Oddity, a Crítica: Filme vencedor da Competição do MOTELx garante muitos sustos
“Oddity” foi o grande filme vencedor da Competição Europeia do MOTELX em 2024, candidato agora ao prémio internacional Méliès d’argent. Cumpre na execução do terror, na capacidade de ser um dos mais tenebrosos títulos do festival e providenciar ainda jump scares à antiga.
Vimos “Oddity”, na sala nobre do Cinema São Jorge, já na marca da sua terceira sessão, após ter vencido a secção “âncora” do MOTELx em 2024 – a Competição Europeia. Obra oriunda da Irlanda, previamente elogiada por nomes relevantes do cinema de género como Mike Flanagan (“The Haunting of Hill House”) e assinada por Damian McCarthy, eis que este filme soube cumprir a sua promessa.
Atmosférico, muito escuro e claustrofóbico, ancorado numa localização principal quase única, arrepiante desde o primeiro take, “Oddity – Estranheza” não sou sabe casar histórias de bruxas, fantasmas, e uma brutalidade bem humana na perfeição, como reivindicar alguns dos sustos mais bem executados do ano. Gritar em sala não será uma ocorrência rara durante as exibições comerciais de “Oddity”, tal é certo.
Esta é a história de duas gémeas, maravilhosamente interpretadas por Carolyn Bracken (“The Quiet Girl”). Uma delas morre assassinada na sua nova casa; e a outra tudo fará para descobrir a verdade e conseguir vingança. A primeira era casada com um médico racional, a segunda é uma vidente com a capacidade de saber tudo sobre os mortos através dos seus bens.
A ameaça do sobrenatural é constante ao longo de “Oddity”, mas a sua força reside, ainda assim, na forte humanidade do seu confronto com o perigo que se encontra sempre à espreita, um perigo bem palpável, e que infelizmente é por norma bem mais real quando comparado com as “oddities” que circundam a excêntrica protagonista da obra.
Na batalha entre o sobrenatural e o racional, o mais importante não é mesmo saber quem ganha, mas antes quão tenebrosas podem ser as acções daqueles que nos rodeiam; e de forma a sua punição irá ou não chegar.
Há que dizer que “Oddity” não tem um argumento excelente – é bastante simples, percebemos com o que contar depressa, e depois de uma reviravolta bastante previsível, não volta mais a surpreender-nos no seu terceiro ato.
Não, “Oddity” não depende de ideias complexas, nem sequer de uma progressão imperdível, mas antes da capacidade de criar verdadeiro terror. Um exemplo maravilhoso é a sequência inicial, em que acompanhamos a irmã assassinada na sua última noite de vida. À medida que um suspeito nos é revelado, as dúvidas são muitas e o calafrio sentido pela protagonista da cena inunda-nos. Nunca o filme voltará a chegar a este nível de tensão, nem sequer nas suas sequências finais. Mas aproxima-se, e perturba-nos, uma e outra vez. No final, o poder da resolução feroz e irónica é responsável pela satisfação inevitável.
E, claro está, uma obra que assumidamente assenta na retribuição deverá, terá de ser, um bom conto de vingança. Nisso “Oddity” não falha, inclusive propondo uma nota de humor inesperada a fechar uma obra que é, na sua grande parte, incrivelmente negra (mas nunca desprovida de ironia, como referimos e como é muito importante reforçar).
Pode ficar aquém de outros vencedores mais densos em edições passadas do MOTELx, como “Speak no Evil” em 2022 ou o incrivelmente cerebral “Superposition” no último ano. Mas nem todos os anos precisamos de uma trama dinamarquesa pesada e profunda a destruir-nos a paz de espírito. Por vezes, uma história que junta fantasmas, homicídio e vingança, e que consegue manter e intensificar a tensão, é mesmo o recomendado!
Boas novas! O irlandês “Oddity”, vencedor da Competição Europeia do MOTELX 2024, estreia em Portugal, nas salas comerciais, já a 28 de novembro, com distribuição pela Vendetta.
Oddity, a Crítica
Movie title: Oddity
Movie description: Passaram-se alguns meses desde a morte da sua irmã gémea quando Darcy, uma médium cega que gere uma loja de curiosidades, é visitada por Ted. Antes de se ir embora, o ex-cunhado dá-lhe duas notícias – o homicida de Dani foi brutalmente assassinado na sua cela e ele irá casar-se novamente. Perturbada, Darcy retribui a cortesia de Ted e visita-o, uns dias depois, em sua casa. Consigo, leva um dos objectos da sua colecção: um golem de madeira. Ted tem de ir trabalhar, mas Yana, a sua nova namorada, Darcy e a estátua misteriosa estão prestes a começar a noite mais longa das suas vidas.
Date published: 18 de September de 2024
Country: Irlanda
Duration: 98'
Author: Damian Mc Carthy
Director(s): Damian Mc Carthy
Actor(s): Carolyn Bracken, Gwilym Lee, Tadhg Murphy
Genre: Terror, Sobrenatural
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Maggie Silva - 77
Conclusão
“Oddity” não é particularmente inventivo, mas tem a capacidade de juntar várias ‘tropes’ do cinema de género e fazer com que todas resultem numa mesma narrativa clara e direta: existem fantasmas, elementos de possessão, a temática dos homicídios e femicídio é abordada, e o sobrenatural expressa-se ainda através de objetos amaldiçoados.
À partida, todos estes elementos poderiam parecer excessivos em número, dispersando quiçá a atenção. Felizmente, tal não acontece e sentimos que a ‘estranheza’ de “Oddity” é bem plena e inequívoca, embora o filme não nos surpreenda ou deixe uma marca particularmente forte nos mundos do terror.