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Preparado para o MOTELX? João Monteiro revela novidades da nova edição do festival

A poucos dias do início de uma nova edição do MOTELX, a Magazine.HD esteve à conversa com João Monteiro, o diretor do Festival, que nos contou todas as novidades.

Este ano, o MOTELXpreparou um verdadeiro menu gourmet para dar a provar a todos os espectadores sedentos de sangue. Ao longo de sete dias, o Cinema São Jorge recebe a 17ª edição do Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa e este ano conta com novidades bem fresquinhas. Para além das estreias de longas-metragens a serem exibidas, há ainda um concurso para longas-metragens, uma parceria com o Guiões – Festival do Roteiro de Língua Portuguesa e com o Youtube, bem como uma secção dedicada aos mais novos. Prevê-se uma semana bem aterradora para todos os visitantes do Festival, prometendo horas de entretenimento e importantes conversas com importantes pessoas do meio.

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A poucos dias do início do Festival, a Magazine.HD esteve à conversa com João Monteiro, o diretor do MOTELX. Num ambiente descontraído, o responsável pelo Festival falou-nos das novidades preparadas para a 17ª edição e explicou-nos o processo criativo para montar este evento dedicado ao cinema de terror, o qual começa já no dia 12 de setembro.




Magazine.HD: Este ano, a temática do Festival MOTELX está muito ligada à culinária e aos menus gourmet! Como é que surgiu este tema? 

João Monteiro: Nós não temos um grande controlo, quer dizer, temos relativamente! Mas, geralmente, as nossas campanhas são desafios lançados a empresas de comunicação e de publicidade, que ficam sempre muito contentes por poderem trabalhar fora desse âmbito e poderem brincar um bocadinho aos filmes de terror [risos]. Lembro-me que houve dois anos com duas empresas diferentes, em que o spot promocional era uma bailarina e depois, no ano a seguir, era um casal numa discoteca a dançar. Portanto, este ano, quando veio esta versão da culinária, achámos interessante poder mudar um bocado.

Mas não foi algo que fosse pensado, porque o que nós fazemos, geralmente, é montar as peças. Ou seja, esta campanha, o filme que conseguirmos, o convidado que conseguirmos, mas tentamos deixar aqui um pacote, ou uma lógica que consiga, de certa maneira, vender. Poder comunicar isto desta maneira tem mais graça. Estar a planear tudo, depois vai tudo correr mal, nunca vai correr como nós queremos [risos]. Portanto, mais vale deixar as coisas fluírem e, depois no fim, olhamos para elas como uma espécie de tentativa de conjunto que geralmente resulta. 

MOTELX
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Magazine.HD: O João tocou aqui num ponto importante que é o convidado. O David Cronenberg é um marco na história do cinema, e este ano temos o filho dele, o Brandon, no MOTELX… Como é que foi feita esta seleção?  

João Monteiro: A questão dos convidados, e até dos filmes, também passa por uma quantidade de variáveis. Ou seja, quando o Festival começou, nós tínhamos uma lista extensíssima e queríamos trazer todos os realizadores que tinham feito um episódio do Masters of Horror. Não conseguimos todos, mas conseguimos grande parte deles, e alguns é mesmo por azar ou por falta de disponibilidade, e depois, entretanto, foram falecendo! Já é um bocado mais difícil [risos]. Mas agora já temos uma lista feita ao contrário, que é com os novos talentos, aquelas realizadores que nós gostamos, ou realizadoras, e quem queremos, de certa maneira, mostrar o potencial que já existe.

O Ari Aster foi marcado por acaso, porque na altura, ele veio ter connosco. Mas, de certa maneira, começámos a achar engraçado, porque estávamos agora a ter como convidados os nomes mais importantes. Falta-nos o Robert Eggers, a Julia Ducournau, fala-nos uns quantos… E este ano, assim que saiu o “Infinity Pool”, ficámos logo com vontade. Até porque o Brandon Cronenberg não tem estreado, a obra dele é um bocado perdida aí por vários sítios, e nós quisemos juntá-la e permitir ao espectador que pudesse observar para perceber, obviamente, os traços comuns autorais dele. E, obviamente, a razão pela qual já não faz sentido falar dele enquanto ‘filho’ [risos].  

