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Presos no Tempo, em análise

“Presos no Tempo” é o mais recente filme de M. Night Shyamalan e o seu ensaio sobre a vida, que está a ser odiado por uns, ao passo que outros até embarcaram na nova viagem do cineasta indiano.

No final da década de 90, início dos anos 00, um novo filme de M. Night Shyamalan era sinónimo de grande expetativa. O cineasta habituou-nos a histórias misteriosas, contudo como que do dia para a noite algo mudou e ir ver um Shyamalan era como jogar à roleta russa. Será que “Presos no Tempo” escapou à bala ou ficou na lista como mais um dos falhanços do aclamado cineasta?

A longa-metragem é o quarto projeto financiado pelo próprio Shyamalan, tendo custado cerca de 18 milhões de dólares (aprox. 15 milhões de euros). E, uma vez que vem no seguimento do sucesso de “Fragmentado” ou da série da Apple+ “Servant”, tinha o ‘jogo’ a seu favor. No entanto, a pandemia poderá ter influenciado o resultado de bilheteira obtido no valor de 16.5 milhões de dólares (aprox. 14 milhões de euros). Talvez, tirando a Covid-19, “Presos no Tempo” poderia ter alcançado os mesmos 25 milhões de dólares (aprox. 21 milhões de euros) que “A Visita” no fim de semana de estreia. O thriller que de certo modo ressuscitou o nome de M. Night Shyamalan, depois dos flops “O Último Airbender” e “Depois da Terra”, o qual foi depois confirmado com a estreia de “Fragmentado.”

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M. Night Shyamalan tenta recuperar os seus thrillers dos anos 2000, mas acaba por falhar | © 2021 Universal Studios. All Rights Reserved.

Agora o cineasta nomeado a dois Óscares por “O Sexto Sentido” apresenta-nos o seu 15º filme “Presos no Tempo”, ou no original “Old”. O mesmo é uma adaptação da novela gráfica “Sandcastle”, publicado em 2011 pelo aclamado documentarista francês, Pierre Oscar Lévy, sobre vários grupos de turistas que se veem presos numa praia privada que de alguma forma tem a capacidade de transformar a perceção temporal dos seus corpos, resultando num envelhecimento acelerado. É nessa placa de Petri que Shyamalan insere Gael García Bernal, Vicky Krieps, Rufus Sewell, Abbey Lee, Nikki Amuka-Bird e Ken Leung. Os seis atores interpretam os adultos desta história, e os que menos mudam numa fase inicial. Em contrapartida, temos o elenco que metamorfoseia quase de cena a cena liderado por Alex Wolff, Thomasin McKenzie e Eliza Scanlen, que dão vida, respetivamente, às fases adolescente e jovem adulta dos filhos de García Bernal e Krieps e Sewll e Lee.

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É neste elenco que reside um dos trunfos de “Presos no Tempo”. Douglas Aibel fez, mais uma vez e de uma forma geral, um fantástico trabalho. O diretor de casting que tem trabalhado em praticamente todos os projetos de Shyamalan, bem como em outros fantásticos títulos como a “Ilha dos Cães“, “Marriage Story” ou a primeira temporada de “Succession” (pela qual recebeu uma nomeação ao Emmy) – entre tantos outros. É sempre um desafio selecionar um leque de atores para uma mesma personagem, aliás talvez só a série “This is Us” tenha atingido esse apogeu. Podemos dizer que, no caso de Aibel, a maior falha tenha sido a escolha de García Bernal e Krieps enquanto casal.. o par não tem qualquer química, apesar de protagonizar a cena mais emotiva do filme.

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Thomasin McKenzie e Alex Wolff brilham enquanto protagonistas desde drama/thriller | © 2021 Universal Studios. All Rights Reserved.

Voltando aos jovens. Wolf, em quem ficámos atentos depois de “Hereditário”, continua a demonstrar o seu valor, desta vez ao lado das extraordinárias McKenzie e Scanlen. A neozelandesa Thomasin McKenzie roubou-nos a atenção no mais recente filme de Taika Waititi (e que lhe valeu o Óscar de Melhor Argumento), “Jojo Rabbit“, e agora confirma que a devemos manter no radar desta nova geração de Hollywood. Por sua vez, a australiana de 22 anos, Eliza Scanlen, já quase que dispensa apresentações depois do seu trabalho na série “Sharp Objects” ao lado de Amy Adams e Patricia Clarkson, ou na mais recente adaptação de “Mulherzinhas”, assinada por Greta Gerwig.

