House of the Dragon: Rhaenyra the Cruel, segundo episódio em análise
O segundo episódio de “House of the Dragon” já estreou na Max e, apesar de não termos tido as grandes batalhas de que estamos à espera, “Rhaenyra the Cruel” tem momentos igualmente inesquecíveis. (Nota editorial: O artigo inclui spoilers)
O primeiro episódio de “House of the Dragon” termina com a trágica morte do pequeno Jaehaerys, o filho mais velho de Aegon II (Tom Glynn-Carney) e Helaena (Phia Saban), às mãos de Blood (Sam C. Wilson) e Cheese (Mark Stobbart) – os homens contratados por Daemon (Matt Smith), para encontrar e assassinar Aemond (Ewan Mitchell), como vingança pela morte de Lucerys.
É nesta tragédia que terminamos e é nela que começamos. O primeiro plano deste novo episódio, intitulado “Rhaenyra the Cruel”, é de uma mulher a aproximar-se na câmara, em choque, com uma manta coberta de sangue – o sangue de Jaehaerys. O caos que se segue, com gritos e barulhos abafados, replicam esse choque sentido por toda a família mas também a sua raiva.
Não é difícil ver porquê. De pouco importa as vigias de Aemond e Vhagar se um assassino consegue entrar no castelo, às escondidas, e atacar qualquer membro da família real. O que mais me impressionou no primeiro episódio foi precisamente Helaena a fugir do quarto e a vaguear por um castelo vazio. Desesperada, é ela que tem de procurar refúgio, no quarto da mãe.
Mas o mal está feito e Aegon, está furioso. Entre as primeiras palavras que profere estão “Fogo do Céu! Isto é Guerra! Declaro guerra!”. Este é um dos meus momentos favoritos do episódio. Enquanto o luto de Helaena e Alicent é feito com silêncio e tristeza, Aegon destrói tudo, uma raiva pura de quem sente o luto mas também a traição: a traição da família, a traição dos guardas, a traição de todos os que não protegeram o seu filho, e a traição dos que depois lhe pedirão calma – quem sabe a sua própria traição, lembrando que enquanto Jaehaerys morria, ele bebia com os amigos na sala do trono.
A dualidade de Alicent Hightower
Em contraste, enquanto Aegon está parado no tempo, consumido pelos seus sentimentos, o resto da família começa a trabalhar. Aemond, de regresso a casa depois de uma noite no bordel com a sua “confidente”, nota a porta secreta aberta e a sua mesa mexida. Já Alicent (Olivia Cooke) e Otto Hightower (Rhys Ifans), discutem os possíveis culpados e é aqui que se sente que algo não está bem.
No meio da conversa, Alicent diz que a culpada pode ser ela. A Rainha Mãe acredita que a morte de Jaehaerys se deveu ao seu pecado, neste caso, à sua relação com Ser Criston Cole (Fabien Frankel) – relação essa, que não existe nos livros. Apesar de pessoalmente gostar desta alteração – oferecendo a Alicent a liberdade e felicidade que nunca teve, ao mesmo tempo que torna o conselho de ambos a Aegon II por vezes questionável -, a verdade é que a sua quase confissão aqui parece caída do céu.
Religião não é um tema afastado de “House of the Dragon”, no entanto, esta ideia de um Deus vingativo que matar crianças para castigar uma pessoa por um “pecado”, não é propriamente um tema existente até ao momento. Numa conversa em que o foco era a dor de Helaena e as consequências daquela noite, o protagonismo passa de repente para Alicent. Eu percebo que a ideia é mostrar a dualidade da personagem, entre os seus desejos e o seu dever. Mas esta cena não foi o sítio ideal para a inserir.
Aegon II, o Rodeado por Incompetentes
De volta a Aegon, temos nesta parte o primeiro momento “estou rodeado de imbecis” do episódio, quando este pergunta ao conselho onde estavam quando um assassino ameaçava o seu rei e Ser Tyland Lannister (Jefferson Hall), pergunta: “Também foi ameaçado, majestade?”. A vontade de lhe atirar alguma coisa à cabeça é grande.
Claro que o Rei foi ameaçado! O seu filho herdeiro foi assassinado e ninguém estava lá para o proteger. Qualquer membro da família real poderia ter sido morta, incluindo a irmã gémea de Jaehaerys e a própria Helaena. Até Aemond poderia ter sido assassinado ou Aegon, o Rei. E ninguém parece realmente preocupado com isso.
