Euphoria T2, primeiras impressões
Depois de muita antecipação e atrasos da praxe relacionados com a Pandemia, a segunda temporada de “Euphoria” estreou finalmente na HBO e na HBO Portugal, provocando um frenesim de atenção mediática e de números de visualizações. Aqui ficam as nossas primeiras impressões sobre esta nova página na vida do drama adolescente mais controverso da atualidade.
A grande questão aqui é: será que o primeiro capítulo de “Euphoria T2” está ao nível dos episódios especiais? No verão de 2021, Samuel Levinson, criador, argumentista, produtor e de tudo um pouco, a “mente” por detrás da loucura que é “Euphoria”, lançou dois produtos nostálgicos, “filhos” do confinamento, dois episódios realizados com pouquíssimo elenco e equipa técnica, num testamento à capacidade da série de chegar ao seu fundo mais emocional.
“Trouble Don’t Always Last” e “F**k Anyone Who’s Not A Sea Blob” decorrem quase imediatamente a seguir dos eventos que fecharam a primeira temporada de “Euphoria”, que nos abandonou já no verão de 2019. Nestes dois capítulos o drama adolescente foi mais longe, para além da sua estética de “festa do fim do mundo” e analisou em detalhe a intimidade emocional das suas personagens centrais Rue (uma esplêndida e merecedora do Emmy Zendaya) e Jules (uma igualmente estrondosa Hunter Schafer).
EUPHORIA T2 REGRESSA COM MAIS SEXO, ESCÂNDALO E DROGAS
Agora, com o antecipado regresso – “Trying to Get to Heaven Before They Close the Door”, emitido a 9 de janeiro de 2022, todas as restantes personagens explosivas de “Euphoria” estão de volta, da insegura Cassie (Sydney Sweeney) ao destruir Nate (Jacob Elordi), passando pela arrojada Maddy (Alexa Demie) ao ligeiramente contraditório Fezco (Angus Cloud).
E por falar em Fezco, antes de reencontrarmos todos os jovens protagonistas da série numa festa de ano novo digna de um “Project X” em ácidos, casado com uma página do manual de “Trainspotting”, eis que a sequência inicial do primeiro episódio, bastante forte por sinal, nos permite entrar na intimidade deste traficante de droga e compreender o seu passado e origens. Como cena de abertura, esta história de origem de Fezco foi sumária mas satisfatória, repleta de humor negro e decadência, bem ao jeito de “Euphoria”.
Aliás, esta sequência inicial é quiçá o momento alto do episódio, por ser o momento que mais respostas nos dá. Entretanto, numa festa capaz de reunir e fazer com sucesso um ponto de situação de todo o elenco, eis que os miúdos de “Euphoria” continuam a protagonizar esta fantasia de juventude perdida, cada vez mais excessiva e repleta de pénis, mamas e drogas. Mas será que o seu coração está também à vista?
NOVAS RELAÇÕES E DINÂMICAS EM MAIS UMA TEMPORADA TENSA
O segundo ano de “Euphoria” parece prometer mais emoções fortes, pelos menos se o episódio inicial é indício de algo. Com algumas novas potenciais dinâmicas a desenvolverem-se, como uma reaproximação de Jules e Rue ou, mais surpreendentemente, muita química entre Fezco e a única personagem não “danificada” da narrativa – a angelical Lexi Howard (interpretada por Maude Apatow, filha do famoso realizador e produtor de comédia Judd Apatow).
Contudo, uma questão surge imediatamente quando pensamos sobre “Euphoria”, será que a forma se sobrepõe ao conteúdo?
“Euphoria” é, antes de mais, um festim visual, não fosse a série um conteúdo A24, a famosa distribuidora conhecida pelo seu cinema norte-americano autoral, com títulos variados como “Midsommar”, “A Tragédia de MacBeth”, “Moonlight” ou “Lady Bird”, entre tantos outros afamados.
Ao longo deste novo episódio, percorremos uma festa que nos mostra uma vez mais o mundo aterrador e violento em que se movem estes jovens. Na sinopse da HBO Portugal lê-se: “esta série original HBO a visão crua e realista de um grupo de alunos do secundário.”
Mas será “Euphoria” de facto um conteúdo realista? Provavelmente não, provavelmente é tão realista quão “Skins” foi para toda uma outra geração. Nesta série inglesa com uma vibe bastante semelhante, mas surpreendentemente mais contida, um grupo de adolescentes alerta quem vê para os perigos de crescer nos subúrbios de Bristol, que aparenta ser um sítio escuro e sem esperança.
Ora, quem vá a Bristol descobre que esta é uma cidade luminosa, munida de um belíssimo porto piscatório, iluminada e muito pouco o reflexo da tragédia grega que era “Skins”. Ora, também “Euphoria” não representa uma oportunidade para realismo, assemelhando-se mais a uma distopia adolescente. Não é o retrato de um grupo de jovens num determinado espaço e tempo, está para lá de qualquer representação sociológica, é antes a dramatização de um sentimento – a euforia da adolescência.
Avaliando a sua capacidade de retratar quão intensamente os jovens vivem, este capítulo seminal de “Euphoria T2” parece um ponto de partida tão bom como qualquer outro. Contudo, é preciso ter cautela e recordar a importância do casamento entre coração e emoção.
O caminho certo para “Euphoria” é continuar a explorar a sua linha ténue entre representação emocional e plasticidade, promovendo um conteúdo que não tenha como punchline a utilização de anéis de luz bonitos. Antes, a série deverá colocar em primeiro plano a continuação do caminho que traçou nos episódios especiais, explicando o comportamento das personagens nas suas próprias palavras, deixando-nos entrar na sua intimidade.
Por exemplo, porque é que Nate é tão extremista na sua masculinidade tóxica? Quiçá esta temporada seja a oportunidade perfeita para o tornar mais humano, se não menos demoníaco, pelo menos compreensível nos seus nefastos atos, para que possamos vê-lo como um ser humano e não como um obstáculo narrativo maléfico. Há pano para mangas nesta segunda temporada do drama adolescente que continua à procura de se encontrar, como todos os adolescentes,
Contudo, algo é certo, as prestações dos jovens atores e atrizes continuam ao mais alto nível.
A segunda temporada de “Euphoria” exibe na HBO Portugal semanalmente, com o segundo episódio a chegar já a 17 de janeiro.