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É sob este trio que incidem as maiores mudanças em “Presos no Tempo”, o que também implica que os atores tenham de evoluir em consonância. Cada um deles interpreta uma criança presa num corpo de um adolescente – e depois jovem adulto. Isto porque, na praia deserta onde o grupo fica preso, uma hora corresponde a dois anos de vida, ou seja, um dia corresponde a 48 anos. O filme acaba então por demonstrar praticamente todas as fases da vida, incluindo a gravidez, que decorre na sua plenitude em apenas 20 minutos. É também aqui que Shyamalan volta somar pontos. Como se costuma dizer, as coisas boas da vida estão nos pequenos pormenores. E o cineasta soube transparecê-los. Por momentos, quase que esquecemos que estamos num thriller, em vez de um drama sobre a vida. Sobre o ciclo da vida. Sobre como são os nossos pais que começam por tomar conta de nós, atuando como um escudo para os perigos, e como esse papel naturalmente se inverte, e são os filhos que protegem os pais.

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O momento em que Rufus Sewell sucumbe aos desígnios da praia | © 2021 Universal Studios. All Rights Reserved.

Lógico que, sendo este um filme da autoria de M. Night Shyamalan, tem de existir um twist. E, é aqui que muitos apontam o dedo a “Presos no Tempo”. Pessoalmente, não considero o desfecho totalmente absurdo, aliás se tal cenário existisse, acredito que já tivesse a ser explorado – independentemente de quaisquer valores e questões éticas. Não irei revelar grandes detalhes, mas quem não gostaria de descobrir as curas para todas as doenças deste mundo?

De uma forma geral, podemos dizer que o que faltou a Shyamalan neste novo projeto foi precisamente o equilíbrio entre o drama e o suspense/mistério. O filme acaba por pender para os extremos, sendo que as cenas dramáticas acabam por se sobrepor às restantes, o que poderá causar uma certa confusão no espetador. É certo que M. Night Shyamalan nunca se privou de uma cena ou outra mais emotiva nos seus filmes, mas em “Presos no Tempo”, como referimos no início, acaba por fazer uma dissertação sobre a vida – com o próprio enquanto observador atrás e à frente da lente -, o que de certa forma parece não encaixar na totalidade com a restante narrativa. Contudo, não deixa de ser um interessante exercício de reflexão.

Presos no Tempo, em análise
poster presos no tempo

Movie title: Presos no Tempo

Movie description: Este verão, o visionário realizador M. Night Shyamalan apresenta um novo, arrepiante e misterioso thriller de uma família que, enquanto estão numas férias paradisíacas, descobrem que a praia isolada onde estão está, de alguma forma, a fazê-los envelhecer rápida e inesperadamente… reduzindo toda a sua vida a um único dia.

Date published: 31 de August de 2021

Country: EUA

Duration: 2h00

Director(s): M. Night Shyamalan

Actor(s): Gael García Bernal, Vicky Krieps, Thomasin McKenzie, Rufus Sewell, Ken Leung, Alex Wolff, Eliza Scanlen

Genre: Thriller

  • Inês Serra - 67
67

CONCLUSÃO

“Presos no Tempo” falha em conseguir juntar-se à fantástica filmografia inicial de M. Night Shyamalan. No entanto, esta dissertação sobre a vida não deixa de merecer ser vista. Quer pelo seu maravilhoso elenco, quer pelos pequenos apontamentos que Shyamalan nos vai dando, recordando-nos do qual volátil o nosso tempo na Terra é. Apenas faltou a capacidade do realizador em unir os detalhes com a narrativa global da história.

Pros

  • Elenco: em especial o trio jovem Alex Wolff, Thomasin McKenzie e Eliza Scanlen
  • A cena protagonizada por Gael García Bernal e Vicky Krieps quando o seu tempo está prestes a esgotar
  • A forma como os pequenos pormenores da vida são capturados

Cons

  • Coesão narrativa
  • Gael García Bernal e Vicky Krieps enquanto casal
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