Infinity Pool
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Magazine.HD: Este ano, na secção de longas-metragens a apresentar temos uma muito especial que é “A Semente do Mal”, uma longa-metragem portuguesa, mas, pela primeira vez, não é uma produção experimental. Isto é um marco para a história do MOTELX?

João Monteiro: Para nós foi simplesmente surpreendente quando o próprio realizador veio ter connosco para nos mostrar o filme, todo contente porque tinha feito um filme de terror, então nós obviamente fomos ver [risos]. Quando vimos o filme achámos ‘ok, se calhar é mais um daqueles casos que é cinema de autor, cinema mais experimental, e, portanto, com alguns laivos de terror ou de género’, que é o que acontece muito em Portugal. E saiu-nos o contrário! Ou seja, é um filme que tem como objetivo bater os pontos todos – tem uma casa assombrada, uma mansão sinistra no meio da floresta, uma mãe sinista…, mas é todo passado em Portugal. Ou seja, não é daqueles filmes que se dobrasses podia passar em qualquer lado. É tipicamente português e, nesse sentido, é inesperado, principalmente, porque os realizadores são já meio consagrados, a obra deles de curta-metragem tem estado nos festivais todos, e o “Diamantino” ganhou o prémio em Cannes.

O Carlos Conceição tem um universo muito mais pessoal e usa isso para expressar as suas inquietações artísticas. O Gabriel Abrantes tem muito o prazer de jogar e do brincar. Acredito que tenham sido divertidíssimas as filmagens deste filme [risos], porque tem efeitos especiais, tem practical effects, próteses, máscaras, etc. Portanto, espero eu que possa ser um marco para o cinema português. Mas que possa, pelo menos, encher bem a sala. Eu acho que é isso que um filme destes precisa, ou seja, que não seja nenhuma coisa que já tem algum sucesso na televisão ou que seja simplesmente um produto comercial. Se é muito mais do que isso, que possa ter sucesso e que possa fazer como “Barbie” ou um “Oppenheimer” [risos]. E que possa ter um efeito de contágio, obviamente. Mas nunca pensei na vida ter um filme de Gabriel Abrantes a estrear no MOTELX. Eu achei que íamos estar sempre dentro do campeonato dos realizadores mesmo de terror ou que querem começar a fazer terror, e que vão fazer nome no género, o que não é o caso dele. 

SEMENTE DO MAL
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Magazine.HD: O MOTELX já tem uma grande história, já tem muitas edições, mas mesmo assim continua a surpreender e este ano tem uma novidade que é uma parceria com o Festival Guiões. Como é que surgiu esta parceria? 

João Monteiro: Nós conhecemos o Luís Campos, que é o diretor do Guiões, há algum tempo. Ele chegou a concorrer com uma curta no MOTELX. E, geralmente, o Guiões acontece no Cinema São Jorge, mas este ano havia ali um problema de datas que tinha a ver com obras que iam acontecer no São Jorge. Portanto, o Luís lembrou-se de nos perguntar o que é que a gente achava de fazer um cruzamento, ou de o Guiões acontecer dentro do MOTELX. Até porque, no ano passado, eu fui júri no Guiões e achei interessante porque o guião que ganhou era um guião de terror, de uma rapariga chamada Rita Roberto. E então, nós achámos que poderia ser o combater de uma falha que havia aqui, que era a questão do argumento. Então, vamos fazer um Guiões mais virado para o MOTELX, e um MOTELX mais virado para o Guiões.

Portanto, vamos não só dividir alguns convidados, como o Rodrigo Teixeira, que vem no âmbito do Guiões, mas também vem para o Motel X, apresentar o “The Witch”. Depois, vai fazer uma master class, e apresentar um prémio para Guiões portugueses, que vai ser interessante. Portanto, temos cinco finalistas e esses cinco finalistas vão poder apresentar, ou defender, como se estivessem perante um júri, e, de certa maneira, estão perante produtores, tanto portugueses como brasileiros. Vai ser interessante ver se conseguimos que algum destes projetos possa seguir em frente. Imaginar que no futuro, possamos estar presentes em todas as fases do processo de produção, ou seja, começar aqui no guião, depois ver o desenvolver para outra plataforma, e depois, imaginar que no fim haja uma estreia mundial no MOTELX, ou nacional, pelo menos. O Guiões permite aumentar um bocado esse lado mais pedagógico, porque também nos põe em contacto com pessoas que habitualmente não conseguimos atrair para o MOTELX. Neste momento, há uma grande comunidade de profissionais de cinema brasileiro a viver em Lisboa, portanto, eu acho que faz todo o sentido que isto tudo se cruze. 

