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Operação Maré Negra | À conversa com os responsáveis de produção

A propósito da estreia da segunda temporada de “Operação Maré Negra”, tivemos à conversa com Luis Ismael e José Fragoso.

No ano passado tivemos a oportunidade de assistir à primeira produção luso-espanhola, criada especificamente para uma plataforma de streaming. “Operação Maré Negra” relatou os acontecimentos verídicos de um submarino que transportava toneladas de cocaína para Europa, com entrada na Península Ibérica. Com produção da Ficciones Produciones e da Lightbox, e com o apoio da RTP, a série estreou na Prime Video, em Portugal, Espanha e Brasil. Por cá também podemos assistir a partir do canal um. 

Com o sucesso, veio a segunda temporada, que estreou em simultâneo na RTP e na Prime Vídeo, e que ao contrário da primeira temporada, não relata acontecimentos verídicos, sendo a perspectiva do que poderia ter acontecido a seguir. Nesse sentido, tivemos à conversa com os responsáveis portugueses da produção, José Fragoso, Diretor de Informações e Conteúdo da RTP, e Luis Ismael, produtor da Lightbox.

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[MHD] É a primeira produção luso-espaonhola para uma plataforma de streaming. Com o apoio da RTP e da Lightbox, que impacto terá na indústria portuguesa?

