Mamadou Diop DLM

IndieLisboa ’20 | Baamum Nafi, em análise

Chegamos à Competição Internacional de longas-metragens desta edição de 2020 do IndieLisboa, a sua 17ª. “Baamum Nafi”, ou em inglês “Nafi’s Father”, é um dos grandes destaques desta secção e uma surpresa realizada pelo estreante Mamadou Dia

“Baamum Nafi” é a primeira longa-metragem realizada pelo senegalense Mamadou Dia. O autor escreve e realiza um filme que se propõe a ilustrar, através de uma bela e coesa narrativa, os efeitos nefastos dos extremismos islâmicos no norte de África. Esta obra chega até nós duplamente premiada no Festival de Cinema de Locarno de 2019, onde se destacou como “Melhor Primeiro Filme” e onde recebeu ainda a distinção de “Leopardo de Ouro Cineastas do Presente”.

É com entusiasmo que recebemos o primeiro trabalho de Dia, cuja primeira exibição aconteceu no dia 27 de agosto, pelas 21h30, numa sessão de cinema ao ar livre no telhado do Capitólio. Quanto à segunda exibição, esta terá lugar no Grande Auditório da Culturgest, no sábado dia 29 de agosto, também às 21h30.

Baamum Nafi IndieLisboa
IndieLisboa

A sessão começou com uma pequena apresentação introduzida por Alassane Sy, intérprete que dá vida ao pai de Nafi que nomeia o título. Sy encontra-se em Lisboa para participar nas Talks do IndieLisboa e apresentou o filme ao público português realçando a sua peculiaridade e especificidade. De acordo com Alassane a grande maioria dos filmes africanos são realizados para agradar a alguém, normalmente ao público ocidental. Na sua opinião “Baaumum Nafi” não corresponde a essa simplificaçãodo real, traçando um exercício bem mais meritório.Tal como Sy sugeriu, “Nafi’s Father” transporta-nos de facto para um novo mundo desconhecido. O realizador apresenta aqui um trabalho fortemente pessoal, filmado inclusive na sua cidade natal, Matal, uma pequena cidade do Senegal.

Em “Baaumum Nafi” apresenta-se a história de dois irmãos, Tierno e Ousmane, os quais se envolvem numa rixa motivada pelo casamento entre os dois filhos. Este é apenas o rastilho inicial que vai exaltar os ânimos numa história dominada pela luta interna de um homem, Tierno (Alassane Sy numa prestação notável) , o imã da vila, que se esforça contra o fundamentalismo religioso que começa a ameaçar apoderar-se da pequena comunidade a uma velocidade vertiginosa.

Na pequena povoação senegalense pouco se altera, o imã é o mesmo há muitos anos e já ninguém se recorda sequer do verdadeiro nome dele. O Presidente da Câmara vive numa espaçosa vivenda e os assuntos da sua povoação arrastam-se durante anos e anos. Isto até chegar uma nova ameaça, a de um fundamentalismo conservador que recusa o hedonismo e diversão e suborna a impressionável povoação com subornos monetários e sementes antes de uma exponente violência se instaurar, envolta numa forte impunidade. Será esta a história de tantas pequenas povoações das quais nunca ouvimos falar nas nossas notícias?

TRAILER | BAAMUM NAFI

“Baamum Nafi” é tanto um drama familiar quanto político, uma lição de cinema que aparenta ser também uma lição sobre a vida e sobre o perigo eminente que os extremismos transportam consigo. O filme é um slowburner , ou seja, apresenta um ritmo lento mas sempre em crescendo e ao longo de perto de duas horas começa por ilustrar pequenas mudanças que nos transportam até um desenlace de elevada carga dramática.

Uma narrativa vibrante que coloca um entrave às distâncias culturais entre o mundo ocidental e a realidade do continente africano , colocando em primeiro plano evidências sócio-políticas que se fazem suster através de valores universais, como o valor da tolerância, moderação. Uma lição bela e preciosa.

Baamum Nafi, em análise
baamum nafi indie

Movie title: Baamum Nafi

Date published: 28 de August de 2020

Director(s): Mamadou Dia

Actor(s): Alassane Sy, , Saikou Lô, , Aicha Talla, , Penda Sy

Genre: Drama,

[ More ]

  • Maggie Silva - 85
85

Um resumo

Um dos grandes destaques desta Competição Internacional, num filme que nos recorda os perigos dos fundamentalismos através de uma história memorável;

O MELHOR: A coesão narrativa e as interpretações centrais;

O PIOR: Por vezes existem certas quebras de ritmo que poderiam ser evitáveis, embora estas não prejudiquem a qualidade do produto final;

MS

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