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Short n’ Sweet, a Crítica: Sabrina Carpenter liberta-se e alcança o Olimpo da música pop

Com o seu segundo disco depois de deixar o contrato com a Disney que tanto a arrastou, Sabrina Carpenter torna-se a verdadeira estrela que sempre esteve pensada em salas de reuniões em Hollywood. Com “Short N’ Sweet”, fá-lo por mérito próprio! 

Sumário:

  • Com “Short n’ Sweet”, Sabrina Carpenter eclipsa todas as dúvidas: chegou mais uma grande estrela da pop que tão depressa não sumirá das luzes da ribalta;
  • Refrões orelhudos, melodias simbióticas e letras repletas de ironia – assim é o novo disco de Sabrina Carpenter;
  • Este sexto álbum transita, de forma quase perfeita, do subvalorizado “Emails I Can’t Send” para a ‘coroação’ pop de Carpenter.
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Sabrina Carpenter | Uma estrela Disney que “perdeu o comboio”

Sabrina Carpenter e uma nova superestrela pop em 2024
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Depois de “fabricar” grandes estrelas pop no início dos anos 2000, como Miley Cyrus, Demi Lovato ou Selena Gomez, que ao fim de muitos anos mantêm o seu estatuto de super-vedetas (e antes disso as mega-estrelas do Mickey Mouse Clube, claro, como Britney Spears, Christina Aguilera, Justin Timberlake ou até Ryan Gosling), eis que a Disney perdeu o seu monopólio de estrelas teen quando a internet ultrapassou a boa velha televisão por cabo.

Não obstante, o Disney Channel ainda conseguiu criar algumas vedetas na geração mais jovem – com graus maiores e menores de sucesso. O exemplo mais emblemático será Zendaya (com “Shake It Up”), Dove Cameron (“The Descendants”) ou ainda muito recentemente o grande talento emergente de McKenna Grace (que começou numa série Disney, embora não no Disney Channel).


Uma estadia que atrasou o desabrochar com Emails I Can’t Send

Não é comum dizer-se isto, mas a passagem de Sabrina Carpenter pela Disney provocou mais danos que benesses à sua agora muito promissora (e ascendente) carreira. Na Hollywood Records, editora da Disney, onde ficou “cativa” durante 10 anos, antes de se mover para a Island, é sabido que o investimento em Carpenter foi baixo e que os seus 4 álbuns contratualizados mal chegaram (ou nalguns casos nem sequer chegaram) às tabelas dos 100 e 200 hits gerais da Billboard. A música que fez por lá, essa foi sempre genérica e naturalmente pouco memorável. “Sue Me”, uma música sobre os seus dramas legais discográficos, por exemplo, foi dos poucos temas que ‘mexeu’ alguma coisa; ao lado de “Skin”, tema sobre o drama com Olivia Rodrigo que já foi lançado mais perto do sucesso de “Emails I Can’t Send”.

Em primeiro lugar, a atriz e cantora tornou-se conhecida, ou moderadamente conhecida do grande público, como co-protagonista de “Girls Meets World”, no ar entre 2014 e 2017 e agora disponível em Portugal na Disney+.


Um pontapé de saída em falso com Mean Girls

Enquanto esteve associada à Disney, nunca uma canção sua teve verdadeiro impacto público e a sua primeira grande oportunidade surgiu depois de “escapar” deste contrato. Ser uma das co-protagonistas do musical de “Mean Girls”, na Broadway, criado pela própria Tina Fey e ao lado de uma também em ascensão Renée Rapp. Aqui, Rapp era Regina George e Sabrina a protagonista Cady Heron (no filme original Lindsay Lohan).

A verdadeira viragem com o 5.º disco de Sabrina Carpenter

Infelizmente, a pandemia tudo (ou muito) levou, inclusive muitos dos musicais dessa temporada (a Broadway fechou completamente). O 5.º álbum de originais de Carpenter só viria em 2022 e veria uma subida lenta até ao topo, tal como a sua carreira até então. “Emails I Can’t Send” está num campeonato inteiramente diferente dos ‘álbuns Disney’, como uma coleção de temas repleta de inteligência, humor mordaz e dos agressivos innuendos sexuais que se tornaram, desde então,  a imagem de marca de Sabrina Carpenter.

No panorama dominante atual da ‘Sad Girl Pop‘, onde todas as estrelas pop parecem saídas de uma longa depressão sazonal, de Billie Eilish a Lana del Rey, passando pelas amigas Taylor Swift e Phoebe Bridgers, Carpenter era já aqui menos temperamental e mais livre e divertida, em temas provocadores e capazes de ficar no ouvido como “Feather” ou “Nonsense”. Ainda há temas mais francos e a puxar à balada, como o próprio titular “Emails I Can’t Send”, “Because I Liked A Boy” ou a sarcástica “Tornado Warnings”. Não obstante, a seriedade não sustenta o álbum, antes os trocadilhos, a diversão e o desprendimento.


