Bobby Cannavale como "Nine Perfect Strangers" © Vince Valitutti/Hulu

Nine Perfect Strangers | Bobby Cannavale em entrevista exclusiva

A MHD falou em exclusivo com Bobby Cannavale, um dos protagonistas da nova série original Amazon “Nine Perfect Strangers”. 

Na MHD continuamos com entrevistas exclusivas a personalidades de Hollywood e depois da nossa conversa com Melvin Gregg, publicamos finalmente a entrevista e oportunidade única que tivemos de falar por videochamada com Bobby Cannavale. Tudo decorreu no âmbito do lançamento de “Nine Perfect Strangers” na plataforma de streaming Prime Video.

Apesar de ter iniciado a sua carreira no teatro, Bobby Cannavale é hoje em dia um reconhecidíssimo talento do cinema e da televisão norte-americanos. Depois de participar em séries como “Will & Grace” (2004-2006) e “Broadwalk Empire” (2010) com as quais ganhou respetivamente os seus dois prémios Emmys, voltou a ser catapultado para a fama com o seu desempenho em “Blue Jasmine” (Woody Allen, 2013), a evocar um pouco da personagem de Marlon Brando em “Um Elétrico Chamado Desejo” (Elia Kazan, 1951).

Mais recentemente são as colaborações em comédias românticas ao lado de Melissa McCarthy que o fazem ser abordado na rua pela sua legião de fãs. Entre os projetos em que já trabalharam juntos destacamos “Spy” (Paul Feig, 2015), “Super-Inteligência” (Ben Falcone, 2020) ou “Esquadrão Trovão” (Ben Falcone, 2021). Novamente juntos em “Nine Perfect Strangers“, Bobby Cannavale chegou a referir na nossa conversa que Melissa McCarthy é “uma das melhores atrizes do nosso tempo”. Cada momento com a atriz fá-lo passar melhor os dias e pensar menos nos seus problemas.

Bobby Cannavale
Chris Caldovino e Bobby Cannavale em “Boardwalk Empire (2010) © HBO

Apesar dos seus toques de comédia, evidentemente provocados pela dupla Cannavale – McCarthy, “Nine Perfect Strangers” é um thriller psicológico onde todos os protagonistas estão “encurralados” num spa de luxo, a Tranquillum House, onde só poderão escapar depois de encontrarem a paz e o sossego que tentam procuram. A personagem Bobby, Tony, chega a ser uma das mais misteriosas de toda a temporada, e esconde um terrível segredo. A primeira vez que vemos Bobby Cannavale como Tony é-nos oferecido um homem rude, atormentado, com barba por fazer e que se veste com roupa velha. Este é um homem cansado de si mesmo e com o qual muitos espectadores se identificarão. É uma personagem que não tem a certeza se pertence a este mundo, que não sabe muito bem o que fazer e que acaba por ver muitas vezes o lado mais negativo de cada nova possibilidade.

Porém, o seu contacto com Francis, a personagem de Melissa McCarthy poderá despertar uma nova amizade, e ter a certeza que ainda existem pessoas boas, em que poderá depositar a sua confiança e as suas verdades. A questão deste homem ser envolvido pela dor – inesperadamente, a imagem em cima com Tony na piscina é um dos seus exercícios para a personagem controlar o seu ego -, permitiu a Bobby Cannavale entregar-se à série, isso e claro a insistência de Melissa McCarthy, a quem rompe elogios constantemente.

Bobby Cannavale
Bobby Cannavale e Melissa McCarthy em “Super-Inteligência” © New Line Cinema

Além da sua participação em “Nine Perfect Strangers”, série com 8 episódios que chega no próximo dia 20 de agosto à Prime Video, Cannavale também já deu o salto para o Universo Cinemático da Marvel e participou nos filmes “Homem-Formiga” (Peyton Reed, 2015) e “Homem-Formiga e a Vespa” (Peyton Reed, 2018). Ainda não se sabe se participará no terceiro filme desta trilogia,”Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania”, do mesmo realizador e agendado para 2023, mas essa é uma conversa para outra altura. Na realidade, não falta trabalho a Bobby Cannavale, que graças à nova série de David E. Kelley adaptou-se às tão organizadas rodagens de produtos de entretenimento em plena pandemia. Este ano poderá ainda ser visto em “This Is The Night” (James DeMonaco, 2021) e dará voz ao lobo Jimmy Crystal no filme de animação “Cantar! 2”. Certamente irá encantar com as suas crianças com a atriz Rose Byrne. Afinal a família para Bobby está sempre em primeiro lugar.

A entrevista com Bobby Cannavale foi feita pelo Coordenador de Cinema & Streaming Virgílio Jesus e pode ser lida na sua totalidade a seguir, após o trailer de “Nine Perfect Strangers”

Trailer de Nine Perfect Strangers com Bobby Cannavale

MHD: Obrigado Bobby por esta oportunidade. Será que nos poderia contar um pouco como é a sua personagem em “Nine Perfect Strangers”?

