PUP - Morbid Stuff (2019)

PUP, Morbid Stuff | em análise

Com Morbid Stuff, os PUP mostram-nos quão relacionável pode ser o dia-a-dia, não tão comum assim, de Stefan Babcock.

Em 2016, a banda de Toronto lançava The Dream Is Over, o segundo álbum que alargou consideravelmente a exposição do grupo. Passados três anos, PUP estão de volta, mais punk, raivosos e pop do que nunca. Morbid Stuff fala-nos abertamente da depressão de Babcock; no entanto, o álbum não fica de todo por aí.

“Kids”, um dos singles, é sem dúvida uma das faixas mais pop do registo, não fosse esta uma canção de amor. E daí, talvez, nem tanto. Mantendo-se num registo depressivo e obscuro, punk, Babcock entoa linhas como “I don’t care about nothing but you” para cantar mais à frente, na mesma canção, “I should’ve tapped out/ Given into my demons, oh”.

MORBID STUFF | “KIDS”

Uns minutos à frente, Babcock oferece-nos um cenário semelhante. “See You At Your Funeral” começa como um tema sobre uma relação já findada, cujo tom depressivo, no contexto das tendências pop deste álbum, parece secundário. No entanto, à medida que a canção vai avançando, torna-se evidente que, afinal, não é bem assim. Na ponte, as letras vão rapidamente adquirindo contornos cada vez mais agressivos, até Babcock gritar que “I hope the world explodes/ I hope that we all die”. Mais uma fez, os PUP emergem com uma construção pop, já antes vista, só para no final virar o jogo ao contrário.

PUP | “SEE YOU AT YOUR FUNERAL”

Em Morbid Stuff, PUP aprendem a usar a raiva para se libertarem dos pensamentos negativos. Em “Full Blown Meltdown”, a banda atinge os níveis máximos de reactividade explosiva. Na mesma faixa, no meio de estrofes de pura autocrítica, reaparece um dos temas principais do álbum: “How long will self-destruction be alluring?” Parece irónico esta lucidez ser um dos pilares de um álbum que dá também à depressão uma posição de destaque.

A mesma atitude paradoxal surge claramente em “Free At Last”, em cujo refrão se ouve que “just ‘cause you’re sad again, it doesn’t make you special at all”, resultando numa sátira à depressão como moda e estereótipo. Um bom contributo para quem sofre realmente desta condição. Sempre neste registo sarcástico de “Free At Last” – em dois versos predilectos de quem aqui vos escreve – Babcock comenta as amargas alegrias da bebida, desesperada forma, para tantos, de se proteger e afogar as mágoas: “’Have you been drinking?’ Well, of course I have/ And why the hell would I be here if I wasn’t?”

MORBID STUFF | “FREE AT LAST”

Com “Sibling Rivalry”, temos um momento de alívio dramático, com o pesado registo depressivo a desaparecer totalmente para dar lugar a um tema sobre a infância. A inspiração para a canção foram os acampamentos que Stefan Babcock costumava fazer com a irmã. Quem não se identificaria com linhas como “You know just how to piss me off”? Ainda assim, embora esta ode à típica relação de amor-ódio entre irmãos resulte numa emoção bem distinta das restantes, conjuga-se com os restantes temas do álbum em que se limita a constituir o ponto máximo de uma atractiva familiaridade das situações narradas e não tanto um evento isolado.

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Apesar das temáticas obscuras encherem o álbum, é discutível se serão o tema principal. De facto, estão presentes quase todo o tempo, mas não será assim o dia-a-dia de alguém nestas condições? Será Morbid Stuff um álbum sobre depressão nervosa e os seus sintomas ou será um retrato do quotidiano de um depressivo? Visto desta última perspectiva, apercebemo-nos de que a narrativa do álbum tem mais a ver connosco do que pensávamos. Com todas as possíveis variações, “See You At Your Funeral” continua a ser sobre uma relação passada e quem não as tens na sua história? Da mesma forma, “Kids” é uma canção amorosa, uma temática nada distante do comum dos mortais.

Em todos os momentos do álbum, mesmo (ou talvez precisamente) nos mais deprimentes, conseguimos entender e empatizar com Babcock, gritando com ele “Jesus, this can’t be real”. O álbum finda com o que poderá ser a sua mais complexa canção. “City” começa numa acalmia agradável. No entanto, toda a canção é um estendido crescendo, atingindo o fortíssimo após a ponte. Chega a um refrão intenso, seguindo para uma parte instrumental ainda mais comprimida. No final, tudo atenua, voltando ao clima inicial da canção e encerrando num fade-out. Até porque todos os pesadelos têm um fim.

PUP, Morbid Stuff | em análise
PUP - Morbid Stuff (2019) - Capa

Name: Morbid Stuff

Author: PUP

Genre: Punk, pop-punk, punk progressivo

Date published: 5 de April de 2019

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  • Pedro Picoito - 80
  • Diogo Álvares Pereira - 80
80

Um resumo

Em Morbid Stuff, os PUP fazem uso da raiva para deitar tudo cá para fora. O resultado é um álbum agressivo e intenso e, ao mesmo tempo, acessível a (quase) todos. Nas canções vemos o retrato do dia-a-dia de Stefan Babcock. Neste registo, a banda canadiana vai-se debruçando sobre a pop, atenuando, por vezes, o tom mais obscuro do punk e trazendo, comparativamente aos anteriores álbuns, uma sonoridade mais leve mas nem por isso menos acutilante.

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