Kit Connor e Joe Locke voltam a ser Nick e Charlie | ©Teddy Cavendish/Netflix

Heartstopper, temporada 2 em análise

Na marca da sua segunda temporada, “Heartstopper” cumpre as expectativas e continua a assumir-se como uma lição de mestria no processo de adaptação: elevando e completando o seu material de origem, sempre com a criadora Alice Oseman a conduzir o barco. 

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[ATENÇÃO: Spoilers ligeiros acerca de alguns elementos do enredo da segunda temporada]

“Heartstopper”, o romance adolescente queer mais ternurento da televisão, está de regresso em agosto de 2023 para a 2ª temporada.

A história de Nick (Kit Connor) e Charlie (Joe Locke), de Tao (Will Gao) e Elle (Yasmin Finney), de Darcy (Kizzy Edgell) e Tara (Corinna Brown) e de Isaac (Tobie Donovan) está de volta para a sua segunda temporada, pronta para nos aquecer os corações com as mais belas e inclusivas narrativas de amor queer. Alice Oseman, a criadora dos comics que deram origem à série, regressa como senhora do seu conteúdo. Esta escreve e produz todos os episódios, uma vez mais, e desta forma o material original não só é respeitado – como é complementado e desenvolvido.

Tobie Donovan, Corinna Brown, Kizzy Edgell, Joe Locke, Kit Connor, Will Gao, Yasmin Finney
No segundo ano, o gang viaja até Paris numa visita de estudo |©Netflix

Belos mas curtos, os romances gráficos “Heartstopper”, presentemente contando quatro volumes e com dois finais no “forno”, narra a história do tímido Charlie, que se apaixona pelo popular e amistoso Nick Nelson, um “labrador humano” e jogador de Rugby. Esta história curta tem tempo para apresentar os amigos do par, as suas vidas e romances, e ainda os seus dramas quotidianos e relações familiares. Todavia, a série tem o luxo e o tempo para expandir cada uma destas histórias e assim torná-las mais ricas e repletas.

A segunda temporada de “Heartstopper” faz precisamente isso: continua a aprofundar a sua história, de forma a que personagens mais marginais ganhem mais vida. Imogene (Rhea Norwood) e Isaac, em particular, personagens criadas única e exclusivamente para a série, e que não existiam nos livros, pareciam algo perdidas no primeiro ano da série. Agora Imogene tem direito a um arco em que se recusa a ser menosprezada por um namorada desinteressado (o sempre problemático Ben, Sebastian Croft) e Isaac destaca-se através de um arco de descoberta, neste caso de assexualidade (o que faz todo o sentido para quem conhece a obra de Oseman, que focou o seu romance “Loveless” neste mesmo tema).

O maior desenvolvimento de personagens continua com Tara e Darcy, com particular foco na personagem Darcy, com Kizzy Edgell a destacar-se nesta sua interpretação de uma jovem lésbica não aceite pela sua mãe. Alguns dos instantes mais emotivos da temporada centram-se na dinâmica do casal mais “sénior” dentro do grupo de amigos, ilustrando as dificuldades que Darcy sente. Uma exploração bem para lá dos livros, e que deu outro valor e beleza a esta história de amor, que já era, aliás, bastante enternecedora na primeira temporada.

Esta série da Netflix com 10,7 mil milhões de views no Tik Tok estreia hoje heartstopper
Teddy Cavendish / © 2022 Netflix, Inc.
Na segunda temporada de “Heartstopper”, as relações do elenco de apoio têm direito a um desenvolvimento mais sólido. Tara e Darcy na imagem, aquando da visita do grupo a Paris.



A segunda temporada de “Heartstopper” começa com Nick Nelson a debater-se para ‘sair do armário’, agora que a sua nova relação tem um obstáculo claro – a afirmação perante o mundo. E se a mãe de Nick, interpretada pela sempre estupenda Olivia Coleman, é aberta e o aceita sem reservas, o mesmo não pode ser dito do seu pai distante e do seu irmão idiota. A luta interior de Nick tem inadvertidamente efeitos em Charlie, uma personagem altamente sensível e com uma tendência para a auto-censura, mesmo perante situações incapazes de controlar.

