da evolução e continuidade de Florence + The Machine e nítida transmissão da música para novos públicos jovens, o recinto do NOS Alive irrompeu em euforia quando Florence e a sua máquina subiram ao palco. Uma visão em vermelho, Florence apresentou-se, que nem deusa etérea, descalça e esvoaçante.

cabeça de cartaz alive dia 7 julho 2022
Uma figura celeste em palco | ©Arlindo Camacho/ NOS Alive

O concerto arrancou com o single “Heaven is Here”, do novo álbum “Dance Fever”, o 5º de originais da banda, lançado em maio deste ano. Este novo conjunto de músicas encontravam-se já bem enraizadas no coração dos e das milhares de fãs que assistiam e a chegada de “King”, o single de lançamento deste CD, confirmou o estatuto de perfeita familiaridade por parte das e dos seguidores.

Passado pouco tempo, com a brincalhona e já mencionada “Kiss with a Fist” , ou ainda com um dos primeiros grandes singles, “Dog Days are Over”, vimos o público atento a delirar com músicas mais “velhinhas” e que não perderam nenhum do seu charme. Antes pelo contrário, encontram-se já sedimentadas entre quem segue o trabalho desta banda. Para quem esteve presente na prestação dos Florence and the Machine, no Alive em 2010, naquele que foi em tempos o Palco Sagres e é agora o Palco Heineken – como é o caso desta redatora – é extraordinário assistir à consolidação do seu fenómeno. Atenção: o concerto de apresentação de “Lungs”, há 12 anos atrás, não foi de forma alguma menos competente, mas é maravilhoso testemunhar o crescimento dos seguidores e a maturidade evidente da própria Florence Welch.

A cantora e compositora está amplamente confortável na sua própria pele, pede ao público para expressar amor de forma incondicional, pede para que deixem os telemóveis de lado, e durante a linda música “Rabbit Heart”, mais para o fim do alinhamento, até pede, na brincadeira, um sacrifício humano. Depois de, no dia anterior, termos visto o algo desajeitado “deixa andar” de The Strokes, é estupendo assistir ao nível de profissionalismo de Florence e companhia. A britânica entregou-se de alma e coração a um público que clamava por ela e que gritava a esmagadora maioria das letras alto e a bom som.

Florence and the Machine no Alive
A incansável Florence e a sua “máquina” |©Arlindo Camacho/ NOS Alive

 

De gigante dimensão, um concerto de festival com um nível de energia sempre em altas – como ouvi alguém dizer, já no dia 9, “Florence andou no palco a fazer piscinas” – esta prestação do grupo não deixou de se pautar também por um notável grau de intimidade e contacto humano. Nitidamente emocionada, Florence declarou que a plateia deste segundo dia do NOS Alive 2022 se apresentava como a mais ruidosa e a que mais cantava. O uso do superlativo pode bem ter resultado do calor do momento, mas não era caso para menos.

“Cosmic Love” foi um dos momentos em que a presença de dezenas de milhares de pessoas bem se podia ter confundido com a de 1000, 100 ou 10. Isto porque se fazia sentir o verdadeiro envolvimento e cumplicidade entre performers e público. Com “Never Let Me Go” (de “Ceremonials“, 2011), Florence Welch deixou-nos entrar na sua intimidade, na sua jornada de sobriedade e deixou-nos ouvir a sua voz cristalina, convidando-nos a conhecê-la, a si e a todas as suas fragilidades. Quente, energética, repleta de afetos, Florence faz por merecer a energia que recebeu por parte do público.

Eis que, 17 músicas depois, o recinto fazia-se sentir de coração peito cheio neste que foi o maior concerto em Portugal de Florence + The Machine, até à data. Isto pelo menos em termos de números. Florence e companhia haviam esgotado já o Super Bock Super Rock em 2015, mas na altura em que este só levava 20 000 pessoas. Todavia, temos a absoluta certeza de que este grupo inglês ainda tem muitas memórias por criar em terras lusas. Temos também a forte impressão de que quem passou por Algés e não conhecia bem o poderio da banda, estará agora dentro do loop. E ainda bem!

 

FLORENCE + THE MACHINE NO NOS ALIVE | NEVER LET ME GO FOI UM DOS PONTOS ALTOS

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