Bobby Cannavale: O facto de dar vida a um homem que se inscreveu num retiro de bem-estar, mas que se comporta como se tivesse sido forçosamente levado para lá, pareceu-me imediatamente uma contradição interessante e por isso aceitei participar em “Nine Perfect Strangers”. Existiam muitas coisas que me faziam gostar do Tony. Por um lado, sempre quis ser um atleta profissional no ecrã e mesmo que seja um atleta reformado, sabia que ali poderia dar vida a um homem com uma certa aura desportiva. Por outro lado, falamos de um homem que carrega um fardo enorme, incontrolável e superior a ele. Este é um homem com segredo muito obscuro e que no final de contas nunca conseguiu estar bem consigo próprio, nem com as suas namoradas, nem sequer com as suas filhas.

Insisto, pensei que seria importante dar vida a um homem que está voluntariamente num resort promotor do bem-estar e que passa a maior parte do seu tempo a recusar essa realidade. Acredito que na vida, quando tomamos uma decisão deveremos ser sinceros connosco mesmos e, portanto, essa era uma dicotomia que me fez atirar de cabeça para o papel. À medida que decifrava a minha personagem, percebi que seria um homem com uma constante corda amarrada ao pescoço, e queria realmente fazer esta minissérie. Quando terminei a rodagem percebi que tinha feito uma viagem muito exigente para mim…

Tudo isso não seria possível sem a Melissa McCarthy, que antes de tudo começar enviou-me uma mensagem de texto, onde referia que deveria ler o argumento desta série. Como sempre a oiço, e por ela ter uma mão na série como produtora executiva, acabou por ser este o resultado.

Bobby Cannavale
Bobby Cannavale, Melissa McCarthy, Vince Valitutti, Luke Evans, Samara Weaving em “Nine Perfect Strangers” © 2021 Hulu

MHD: Em “Nine Perfect Strangers” vemo-lo quase sempre com Melissa McCarthy, com quem já colaborou várias vezes. Como descreveria a experiência nesta minissérie?

Bobby Cannavale: A Melissa McCarthy dá vida a Francis, com quem o Tony acaba por ter a maior parte das suas cenas. Eu penso que esta seja a quarta ou quinta vez em que eu e a Melissa trabalhamos juntos e todas as sequências foram divertidas. Depois dela me ter enviado aquela mensagem, percebi que não poderia recusar mais uma chance de trabalharmos juntos. Disse-me também que este era um projeto diferente, algo que nunca havíamos feito antes.

Gostaria de ressaltar ainda que considero a Melissa McCarthy é uma das melhores atrizes do nosso tempo, que consegue conciliar tanto a faceta mais cómica, como a faceta mais dramática das suas personagens. Quando colaboro com ela encontramos sempre pontos em comum. Somos atores bastante contemporâneos e partilhamos referências semelhantes. Tudo com ela acaba por ser mais fácil, e achamos as mesmas coisas engraçadas. Somos duas pessoas que nos levamos bem e nunca lhe poderia ter tido que não.

MHD: Sente que a sua personagem da série foi fiel ao livro da Liane Moriarty, mesmo que na série seja um americano?  

Bobby Cannavale: Eu li e gostei imenso do romance no qual esta minissérie é baseada, mas para mim são produtos com uma marca própria, com uma identidade distinta. Existem diferenças entre a minha personagem do livro e da minissérie. Em primeiro lugar no livro o Tony é um australiano, enquanto nesta série é um americano. Admito que não tenho problemas em ler um livro no qual um determinado programa televisivo ou um filme seja baseado. Por exemplo, “O Irlandês”, do Martin Scorsese é uma obra poderosíssima, baseada num livro mas os dois objetos resultam ser muito diferentes.

Bobby Cannavale
Bobby Cannavale deixou crescer a barba para interpretar Tony em “Nine Perfect Strangers” © Prime Video

O David E. Kelley, o criador da série, é bastante bom e conseguiu manter a premissa original do livro da Liane. Não esqueçamos que ele adora escrever personagens multi-dimensionais, e que ele realiza uma escrita muito mais metodizada, em que as personagens deverão trabalhar os seus conflitos mais íntimos. Essas acabam por ser as personagens que mais gosto de interpretar, aquelas que estão a agir de acordo com os seus piores impulsos, apesar de continuarem a serem eles mesmos.

MHD: A rodagem de “Nine Perfect Strangers” foi realmente complexa como descrevem? Como foi rodar em temos de pandemia e ter que mudar a produção dos EUA para a Austrália?