Short n´Sweet: a consolidação dos esforços de 2022 e 2023

Finalmente, depois de “Emails I Can’t Send” e o seu deluxe no ano seguinte, uma identidade viu-se formada com o curto “Short n’ Sweet”, que diz mesmo tudo no título.

Sabemos ao que vamos: o pop é mesmo muito pop, a energia contagiante e os trocadilhos tornam-se ainda mais agressivos e explícitos. Os ex-namorados são arrastados pela lama e tratados como pouco perspicazes e mesmo diminuídos intelectualmente – com canções a acentuarem esta ideia do segundo single, “Please Please Please” a alguns dos mais divertidos temas do álbum, como “Slim Pickins” e “Sharpest Tool“.

Sabrina Carpenter Album Review Análise
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Onde uma Taylor Swift nos entregou sofrimento existencial em 2024, Sabrina Carpenter partilha a ideia de que é melhor um namorado que não vale grande coisa do que nenhum: ao fim de contas, os homens são todos iguais, traidores inatos (“Taste”) e bons rapazes sempre capazes de induzir em erro (“Lie to Girls”).

O cinismo é gritante, mas não é por isso que é amargo. Em “Taste”, terceiro single, lançado no final de agosto em conjunto com o disco e com ireito ao melhor e mais divertido vídeo até agora, a bridge diz-nos tudo o que precisamos de saber:

“Every time you close your eyes
And feel his lips, you’re feelin’ mine
And every time you breathe his air
Just know I was already there
You can have him if you like
I’ve been there, done that once or twice
And singin’ ‘bout it don’t mean I care
Yeah, I know I’ve been known to share”

“And singin’ ‘bout it don’t mean I care”. Sabrina Carpenter diverte-se com o caos da sua casa dos 20 ao mesmo tempo que Gracie Abrams, da mesma idade e também a explodir neste verão, dramatiza os seus erros. Cada estrela pop com o seu estilo, e não é excelente que assim o seja?


A diversão está de volta à pop com Carpenter

Sabrina Carpenter traz mesmo inúmeros elementos que têm estado adormecidos na cultura pop contemporânea, os grandes refrões e as melodias sonantes. O sucesso do seu single de lançamento, “Espresso”, já acima dos mil milhões de streams, mostra o quão sedentes estávamos por pura diversão pop.

O disco, “Short n’ Sweet”, vai oscilando entre grandes hooks pop (por exemplo em temas como “Juno”, muito evocativo de uma Katy Perry no seu período áureo), influências mais R&B que já lhe conhecemos há muitos anos, ou ainda um novo ‘twang’ Country que vai aparecendo aqui e ali.

Aqui, a cantora e compositora voltou a colaborar com colaboradores prévios firmes como Julia Michaels ( banda sonora “Wish”, “A Star Is Born”, entre outras de relevo) ou John Ryan (One Direction, Niall Horan, etc). Alia-se também a nomes com muito impacto na música pop, como Ian Kirkpatrick ( Selena Gomez, Dua Lipa, Jason Derulo) e ainda o “Produtor do Ano” dos últimos anos para os Grammy – Jack Antonoff (Taylor Swift, Lana Del Rey, Lorde).

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Com uma lista significativa de produtores, é apenas normal que “Short n’ Sweet” não tenha uma identidade musical muito coesa, oscilando um pouco ao sabor do vento. Todavia, o seu tom, em particular do ponto do vista da escrita das letras, é muito uno, e por isso sabemos ao que vamos. Com o leque mais vasto de estilos musicais somos também tranquilizados: Sabrina Carpenter não parece tanto uma nova versão de Ariana Grande, ao explorar mais formas de cantar e misturar a sua voz.

Sabrina Carpenter na pele de Britney Spears?
Sabrina Carpenter a atuar na Passagem de Ano de 2023/2024 em Nova Iorque |©Shutterstock 2407660201

Em canções como “Bad Chem” ou “Good Graces” ( e em geral os temas mais R&B, claro está) ainda sentimos um pouco esta colagem a Ariana, mas torna-se cada vez mais marginal (e ainda bem que assim é).

Com esta sexta entrada na sua lista de álbuns, Sabrina Carpenter cria uma identidade mais sua e vai convertendo ouvintes casuais em fãs. Já terá chegado ao estatuto de super-estrela? 



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