Este comentário demonstra algo muito claro: a ingenuidade de Aegon e a falta de preparação para ser Rei. O conselho não o respeita, não trabalha a ser favor, perdendo tempo em conversas e esquemas, em vez de agir. O conselho de Rhaenyra (Emma D’Arcy), está alinhado à sua visão, guiando-a e aceitando as suas ordens (exceto Daemon, claro), mas o mesmo não acontece com o de Aegon.
A verdade é que Rhaenyra está rodeada por pessoas que confiam nela, e em quem ela confia. Já o irmão está, nas palavras de Lord Jasper (Paul Kennedy), num ninho de cobras, onde cada um defende os seus interesses, em vez dos tais interesses da coroa. Todos quem ser Rei, ninguém quer ajudar o Rei.
Os esquemas de Lord Larys
Outra das cenas de que mais gostei acontece ainda durante a reunião do conselho. Enquanto Otto Hightower (The Hand), se prepara para anunciar mais um esquema – o de culpar Rhaenyra independentemente de ser ela ou não a real culpada -, Lord Larys (Matthew Needham), entra na sala com uma informação útil – Blood foi capturado.
Mais tarde neste episódio, é ele que permite a Aegon vingar-se à sua maneira e isso deixará uma impressão. Apesar das ações de Lord Larys irem ao encontro dos interesses do jovem Rei, vale a pena relembrar que ele trabalha nos seus próprios esquemas, com o objetivo de se tornar The Hand, o braço direito do Rei.
Helaena, a Sacrificada
A vida de Helaena espelha a da sua mãe. A sua função é a de providenciar herdeiros e os seus sentimentos ou desejos não importam. O plano de Otto é simples, usar a criança, a mãe, e a avó num ataque político com fim a mudar a visão que o Reino tem de Rhaenyra. Mas isso virá às custas das “almas mais gentis” da família. Quanto o conselho diz que os inimigos da família podem estar mais perto do que pensam, ele não está errado.
Helaena é talvez a pessoa mais sã deste episódio. Alguém, um estranho, invadiu a sua casa e matou o filho, à sua frente. Os gritos e sons de desespero de Jaehaerys ainda ecoam nos seus ouvidos. Agora, meras horas após os acontecimentos, querem rodeá-la de mais estranhos – e da sua mãe, que no meio do luto da filha, acha pertinente tenta falar do que ela viu (Alicent e Ser Criston Cole).
A Procissão e os Ratos
A procissão é um dos momentos marcantes do episódio. Um momento fúnebre que começa com uma música não necessariamente triste mas tensa – e depressa percebemos porquê. Blood foi capturado e enquanto Helaena e Alicent protagonizam um espetáculo, Lord Larys e Aegon têm outros planos.
A cena vai alternando entre a procissão e a morte de Blood, depois deste confessar ter sido contratado por Daemon Targaryen, juntamente com um exterminador de ratos do qual não sabe o nome. Esta confissão levará ao enforcamento de todos os “rateiros” e um dos grandes confrontos do episódio.
Na procissão, Helaena, claramente desconfortável, volta a ser martirizada ao mesmo tempo que testemunha a devoção de um povo do qual se quer afastar. É notável que os choros e gritos da multidão têm um impacto na sua jornada.
E é nesta multidão que vemos uma cara nova, apresentada mais à frente: a esposa de Hugh Hammer (Kieran Bew), o ferreiro que pede uma audiência com o Rei e personagem que, nos livros, se torna bastante importante para a frente.
Rhaenyra, the Cruel
Com este momento introdutório terminado, viajamos até Dragonstone, onde Rhaenyra descobre o que aconteceu em King’s Landing. Não demora muito para que a Rainha perceba que Daemon esteve envolvido, e a sua lealdade volta a ser colocada em causa. Por muito acidentais e bem intencionadas, as ações do agora Rei Consorte tiveram consequências graves para Rhaenyra.
Além dos seus inimigos prepararem um ataque ainda mais violento, ela sabe que a opinião da população (e dos seus aliados), está em risco de se virar contra si. O próprio conselho, nomeadamente Ser Alfred Broome (Jamie Kenna ), um nome a lembrar, questiona o seu envolvimento no ataque, recordando a ordem anterior – “Quero Aemond Targaryen” -, e a morte de Lucerys.
No fim, Daemon parte com Caraxes, possivelmente para Harrenhal (o grande ponto estratégico desta batalha), depois de ser incapaz de responder com um simples “sim” à pergunta da agora esposa: “Aceitas-me como tua Rainha e Líder”. Apesar do apoio que ele demonstra a Rhaenyra, torna-se cada vez mais claro que os seus desejos de se tornar Rei, e não Rei Consorte, continuam bem vivos.
