Joan Shelley - Like the River Loves the Sea (2019)

Joan Shelley, Like The River Loves The Sea | em análise

Em Like The River Loves The Sea, Joan Shelley transporta-nos para outro lugar através da delicadeza da sua voz e canções.

Joan Shelley é uma compositora e cantora que nos chega do Kentucky. Louisville, mais precisamente. As suas origens têm um papel de destaque na sua música, com a tradição folk presente tanto nas composições como na própria voz. Em Like The River Loves The Sea, que nos chega pela editora No Quarter, Joan Shelley é creditada como a única compositora de todas as canções do álbum. Depois de um LP gravado no estúdio dos Wilco, em Chicago, as faixas deste mais recente álbum foram gravadas em Reiquiavique, contando com a participação das irmãs islandesas Sigrún Kristbjörg Jónsdóttir (violino e viola de arco) e Þórdís Gerður Jónsdóttir (violoncelo).

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Ainda sem ouvir um segundo do álbum, olhando para a capa do mesmo vem-me o nome Joni Mitchell à cabeça. Das várias capas de álbum pintadas por Mitchell, torna-se impossível não relacionar a do recente disco de Shelley com a de Clouds, lançado precisamente há cinquenta anos e que tenho agora mesmo ao meu lado. São duas gravuras completamente diferentes e com poucos traços em comum de forma óbvia. No entanto, um é fortemente reminiscente do outro.

Shelley abre o jogo com “Haven”, uma canção que não passa da marca dos dois minutos, avançando rapidamente para a faixa seguinte. Talvez todas estas comparações sejam injustas. Ainda assim, depois das duas faixas iniciais, é inevitável reconhecer Joan Baez com ligeiras infleções de Brandi Carlile na voz de Shelley. Depois de uma abertura serena, “Coming Down For You” mostra-se com movimento, propulsionada pela percussão. Neste tema mais orientado para o bluegrass, a voz de Shelley camufla-se no final das frases, por entre harmonias e o instrumental. A tradição não podia estar mais ao rubro, mas sempre com a marca “Joan Shelley” presente.

JOAN SHELLEY | “COMING DOWN FOR YOU”

Em “The Sway”, o andante também se sente, letras inclusive. O motivo entra a toda a força na nossa cabeça e, apesar de pacífica, a canção empurra-nos a sentir a mesma com o corpo. Dançar talvez seja demasiado; não balançar, impossível. A malha que os instrumentos formam, através de guitarras, percussões e vozes, transmitem-nos acalmia e, ao mesmo tempo, imaginamos um rio que não para de correr. Um dos aspetos de destaque do álbum é a beleza das composições e “The Sway” é um ótimo exemplo, mas certamente não está isolado.

Na faixa antecedente, “The Fading”, também está presente este traço. No entanto, é, de facto, difícil ver “the beauty in all the fading”. Os primeiros dois minutos impressionam, mas no último a repetição acaba por levar o melhor da canção. Melhores exemplos seriam “Teal” e “High On The Mountain”. Na primeira, as melodias ligam-se de forma bastante natural, não deixando de ser diferenciadas, sentindo-se vários pontos de origem numa linha contínua. Ambas as canções transportam-nos para a Natureza. Em “Teal”, a artista repete “fresh air and wind and waves”. A paisagem em “High On The Mountain” é diferente, mas a sensação de descanso ao ar livre persiste (“Can we stay here, where the air is sweet?”).

LIKE THE RIVER LOVES THE SEA | “THE FADING”

É interessante ver como Joan Shelley usa a tradição da música folk ao longo do álbum. “When What It Is” mostra-nos um à-vontade que permite inserir partes de harmónio e piano fora do seu habitat natural. No entanto, Shelley consegue arranjar espaço na relva para todos, dando relevo a uma canção que, caso contrário, seria bastante monótona. Em “Stay All Night”, é perceptível a intenção de contemporaneidade, usando ritmos e percussão acentuados e a repetição da linha “I wanna stay all night”, que, por sua vez, integra a palavra “night” várias vezes. A técnica da repetição e os acentos comunicam-nos algo mais pop, estando nas cordas e na própria voz de Shelley os aspetos mais tradicionais.

Ainda assim, não funciona tudo tão bem ao longo do registo. Entre pequenos almoços e a luz da manhã, Shelley refugia-se em melodias gastas em “Awake”, um ponto fraco do álbum. Este confiar excessivo na tradição também se nota, pela negativa, nas canções “Tell Me Something” e “Any Day Now”.

JOAN SHELLEY | “HIGH ON THE MOUNTAIN”

Like The River Loves The Sea é uma viagem no tempo e no espaço. Logo no princípio somos levados para a década de 60 e deixados num local sossegado e ao ar livre, a que bem alude a capa do álbum. Joan Shelley mostra-nos o potencial de beleza contido em composições simples, deixando também claro que, por vezes, o simples e tradicional não passam do elementar. Shelley não precisa de muito mais para edificar uma Arcádia, num álbum que prima pela pura formosura das canções e pelas imagens que esboça, de tenras paisagens a eras inteiras.

Joan Shelley, Like The River Loves The Sea | em análise
Joan Shelley - Like the River Loves the Sea (2019)

Name: Like The River Loves The Sea

Author: Joan Shelley

Genre: Folk, Cantautoria

Date published: 30 de August de 2019

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  • Pedro Picoito - 83
83

Um resumo

A beleza das composições é o ponto forte. Like The River Loves The Sea são 38 minutos de passeio por outras, mais tranquilas, paragens. Vemos “fresh air and wind and waves”. Para onde vamos, não sabemos ao certo. Só sabemos como fomos lá parar. Joan Shelley usa a música folk que o Kentucky lhe deu, a sua voz e os seus talentos de composição, ambos de outro mundo, para nos guiar pela Natureza, ora de uma paisagem ora das relações humanas. Para viajar, basta carregar no play e deixarmo-nos ir.

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