Bobby Cannavale: O primeiro dia de rodagem de “Nine Perfect Strangers” foi memorável. Antes de tudo começar estivemos duas semanas de quarentena num quarto de hotel, no meio do paraíso, onde não existiam registos de civilização e portanto não havia certamente COVID-19 nessa zona. Só isso foi bastante estranho.

A minha esposa [referindo-se à também atriz Rose Byrne] é australiana e a família dela está toda lá. Eu fui um dos sortudos. Outros colegas tiveram que deixar os Estados Unidos da América e deixar as suas famílias para trás. “Nine Perfect Strangers” pode ter sido certamente a primeira grande produção televisiva a ser instalada e a funcionar com pompa e circunstância em tempos de pandemia. Eu, os restantes atores e equipa técnica estávamos cientes que éramos como cobaias, e que teríamos de respeitar todos os protocolos.

MHD: Como se sentiu ao trabalhar com a Nicole Kidman? 

Bobby Cannavale: A presença da Nicole Kidman durante a série foi bastante intensa. A primeira vez em que me cruzei com ela foi exatamente durante o primeiro dia de rodagem e ela já se encontrava na pele da sua personagem a Masha Dmitichenki, a guru que é responsável pelo resort Tranquillum House. Curiosamente nunca ninguém chegou a estar perto da Nicole Kidman. Eu não sabia como tinha sido a sua preparação, nem sequer como é que a sua personagem soaria. O primeiro dia foi estranho e, ao mesmo tempo, árduo.

Nicole Kidman
Nicole Kidman em “Nine Perfect Strangers” | © Hulu / Prime Video

Lembro-me de ter ficado impressionado e em estado de choque quando a vi entrar na sala onde estamos todos a filmar. Observei os seus olhos perplexos e esbugalhados e senti que a sua personagem fosse mesmo verdadeira. Ela ficou na personagem durante cinco meses e só respondia a quem lhe chamasse por Masha. Nunca experimentei nada assim. A sua personagem faz-me lembrar um pouco aqueles documentários do género do “Wild Wild Country”, onde ouves líderes carismáticos e, de fora, perguntaste se serias capaz de seguir aquela pessoa. São líderes com carisma, e foi isso com o qual fiquei mais apegado. Tenho a certeza que a Nicole Kidman tem todas essas qualidades.

MHD: Cumpriu algum sonho profissional durante a rodagem de “Nine Perfect Strangers”?

Bobby Cannavale: Essa pergunta vem mesmo a calhar. O meu sonho enquanto ator era deixar crescer barba para um desempenho e nunca o tinha feito. Fisicamente foi interessante desenvolver a minha personagem. Sem revelar muito daquilo que os espectadores irão ver durante as próximas semanas, não quero deixar de dizer que gostei de desempenhar alguém apaixonado por desporto. Sempre quis interpretar um atleta e consegui fazer aquelas cenas de futebol com muita dedicação e esforço.

A parte mais particular do desenvolvimento da minha personagem foi procurar definir uma forma exata para o seu caminhar, para a dor que o Tony sente o tempo todo e o que leva a partir numa viagem espiritual num resort de luxo. Pouco a pouco, iremos perceber se o Tony é capaz de se desvencilhar sozinho, se é capaz de subir o buraco onde ele mesmo se enterrou.

MHD: Como foi a sua experiência de retiro nesta minissérie? Recomendaria aos espetadores de “Nine Perfect Strangers”? 

Bobby Cannavale: Para quem está interessado em realizar um retiro não o recomendo tão cedo, sobretudo se for parecido à Tranquillum House do “Nine Perfect Strangers” [risos]. Também não o recomendo a quem tenha crianças de três anos e outra de cinco anos [Bobby refere-se aos seus dois filhos com Rose Byrne, Rocco de 5 anos e Rafa de 3 anos].

Bobby Cannavale
Bobby Cannavale em “Mr. Robot” © 2017 USA Network Media, LLC

Na verdade e agora fora de brincadeiras, o mais perto que estive de um autêntico retiro foi no final dos meus 20 anos, quando residi no Instituto Esalen durante alguns dias. Eu estava mesmo focado em experimentar banhos minerais e todos os meus amigos pareciam estar numa caminhada espiritual. Também eu acabei por me envolver e por me dedicar àquela aventura. Não falei com ninguém durante três dias, pratiquei ioga e ainda comi produtos frescos e biológicos. Acho que faz parte do processo de crescimento de qualquer pessoa à procura do máximo conforto e da paz interior. Queria dizer aos espectadores de “Nine Perfect Strangers” que é isso que acontecerá na série, mas estaria a iludi-los. Na série, até os coloridos smoothies de fruta são perigosos [risos].

Os três primeiros episódios de “Nine Perfect Strangers” estreiam a 20 de agosto na Prime Video. Novos episódios serão lançados todas as semanas. 

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