©Cineteatro Messias

Ruy, a História Devida, revisitado

“Ruy, a História Devida” é a nova peça que conta a história de vida de um homem que conquistou os palcos nacionais e o coração de milhares de portugueses.

Ruy de Carvalho é um dos nomes mais sonantes do panorama cultural português e é, atualmente, o ator mais velho do nosso país ainda no ativo. Com 95 anos de idade, Ruy de Carvalho insiste em não abandonar os palcos e continua a mostrar a mesma pujança de há 80 anos quando se estreou no mundo da representação. Oito décadas volvidas, não há ninguém que não conheça este ator, uma referência para várias gerações. No seu longo portfólio encontramos de tudo um pouco, desde importantes peças de teatro, como “As Árvores Morrem de Pé“, obras cinematográficas, como “Os Capitães de Abril”, em que interpretou António Spínola, ou dezenas de telenovelas e séries televisivas, como “Inspetor Max” em que marcou o público ao dar vida ao amoroso Avô João. Mas um homem que viveu nos palcos jamais conseguirá sobreviver sem os aplausos do público e, apesar de estar a caminhar para o 96º aniversário, Ruy de Carvalho leva agora a cena “Ruy de Carvalho, a História Devida”, uma emocionante conversa que traça o percurso de um dos melhores atores da sua geração.

Ao entrarmos no Auditório Taguspark, uma sensação de nostalgia invade-nos ao vermos um largo ecrã projetar trechos dos vários trabalhos protagonizados por Ruy de Carvalho. Nas imagens, atores conhecidos que já não estão entre nós fazem recuar a nossa memória a outros tempos. Mas o palco, esse mantém a cortina aberta, expondo o cenário à vista de todos… afinal de contas, esta é a forma de Ruy de Carvalho convidar o seu público a entrar na sua própria casa de braços abertos. Talvez pela curta dimensão do auditório, ali sentimo-nos como se estivéssemos na sala de estar de uma casa cheia de histórias em que Ruy de Carvalho é o anfitrião.

Mas o premiado ator é muito mais que um mero anfitrião e, mal entra em palco todos os convidados desatam a aplaudir entusiasticamente aquela que é uma das maiores referências da cultura portuguesa. Com visível emoção pela reação do público, Ruy de Carvalho dá início à peça sentado numa secretária onde redige uma carta emotiva e pessoal. Rapidamente o auditório se enche com uma gravação com a voz do aclamado ator a falar da sua profissão e de como um artista se alimenta dos aplausos do seu público. Contudo, aqueles primeiros minutos evidenciam um homem dominado pelas nove décadas que traz aos ombros, mostrando um lado frágil de Ruy de Carvalho.

Mas quando o público menos espera, a voz de Luís Pacheco rompe pelo meio da plateia e desafia Ruy de Carvalho a dizer as suas falas em “O Monólogo do Vaqueiro”, uma peça de teatro em que participou em 1957. Inesperadamente, Ruy de Carvalho abandona a fragilidade e domina por completo a cena, interpretando completamente sozinho um monólogo de forma soberba, deixando o público extasiado e sem vontade de piscar os olhos para não perder um único segundo daquela interpretação. Por essa altura, Ruy não tem mais provas a mostrar – ele é, sem dúvida, o melhor naquilo que faz e o público evidencia isso com a mais carinhosa das ovações.

Depois de encher o palco com a sua voz, e numa altura em que o público já se rendeu por completo ao aclamado ator, Luís Pacheco sobe a palco para iniciar a segunda parte do espetáculo, entrando numa via mais íntima em que os guiãos pouca falta fazem. Trata-se de um momento em que os dois artistas se sentam comodamente em duas poltronas estrategicamente colocadas no centro do palco e embarcam numa viagem pelas memórias e as histórias de vida de Ruy de Carvalho. Por esta altura, dois aspetos se tornam evidentes: a extraordinária capacidade que Luís Pacheco tem para conduzir a conversa, mantendo o nonagenário ator na linha de pensamento correta, e o alto estatuto alcançado por Ruy, a quem tudo é permitido. Críticas ao Governo, histórias picantes, anedotas que fazem soltar altas gargalhadas, não importa o que sai daquele contador de histórias, pois a forma como Ruy nos conta as coisas faz-nos ficar vidrados naquele doce avô.

E depois de uma hora a contar-nos as histórias mais incríveis de uma carreira que vive há 80 anos, não falta espaço para homenagear tantas outras figuras que compartilharam os palcos com Ruy de Carvalho. O destaque, evidentemente, vai para Eunice Muñoz, a ‘Dama do Teatro’ que partiu em 2022 e que formou com Ruy a dupla mais querida da televisão portuguesa. Mas o nonagenário está ciente da sua idade e na terceira parte do espetáculo regressa à secretária e finaliza a carta que começara a escrever no início da peça. Este é o momento mais emocionante de todos, uma vez que serve de despedida. Em tom melancólico, o ator despede-se do seu público, pedindo-lhe para que o lembre sempre pela sua profissão e que jamais o deixe de aplaudir. Esta é a forma mais genuína que Ruy arranjou para agradecer às suas pessoas que sempre o acarinharam…

CARTAZ | RUY, A HISTÓRIA DE VIDA ESTARÁ EM CENA NO AUDITÓRIO TAGUSPARK ATÉ FEVEREIRO

Ruy A História Devida
© BOL

Já tiveste a oportunidade de assistir à peça “Ruy, a História Devida”? És fã de Ruy de Carvalho?

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