THE WITCH
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Magazine.HD: E para além do Guiões, há uma nova parceria com o YouTube. Porquê? 

João Monteiro: Micro Curtas, telemóveis, YouTube… acho que vai lá tudo dar e ficámos contentes porque o YouTube achou imediatamente piada à ideia, e, portanto, vai ajudar-nos até a criar um prémio para as ‘Micro Curtas’. Portanto, este ano, a ‘Micro Curtas’, já não é quase como uma brincadeira, é uma coisa já quase mais profissional. E isso é interessante porque não tem a ver só com a capacidade de ir para a escola ou ter acesso a equipamentos – com um telemóvel tu fazes um filme. Podes muito bem estar num festival qualquer grande e, portanto, queremos estimular isso. Ainda por cima, alguns dos melhores filmes de terror da história foram feitos um bocado nessa base, como “A Noite dos Mortos Vivos”, que não foi feito por ninguém que estudou na escola de cinema, foi feito ao fim de semana [risos].

E, portanto, acho que é bom poder o YouTube dar-nos assim uma força maior para as ‘Micro Curtas’. Depois há outras questões, quer dizer, eu acho que também a própria produção do cinema tem que mudar um bocado, a nível ambiental e ecológico e, portanto, quanto menos conseguirmos reduzir as equipas e fazer mais filmes, e também a pegada ecológica, melhor! Portanto, as ‘Micro Curtas’ pode ser um futuro interessante para uma mudança do paradigma da produção de cinema. Ambicioso demais, mas pronto [risos]. 

Magazine.HD: Há uma secção do MOTELX que já se tornou muito popular, que é o ‘Lobo Mau’, dedicado aos mais novos. Qual é a importância de trazer o terror para os mais novos? Geralmente não pensamos em filmes de terror para crianças. Qual é a importância de ter uma secção para os mais novos?

João Monteiro: Acho que tem imensa importância, porque o medo começa um bocado nessa lógica do Papão, do Homem do Saco, e todas essas histórias que se contavam às crianças para elas não se meterem em sarilhos. Eu acho que não é só questão do medo, mas a questão da morte, por exemplo, é interessante de ser trabalhada no conjunto, porque os filmes de terror são um bocado sobre isso. E nós temos tendência a não querer discutir esses problemas, não querer falar deles.

O MOTELX oferece uma pequena contribuição que é exibir filmes de animação mais negra, digamos assim, mais macabra. Quer dizer, obviamente que eles não vão ter “A Branca de Neve”, do Walt Disney, e “Fantasia”, como nós tivemos, que eram absolutamente aterradores [risos]. Agora é tudo muito mais colorido! A ideia é também depois, obviamente, estas sessões serem sempre acompanhadas por um lado pedagógico, ou seja, por uma vertente em que se possa discutir um bocado o que se viu e que se possa contextualizar, junto com os miúdos, para não ser só quela coisa do susto. Aliás, a secção chama-se ‘Susto Curto’, mas não é só um susto curto e vai-te embora. Portanto, é um serviço que nós prestamos, mas também são espectadores que nos interessam bastante, porque o futuro é deles [risos]. 

perlimps
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Magazine.HD: Para terminar, na secção de longas-metragens há uma outra novidade que é o regresso de David Farrier ao Festival. Que outras novidades destaca?

João Monteiro: Não sabia que era tão famoso, porque já me fizeram várias perguntas sobre ele [risos]. Então, destaco o facto de termos uma abertura e um encerramento francês este ano, e um bocado em volta do mesmo tema, que é a crise ambiental. O MOTELX, apesar de tudo, não é suposto ser um festival só para escapismo, não é? Portanto, gostamos que as pessoas vão para o MOTELX para falar de cinema, mas também de outros estudos, porque os filmes também proporcionam outro tipo de temáticas e outro tipo de visões que nós não temos nos meios de comunicação normais em que somos bombardeados todos os dias com o fim do mundo [risos].