Addam of Hull e o Dragão Branco
Entre os acontecimentos em Dragonstone e o confronto familiar que teremos a seguir, é importante mencionar Addam of Hull (Clinton Liberty), e o dragão branco que este vê na praia. No primeiro episódio da segunda temporada de “House of the Dragon”, fomos apresentados a Alyn of Hull (Abubakar Salim), o homem que salvou Corlys Velaryon (Steve Toussaint), do mar. No novo capítulo conhecemos o seu irmão, Addam of Hull.
O dragão que ele vê na praia é, nada mais, nada menos, que Seasmoke o dragão de Laenor Velaryon (John Macmillan), o filho de Corlys. Sem dar grandes spoilers do futuro, digamos que estas duas personagens (Addam e Seasmoke), serão importantes nos acontecimentos que estão por vir.
Erryk e Arryk, o Confronto de Irmãos
É a meio do episódio que vemos o início de uma das melhores cenas da nova temporada de “House of the Dragon”. Sentindo-se igualmente culpado pelos acontecimentos da noite passada, Ser Criston Cole tem um plano – enviar Ser Arryk Cargyll (Luke Tittensor), para Dragonstone com o objetivo de se fazer passar pelo irmão gémeo, Ser Erryk Cargyll (Elliott Tittensor), e assassinar Rhaenyra. Obrigada George R. R. Martin por não criares personagens com nomes confusos, especialmente quando se tratam de dois irmãos gémeos que estão prestes a lutar… Arryk está com Aegon, memorizem A – A. De nada.
O plano quase funciona, porém, Mysaria (Sonoya Mizuno), que acabara de falar com Erryk vê o irmão chegar a Dragonstone e, é deduzível, que alerta os guardas para a sua presença – afirmando-se como uma aliada importante e que continuaremos certamente a ver na nova temporada.
Quando Erryk se prepara para matar a Rainha, Arryk chega e os dois lutam. A partir de certa altura, é difícil perceber quem está a ganhar e quem será o derrotado. A luta é visceral, nada mais do que esperaríamos de dois irmãos que até há pouco tempo viviam como Um: uma Alma, um propósito.
O desfecho é igualmente violento e cruel. Após ter morto Arryk (aliado de Aegon), Erryk pede desculpa a Rhaenyra e vira a espada para si mesmo. Ele pode ter ganho a batalha, mas um mundo no qual matou o seu próprio irmão não é um mundo onde não vale a pena viver. Assim, de forma macabra, o plano de Ser Criston funciona: Rhaenyra perde um aliado e vê-se atacada na própria casa.
Otto Hightower, o rodeado por incompetentes
É impossível não falar na conversa entre Aegon II Targaryen e The Hand, Otto Hightower. Se no início do episódio, era o Rei que reagia aos comentários infelizes do seu conselho, no final de “Rhaenyra the Cruel”, é Otto que questiona a sua sanidade. Depois de conquistar para si uma cidade dividida entre apoiantes de Aegon e apoiantes de Rhaenyra, The Hand regressa ao princípio – a morte dos “rateiros” leva a população a questionar a proteção do Rei e os “sussurros regressam”.
Ele decide confrontar o Rei, em reunião com Ser Criston, e aqui temos um dos tais grandes momentos do episódio. As expressões faciais e corporais de Otto Hightower aos comentários de Aegon são únicos e conseguem arrancar algumas risadas sem perder o tom sério e crítico da conversa. Se a interpretação de Tom Glynn-Carney é excelente, a de Rhys Ifans não lhe fica atrás, como já seria de esperar deste magnífico ator.
As diferenças entre Otto Hightower, The Hand que quer ser Rei, e Aegon, o Rei inexperiente, culminam no afastamento do primeiro – uma decisão claramente não pensada e reflexo da “cabeça quente” de Aegon que, em sua defesa, tem sido tratado mais como o neto irresponsável do que como o Rei. Ser Criston Cole é agora não só o Lord Commander of the Kingsguard como The Hand – Lord Larys não ficará contente.
Um fim trágico
Os episódios de “House of the Dragon” tendem a terminar com algo trágico. Fomos da morte de Lucerys, para a morte de Jaehaerys. “Rhaenyra the Cruel”, não é diferente mas a tragédia é outra. Não temos a morte de ninguém. O novo capítulo da série da Max termina com Aegon desolado e abandonado. Alicent vê o filho e em vez de conversar, consolar ou tentar qualquer outro aproximamento, vai para o seu quarto onde encontra Ser Criston Cole e o episódio termina com uma cena íntima entre os dois.
Antes de terminar esta crítica, gostaria de dar uma festa mental ao cão de Cheese, que vemos mesmo antes de vermos o rateiro enforcado. Esperemos que alguém lhe dê uma sobras de pão. Estamos contigo, amigo patudo!