® 2023 Nord-Ouest Films -Studiocanal - France 2 Cinema - Artumis Productions

MOTELX’23 | The Animal Kingdom, a Crítica

De 12 a 18 de setembro, o Cinema São Jorge volta a acolher o Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. Na terça-feira que lançou o mote para mais uma semana de cinema de género, a abertura ficou a cargo da obra francesa “The Animal Kingdom”.

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De Thomas Cailley, vimos “The Animal Kingdom”, a sua segunda longa-metragem, no dia 12 pelas 21h00.  escolhido para inaugurar as lides do 17º MOTELx, depois da habitual apresentação detalhada da programação do Festival e dos seus momentos mais especiais, com direito à presença de organização, jurados e outros convidados.

A sessão de abertura deste MOTELx coincidiu com a secção Un Certain Regard do Festival de Cannes, também em 2023 inaugurada por este “Le Règne Animal”, uma co-produção entre a França e a Bélgica que nos narra uma fábula, a história de uma pandemia invulgar, a qual faz com que seres humanos se transformem em diversas “bestas” do reino animal.

La regne animal
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Na imagem: “Le Règne Animal” enfatiza, com perspicácia, a importância do nosso relacionamento com o meio ambiente.

No âmago da história, curiosamente tal qual como vimos mais cedo neste dia com “Hounds” (embora explorado de uma forma bem distinta), temos não só uma viagem protagonizada por um pai e um filho, como também a exploração da relação entre a humanidade e a bestialidade, desta vez aqui do ponto de vista de um conto que não é senão ecologista e eco-consciente, como muito do terror emergente dos últimos anos (recordamos, por exemplo, “Polaris”, que vimos no último ano no MOTELX, entre tantos outros).

Aqui, encontramos um “novo normal” bizarro, à medida que acompanhamos uma espécie de apocalipse lento (é um apocalipse francês, claro está). No mundo de “The Animal Kingdom”, uma onda de mutações transforma certos humanos em bestas diversas. E embora não saibamos porquê nem que medidas poderão ser tomadas para abrandar esta tendência, depressa compreendemos que, como é habitual, a reação humana tende para a violência e não compreensão destes novos seres.




Para lá dos seus elementos que oscilam entre o mágico e a ficção científica, “The Animal Kingdom” é a história da relação que a humanidade mantém entre si e também a história da nossa vida capitalista, sedentária e removida do contacto da natureza. Tal é claro desde o primeiro instante e um pacote de batatas fritas será um objecto essencial na transmissão da “mensagem” ou “moral” do filme, a qual não se coíbe de ser bem explanada.

Neste novo mundo, povoado por humanos transformados em animais, François fará de tudo para salvar a sua mulher, vítima desta mutação. Tal inclui mudar-se com o seu filho de 16 anos, Émile, para uma zona ribeirinha noutro extremo de França. Aqui, a convivência com os “monstros” é diária, mas nem todos os seres humanos sabem abraçar a diferença.

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Em geral uma obra ambiciosa, nomeadamente na sua execução, pautando-se por excelentes efeitos práticos que colocam a ênfase no corpo e no real, ao invés de dependerem de efeitos especiais que dão à imagem um cariz mais plástico, “The Animal Kingdom” tem um ligeiro problema de tom ou de equilíbrio. Ora é uma obra pautada pela body horror, ora é um comentário Kafkiano acerca da animalidade e humanidade (à lá “Metamorfose”) ou, por vezes, torna-se antes um fantástico enternecedor (mais “Nárnia” que terror).

O maior problema de “The Animal Kingdom” é que esta mudança de tom não é orquestrada na perfeição, imiscuindo-se aqui e ali ao longo da história. Ao invés disso, o filme tem uma primeira metade dominada pelas marcas de body horror, pelo grotesco e até pela presença de inúmeros códigos do terror, como jump scares envolvendo figuras desconhecidas na noite.




na segunda metade, guinamos drasticamente para um tom mais emotivo, enternecedor, humano e focado no drama e no fantástico. Os elementos de terror abandonam totalmente a história, e o desconforto da exploração inicial deste mundo complexo evapora-se. No final, torcemos pelas nossas personagens, às quais nos afeiçoamos, mas efetivamente parece que estamos a ver um outro filme.

The Animal Kingdom 2023
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Na imagem: É sempre um prazer rever Adèle Exarchopoulos, mesmo que num papel secundário.

Todo o elenco desempenha os seus papéis com notável entrega, quer falemos de Romain Duris na pele do pai, da sempre estrondosa Adèle Exarchopoulos no papel secundário mas cativante da polícia Julia, ou acima de tudo Paul Kircher a dar vida a um adolescente com um coming of age particularmente conturbado.

Não obstante os méritos evidentes do enredo, do ponto de partida à execução técnica e performances, a tal instabilidade de tom impede “The Animal Kingdom” de se tornar uma obra de referência em anos vindouros. Não obstante, não deixa de merecer uma visualização.

TRAILER | THE ANIMAL KINGDOM NO MOTELX’23 (VERSÃO FR)

“Le Règne Animal”, ou “The Animal Kingdom” tem já distribuição comercial garantida em Portugal, pela Alambique Filmes e com 2 de novembro como data de chegada às salas. 

The Animal Kingdom, em análise
Le règne animal Poster

Movie title: The Animal Kingdom

Movie description: “The Animal Kingdom” abriu a secção Un Certain Regard do Festival de Cannes deste ano e comoveu a sua audiência, com a jornada de um pai e de um filho numa França assombrada por um vírus implacável que transforma humanos em animais

Date published: 16 de September de 2023

Country: França, Bélgica

Duration: 130'

Author: Thomas Cailley, Pauline Munier

Director(s): Thomas Cailley

Actor(s): Roman Duris, Paul Kircher, Adèle Exarchopoulos

Genre: Fantástico/ Sci-fi, Drama, Body Horror

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  • Maggie Silva - 69
69

CONCLUSÃO

Algures entre o body horror oriundo do sci-fi e a fábula de criaturas mágicas, “The Animal Kingdom” oscila de forma um pouco inconsistente entre códigos da ficção científica e códigos do fantástico, entre linguagens de terror e outras utilizadas em contos para os mais novos. O resultado não é sempre coerente, mas a sua proposta ecológica não deixa de ter alguma pertinência no presente momento vivido pela humanidade.

Pros

Boas prestações centrais e criação de atmosfera.

Cons

Tom que tenta evocar demasiado e uma extensão (130 minutos) não justificável.

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