Ryan Gosling quebra tradição sagrada no novo filme Star Wars
Há uma ironia cósmica em ver Star Wars agora a recrutar estrelas já consagradas para salvar a sua própria galáxia.
A princípio, parece uma jogada brilhante. Contratar um dos atores mais versáteis da sua geração, capaz de equilibrar blockbusters e dramas indie com a mesma intensidade silenciosa é quase demasiado obvio. Mas há um problema: Star Wars nunca foi sobre rostos conhecidos. Foi sobre descobri-los.
Ryan Gosling é a nova cara da saga
A notícia chegou como um torpedo: Ryan Gosling, o Ken de “Barbie” e o motorista taciturno de “Drive”, vai liderar “Star Wars: Starfighter“, o próximo filme da saga sob a realização de Shawn Levy. Ryan Gosling não é um mau ator. Longe disso. É, possivelmente, um dos melhores da sua geração. Mas a sua contratação para “Starfighter” quebra uma tradição sagrada em Star Wars: a de lançar desconhecidos para os papéis principais. Assim, desde 1977, a saga funcionou como um trampolim para jovens atores. Mark Hamill era inegavelmente um novato quando vestiu a túnica de Luke. Daisy Ridley mal tinha créditos no IMDB antes de “O Despertar da Força“. Até Harrison Ford, que já tinha trabalhado com George Lucas em “American Graffiti”, era um relativo desconhecido antes de Han Solo.
A escolha de Gosling reflete uma Disney desesperada. Depois do fracasso crítico de “A Ascensão de Skywalker” e das divisões causadas por séries como “A Acólita“, a Lucasfilm parece acreditar que só uma estrela de Hollywood pode salvar a saga. Mas essa lógica ignora o que sempre fez Star Wars especial: a sua capacidade de nos fazer acreditar que pessoas comuns — como nós — podem ser heróis.
Há exceções, claro. Alec Guinness era inegavelmente uma lenda quando interpretou Obi-Wan. Liam Neeson e Christopher Lee trouxeram peso dramático às prequelas. Mas esses eram papéis secundários, figuras mentoras, não protagonistas. Assim, Gosling não será um mestre Jedi nos bastidores; será o rosto do filme. E isso muda a dinâmica toda.
Star Wars precisa de desconhecidos
George Lucas não escolheu atores desconhecidos por acaso. Em “Empire of Dreams“, o documentário sobre a trilogia original, ele explica que queria rostos frescos para que o público se concentrasse nas personagens, não nas celebridades por trás deles. “Se tivesses um grande nome, as pessoas diziam: ‘Olha, é o Robert Redford a lutar com um sabre de luz!'”, brincou. Assim, a magia de Star Wars sempre esteve na sua capacidade de nos fazer acreditar que um rapaz podia destruir uma Estrela da Morte.
Essa filosofia manteve-se nas prequelas (Jake Lloyd, Hayden Christensen) e até nas sequelas da Disney (John Boyega, Daisy Ridley). Mesmo quando a saga começou a contratar nomes mais conhecidos — como Felicity Jones em “Rogue One” ou Rosario Dawson em “The Mandalorian” —, os protagonistas continuaram a ser revelações. Porque Star Wars não é “Oceans 11”. Não precisa de estrelas; cria-as.
Assim, o risco com Gosling é que, por mais talentoso que seja, ele traz consigo toda a sua bagagem cinematográfica. Quando o virmos a pilotar um X-Wing, não pensaremos num herói desconhecido; pensaremos no Ryan Gosling de “Blade Runner 2049” ou “La La Land“. E isso inegavelmente quebra o feitiço. Star Wars funciona melhor quando os atores são tão novos para nós como os seus personagens são para a galáxia.
Concordas que Gosling é um erro de casting, ou achas que a saga precisa mesmo de uma estrela para sobreviver? Deixa a tua opinião nos comentários.