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MONSTRA ’21 | Josep, em análise

A MONSTRA – Festival de Animação de Lisboa fechou as suas exibições a 1 de agosto. Estas são as impressões dos filmes que vimos ao longo dos últimos dias. Estivemos presentes, a 27 de julho, no Cinema São Jorge, para assistir à segunda sessão da Competição de Longas-metragens. “Josep” é uma obra valorosa, numa co-produção entre Espanha, França e Bélgica que evoca um evento biográfico pouco rememorado. 

“Josep”, obra galardoada com a distinção de Melhor Filme de Animação nos franceses César, Melhor Longa de Animação Europeia nos European Film Awards, vencedora do Prémio de Apoio à Distribuição em Annecy, distinguida em Atenas e ainda Seleção Oficial em Cannes em 2020, surge na MONSTRA como a segunda obra exibida na competição de longas.

JOSEP Competição Longas-Metragens 2
©MONSTRA

A seguir-se ao mal recebido primeiro filme do Estúdio Ghibli em animação digital 3D, “Aya e a Feiticeira”; “Josep” é uma lufada de ar fresco e uma digna viagem pela memória da Europa assolada pelo peso das ditaduras do século XX:

Fevereiro de 1939. Os republicanos e anarquistas espanhóis evadem-se para França para fugir à ditadura franquista. O governo francês constrói um campo de concentração para confinar os refugiados, onde mal há acesso a higiene, água, ou comida. É num destes campos que, separados por arame farpado, dois homens se tornam amigos. Um é guarda, o outro é Josep Bartoli (Barcelona 1910 – Nova Iorque 1995), um ilustrador que luta contra o regime de Franco.

Narrada do ponto de vista do guarda que salvou a vida ao artista catalão Josep Bartolí, já  no final da sua vida e a transmitir a sua história ao jovem neto, “Josep” é uma colorida viagem em animação tradicional rumo aos campos de concentração franceses que albergaram os refugiados espanhóis no final da Guerra Civil Espanhola.

Uma história que se encontra com a da Segunda Guerra Mundial, mas que a antecede, para além da sua imensa humanidade, “Josep” é ainda uma criação vencedora por colocar o destaque numa história pesada da qual muito pouco ou nada ouvimos falar.

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©lesfilmsdupoissonrouge

Drama biográfico baseado em duas vidas que se entrelaçaram de forma inesperada, eis que este curto mas incisivo “Josep” se baseia numa publicação real na vida deste cartoonista. Depois de ter lutado na Guerra Civil Espanhola e ter estado enclausurado num campo de refugiados em França, Bartolí publicou uma colectânea de múltiplos desenhos que retratam o seu tempo neste espaço opressivo onde, à lá “Triunfo dos Porcos” e “MAUS“, os guardas do campo se despiam perigosamente da sua humanidade e se assumiam como quasi suínos.

Esta é a estreia de Aurel no mundo do cinema, sendo mais associado ao seu trabalho no universo da banda-desenhada. E que esforço inaugural, este em que traça o trajeto do grande artista catalão que trabalhou algures entre Espanha, Estados Unidos e México (onde encontrou em Frida Khalo uma musa e parceira, como o filme também aborda brevemente) até ao final da sua vida.

Foi Georges Bartolí, sobrinho do artista, o responsável pela mediatização desta fase da vida do seu tio. Aurel encontrou esse livro, “La Retirada: Éxodo Y Exilio de Los Republicanos Españoles” e, chocado pelo sofrimento patente nos relatos e nas ilustrações, decidiu utilizar este material como a base para criar esta reflexão acerca da memória e da paixão – esta segunda o último reduto capaz de conferir esperança perante um cenário de horror.

Nítido hino à resiliência, “Josep” honra homens e mulheres que ousaram lutar por uma sociedade mais justa e democrática enquanto a Europa vacilava perante o peso dos regimes autocráticos. Apesar de triste e por vezes cruel, o filme nunca abandona a esperança como força motivadora e a arte como o mais nobre e vibrante dos escapes.

TRAILER| JOSEP É UM RETRATO BIOGRÁFICO DA LUTA CONTRA O FRANQUISMO 

 

A MONSTRA decorreu, em 2021, entre 21 de julho e 1 de agosto. 

Acompanharam as 5 sessões de longas-metragens em competição? 

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