JF: Eu estou na RTP, vai fazer 5 anos, e desde que voltei lá, nesta nova fase estavam a despontar operadoras de streaming. Portanto, há 5 anos, a Netflix estava em Portugal. Já na Amazon não estava, a Disney não estava. Mas digamos que havia uma realidade nova no mercado quando se comparava com. Com dez anos antes era e é e sempre foi uma vontade nossa conseguir criar conteúdos que pudessem ser produzidos por outras entidades. Historicamente, a RTP tem algumas experiências de coprodução com a TV Galiza, com algumas televisões também no Brasil. E algumas também no passado com Angola. Depois disso, essa ligação perdeu-se. Mas a realidade nova era a do streaming. Nós, nós tentamos, desde o princípio, criar um modelo dentro da RTP que tem evoluído desde a “Glória” com a Netflix até à “Operação Maré Negra. Fortes capazes de agregar espectadores e até de se formar espectadores nas várias plataformas, seja da emissão linear da RTP, quer depois nas plataformas de streaming, incluindo a nossa própria RTP play, e isso tem tem dado frutos. Eu acho que os últimos anos demonstraram que é possível. É que que estes conteúdos circulem dentro do país e depois fora do país, que é o também o objetivo da nossa estratégia, que é levar conteúdos em língua portuguesa para outras geografias. Acho que tem contribuído para uma dinâmica na indústria audiovisual. Acho que o aparecimento também é um instrumento importante para atrair produções estrangeiras, mas que também têm dado o seu contributo para que este tipo de coproduções, que depois também têm distribuição Internacional, possam ser apoiadas. Muitas das nossas séries foram inicialmente pensadas apenas para a RTP1, como é o caso do “Causa Própria”, como é o caso de “Até que a Vida nos Separe”. “Causa Própria” está na HBO Max, “Até que a Vida nos Separe” está na Netflix, a nível global, e até o “Pôr-do-sol”, a primeira temporada está na Netflix aqui em Portugal. Mais recentemente, o “Cuba Livre” também já está em distribuição em 90 países. Portanto, mesmo as nossas séries, que eram inicialmente pensadas apenas para emissão local, hoje em dia tem esse mercado internacional aberto, porque eu acho que há realmente uma novidade, que tem a ver com o facto da língua não ser um obstáculo de poder e de se poder ouvir conteúdos na língua nativa e desses conteúdos poderem circular pelo mundo inteiro, tal como nós ouvimos. Aqui em Portugal vemos e ouvimos séries em israelita, em hebraico ou até séries em coreano ou séries em finlandês, também há finlandeses que gostam de ver séries em português.
Pepe Rapazote
Operação Maré Negra © Ficción Producciones
LI: Bem, primeiro lugar, isto é sempre muito interessante. Nós temos a oportunidade de trabalhar fora de Portugal para também, de alguma forma, aprendermos com certos métodos de trabalho que já demonstraram que estão a dar frutos, digamos assim. E por isso, para a indústria portuguesa, é muito bom trabalhar em projetos com este nível. Esta possibilidade de distribuição de sair fora do mercado português. Para esta série é ótimo que estão, digamos, sejam contaminados (entre aspas), por novos métodos, novas maneiras de trabalhar e novas exigências. Para a  Lightbox esta situação é muito interessante. Até porque o nosso mercado, digamos, é muito limitado, e precisamos encontrar aqui outras equações para tentar, digamos, sair deste garrote e tentar comunicar isto de uma forma muito mais global. E depois também há esta possibilidade de nós, trazermos para Portugal. Só para te dar um pequeno exemplo só em Madrid, no ano passado, foram feitas cerca de 66 séries, 43 longas metragens, e 380 anúncios televisivos. Pois é um, digamos, um mercado que está pujante e temos que de facto aproveitar isso. E depois há esta situação muito engraçada que posso até dar aqui um pequeno exemplo que é, por exemplo, o filme “Notting Hill”. Não é até à chegada daquele filme aquilo era uma feira da ladra ali nos arredores de Londres, e de um momento, é uma história de amor, transportou aquilo para um, digamos, um playground mundial. Uma das coisas muito engraçadas, nós filmamos isto na altura que estava aqui também a decorrer as filmagens da “Velocidade Furiosa”. A Lightbox tem uma empresa de aluguer e eles pedir-nos o aluguer de cerca de 350 walkie talkies. Estás a ver grandeza? A força que estas produções podem vir trazer para Portugal. A questão das divisas, na questão de trabalho. Isto é uma oportunidade única que deve ser aproveitada, porque isto não é hobby, isto é uma indústria e nós queremos fortalecer que pode trazer mais dividendos ao país, ainda por cima um país como o nosso que de Norte a Sul, tem tantas diferenças e que merecem ser expostas num no mercado Internacional exatamente apegando.
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[MHD] As plataformas de streaming deviam ser regularizadas?
JF: Eu acho que é importante que os mercados sejam dinâmicos e criem as suas próprias dinâmicas. A regulação deve servir apenas para criar linhas de conduta e mecanismos também que sejam transparentes para toda a gente, para não haver pessoas a fazer de uma maneira e outras a fazer de outra. Portanto, a legislação serve para isso. Eu acho que nós temos uma legislação recente nesta matéria. O que acho importante é que todos os agentes, e sobretudo, as entidades que têm normalmente responsabilidade e quer no financiamento, quer depois, ao nível das autorizações da liberdade que existe para filmar da possibilidade de acesso. De não complicar, portanto, que tudo isso seja consensual. E que se olhe para esta área como uma área importante para a economia, e obviamente que é uma área muito importante para a cultura, o audiovisual, o cinema, tem uma componente cultural muito forte, mas tem uma componente económica, absolutamente decisiva. Hoje a produção audiovisual é um dos elementos mais claros de afirmação internacional dos países. Eu diria até que hoje a produção audiovisual de um país é mais importante do que aquilo que acontecia no final do século passado, que era o desporto, uma forma de afirmação internacional muito forte. Portanto, as equipas de futebol, as equipas nos Jogos Olímpicos tinham um papel muito grande na defesa do país, e hoje em dia os países afirmam-se muito pelo audiovisual, pela capacidade que têm de produzir histórias fortes que sejam capazes de passar a fronteira, e sejam capazes de ser reconhecidas por outros países. Para nós é fundamental. Por exemplo, este ano temos conseguido pôr uma curta de ficção nos Óscares de Hollywood, é um passo gigantesco, nunca se tinha conseguido isso. Isso significa que este setor é um setor muito vibrante. É um setor muito criativo, é um setor que tem dificuldades porque o país Portugal é um país pequeno e não consegue gerar a financiamentos muito elevados nas produções. É um setor que se adapta com muita rapidez e com muita criatividade e até com uma capacidade de gestão mais própria dos países que têm produções mais ligeiras, mais flexíveis. Portanto, essa flexibilidade é reconhecida. Os nossos atores entram em qualquer produção Internacional muito rapidamente, falam rapidamente das línguas, adaptam-se às outras e aos outros elencos internacionais. Não complicam na produção, são rápidos, Agora é importante também que, se olho para este setor não como um setor lateral, mas como um setor central, porque é o setor que defende a língua, é o setor que cria emprego muito qualificado nas áreas de pós produção, de imagem, de tratamento de som, de tratamento digital. É um setor que tem de ser apoiado como todos os setores devem ser apoiados, mas sobretudo deve ser encarado como um setor que pode gerar economia. Hoje em dia, a Coreia do Sul é conhecida muito mais pela capacidade de produzir conteúdos que ganham Óscares, que estão nos grandes festivais internacionais do que por uma medalha de ouro que alguém ganhou. Israel tornou-se num país para a produtora de conteúdos que são reconhecidos no mundo inteiro. Os países nórdicos são conhecidos pela ficção. Nós conhecemos os países nórdicos também pelo bacalhau, mas na verdade os países nórdicos são conhecidos no mundo inteiro pela ficção.
Operação Maré Negra
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LI: Eu acho que acima de tudo que a nossa área precisa de mais de ser mais ágil, digamos assim, é porque isto é uma área que as decisões são tomadas muito rápidas. As produções têm que ser rápidas a produzir e eficazes, e a única coisa que eu acho que tem que haver na nossa. Nós não podemos olhar para uma série como “Operação Maré Negra” como olhamos para um filme de cinema de autor, não é? Tem que haver aqui, digamos, uma estratificação, e temos que olhar para as coisas como elas são, isto é entretenimento, é uma coisa, a cultura é outra e ambas têm que ter os seus apoios. É efetivamente esta possibilidade de termos rapidez de decisão. Isto não é apenas e só gastar dinheiro, isto é um investimento que está a fazer tanto para nos técnicos como também na própria divulgação do país. Por isso Portugal hoje já começa a ser, digamos, assediado por várias produções estrangeiras, mas nós temos capacidades de cada vez mais. Eu quero relembrar que há uns tempos atrás, por exemplo, Marrocos que está aqui mesmo ao lado, tinha dezenas de produções de Hollywood a acontecer. Portugal, na verdade, é um país que de facto tem muitas capacidades para estas produções e por isso nós precisamos evidentemente que haja aqui uma mudança, digamos, paradigma de olhar, olhar para tudo isto e perceber que isto é uma coisa boa para o país, que dá emprego, que gera emprego, gera mais-valias, gera capital. Acima de tudo, não deixa de ser também uma promoção muito boa para o país. Nós precisamos também que Portugal seja conhecido não só pelo Ronaldo, mas porque é um país que tem uma geografia ímpar.

TRAILER | OPERAÇÃO MARÉ NEGRA JÁ ESTÁ DISPONÍVEL NA RTP E NA PRIME VIDEO

Já começaste a ver a segunda temporada? O que achas da opinião dos produtores?

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