Depois temos cinema brasileiro, que também não tem uma indústria muito grande de cinema de terror, mas de vez em quando vão aparecendo alguns filmes e, cada vez mais, filmes que se têm destacado, como “O Caso do Estranho Caminho” que ganhou quase todos os prémios do Festival de Tribeca e que é um filme maravilhoso; o “Propriedade”, que é um filme mais típico dentro de uma especialização do cinema de terror que é a luta de classes, neste caso entre proprietários e trabalhadores. Os brasileiros conseguem explorar bem essa dicotomia no filme de terror. Temos mais cinema asiático este ano, especialmente de Hong Kong e Coreia. Vamos ter duas estreias mundiais na secção de competição europeia, onde está “A Semente do Mal”, do Gabriel Abrantes, e um filme turco chamado “The Funeral”, o que para nós é um passo em frente, porque são filmes que, com certeza, vão fazer agora o circuito todo da Federação e o MOTELX é a primeira paragem. É sinal de que o festival tem crescido também um bocadito lá fora a nível da imagem, digamos assim.

Temos um filme produzido pelo ICA, de uma produtora norte-americana, mas sediada em Portugal. O filme chama-se “Lovely, Dark and Deep” e foi realizado por Teresa Sutherland, é uma primeira obra, porque ela era argumentista, especialmente de um filme que nós já exibimos, chamado “The Wind”, que era uma coboiada de Mulheres. Este filme tem essa particularidade de ter sido todo filmado em Portugal e a equipa técnica ser, maioritariamente, portuguesa, a artística ser um misto, ou seja, é um começo, uma produção mais sustentada de cinema de género, e com profissionais que vêm lá de fora e que podem, obviamente, cruzar-se com os jovens e não.

The funeral
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Também queria destacar um mega épico que irá passar no domingo à tarde. Chamou-se “Kennedy” e é um filme indiano. Não tem nada a ver com Bollywood [risos]. É um bocado nas margens de Bollywood. É um cinema de gângsteres, passado em Bombaim, realizado por um senhor chamado Anurag Kashyap, um dos grandes nomes do cinema indiano e independente, nomeadamente na vertente noir. Ele é considerado o Scorsese de Bombaim [risos]. Os filmes deles têm tudo à volta de gangues, guerras de gangues, são ultraviolentos sempre. Nós já exibimos um filme dele chamado “Psycho Raman”, que era uma história de amor entre um civil e um policia corrupto. No “Kennedy”, também há um mercenário que trabalha com a polícia. É um épico de crime passado numa das cidades mais populosas do mundo, ainda com resquícios da pandemia, e a novidade é que o realizador vai estar presente para a apresentação. Nós estamos contentes porque somos grandes admiradores! É um nome bastante grandes do cinema atual. 

Bom, temos uma sessão surpresa da qual eu não posso falar, não posso dizer absolutamente nada [risos]. E no último dia, dentro da secção, ‘Quarto Perdido’, este ano dedicado ao mar, e em parceria com o projeto FILMar, que está a recuperar todos os tipos de filmes dedicados ao mar, vamos ter outra comemoração – 100 anos de um filme chamado “Os Olhos da Alma”, que podia fazer duzentos, porque ninguém conhece este filme [risos], mas convém conhecer, porque sabemos pouco sobre o cinema mudo. Mas, “Os Olhos da Alma” é surpreendente, primeiro porque é um épico e foi escrito e produzido por uma senhora chamada Virgínia Castro e Almeida, que é uma das grandes pioneiras do cinema português. A realização é de um homem chamado Roger Lion, que era francês, e é mais misteriosa esta presença desta senhora de quem pouco se sabe e pouco se escreveu sobre ela. E é engraçado ver este filme nessa perspetiva de que isto foi escrito por uma mulher. Portanto, vai ter uma banda sonora toda nova, composta pela Surma e tocada ao vivo por ela no último dia. Portanto, acho que vai ser muito curioso porque o filme vai ser exibido na Sala Manoel de Oliveira, provavelmente em película. Não só é uma sessão ao passado, mas uma viagem ao passado!

TRAILER | MY ANIMAL SERÁ EXIBIDO NA 17ª EDIÇÃO DO MOTELX

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