Todavia, embora a tensão esteja lá, o amor entre Nick e Charlie continua a ser belo, puro, pincelada de forma cuidada, como se a sua imagem em movimento televisiva fosse antes uma aguarela colorida. A sua vida e rotina romântica continuam a transmitir um encanto enternecedor, capaz de suavizar o mais cético dos corações. Por outro lado, Tao e Elle continuam num vai-não-vai, incapazes de dar um passo em frente na sua relação, com muito medo de danificar a sua presente amizade. Com coragem e notável garra, Elle explora também outras formas de afirmar a sua identidade trans.

Eis que, perante todas estas tensões do quotidiano deliciosas e bem apresentadas, o grupo chega a Paris para uma visita de estudo. Aqui, muitos eventos centrais – de tensões entre Tara e Darcy, à aproximação de Tao e Elle (por fim), passando pelo evento mais fulcral. Finalmente Nick começa a perceber que Charlie não tem uma relação normal com a comida. Este elemento é muito importante, pois por muito encantado e idílico que “Heartstopper” possa ser, o conteúdo torna-se mais triste e melancólico à medida que os livros avançam e a série, pelo que podemos constatar, não irá inverter esta tendência de perda da inocência.

Em Paris, a alegria e a tristeza coexistem em todas as personagens, à medida que o amor desperta e a cidade é filmada de forma deslumbrante, convidando-nos a entrar na imagem televisiva para não mais sair. E terminada a viagem a Paris, mais rituais de passagem – do baile da escola aos exames finais.

Heartstopper S02
A amizade é fulcral em “Heartstopper”, como testemunhamos na adolescência | ©Netflix / Samuel Dore

Da banalidade ao extraordinário, das exposições queer aos pedidos de desculpas, “Heartstopper” continua a ser um dos mais belos e inclusivos retratos da adolescência. Sem excesso risível de drogas e sem uma sexualização impiedosa das suas personagens (sim, “Euphoria”, estou a olhar para ti), a série de Oseman deixa os seus adolescentes simplesmente ser, e nunca invalida as suas lutas ou o seu sofrimento.

Como complemento perfeito, as vidas de Charlie, Nick e companhia continuam a ser musicadas na perfeição. Que o diga a popular playlist oficial da série, disponível no Spotify, e que este mês viu acrescentadas as músicas que marcam o ritmo da temporada 2:

Ainda há muitos episódios da vida de Charlie e Nick (e companhia) para contar nas temporadas vindouras. Cá estaremos, para entrar num mundo adolescente que não vira as costas ao sofrimento mas que prefere munir-se de cor, amor e representatividade. 

TRAILER | TEMPORADA 2 DE HEARTSTOPPER – DISPONÍVEL EM AGOSTO DE 2023

Heartstopper, temporada 2 em análise
Heartstopper Poster T2

Name: Heartstopper, T2

Description: Nick e Charlie lidam com os obstáculos da nova relação. Tara e Darcy enfrentam desafios imprevisíveis, enquanto Tao e Elle tentam descobrir se alguma vez poderão ir além da amizade. Com os exames a pairar no horizonte, uma viagem a Paris e um baile de finalistas para organizar, o grupo não tem mãos a medir enquanto passa pelas seguintes fases da vida, do amor e da amizade.

Author: Alice Oseman

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  • Maggie Silva - 85
85

Conclusão

Na marca da segunda temporada, “Heartsopper” continua a expandir a narrativa dos romances gráficos e a encontrar novos ângulos interessantes para desenvolver as suas personagens. Alice Oseman mantém o controlo como criadora e argumentista, garantindo um processo de adaptação irrepreensível.

Pros

  • A visita a Paris, bem explorada e sem pressas, ao longo de múltiplos episódios;
  • Com o novo cenário – de Paris ao Baile – a segunda temporada de “Heartstopper” continua a pedir emprestada a estética dos comics ao mesmo tempo que nos presenteia com uma fotografia deslumbrante e pautada por cores vibrantes;
  • O maior desenvolvimento das personagens: Ben tem mais profundidade, embora tenha uma jornada semelhante à dos livros e Imogene e Isaac, personagens que não existiam na BD, têm pela primeira vez verdadeiro propósito;
  • A banda sonora continua a complementar o que se passa no ecrã de forma exímia;
  • O arco, para lá de importante, do distúrbio alimentar de Charlie é introduzido com mestria e de forma promissora.

Cons

  • Elle e Tao têm uma moleza excessiva no avançar e recuar da sua relação, mas não removeríamos as suas linhas narrativas por nada, especialmente porque nesta temporada ficamos a conhecer a sua interioridade muito melhor.
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