Steven Spielberg não concorda com a elegibilidade de filmes Netflix para os Óscares

Em entrevista à ITV News, Steven Spielberg afirmou que os filmes da Netflix não deveriam ser considerados para a corrida à estatueta mais cobiçada de Hollywood.

O exponencial crescimento que a Netflix demonstrou neste último ano levantou um sério dilema para a Academia e para a indústria cinematográfica em geral. Até à data nenhum filme original da plataforma de streaming tinha recebido uma nomeação ao Óscar, apesar de “Beasts of No Nation” ter chegado perto ao ganhar destaque nos Golden Globes de 2016. No entanto, este ano, a Netflix lançou “Mudbound – As Lamas do Mississippi” e fez história ao receber quatro nomeações, que incluiu Melhor Fotografia para Rachel Morrison, a primeira mulher a ser nomeada nesta categoria. A longa-metragem acabou por sair da Cerimónia de mãos a abanar, mas a Netflix não saiu a perder, já que levou para casa o Óscar de Melhor Documentário com “Icarus”, o que também já tinha acontecido com “White Helmets” o ano passado.

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A grande questão que se levanta quando falamos de um filme da Netflix é como iremos classificar o mesmo. Ao contrário dos restantes filmes, os produzidos pela plataforma de streaming vão directamente para o seu serviço, em vez de estrearem nos cinemas. Tal acontece, porque a própria Netflix se recusa a que a estreia seja exclusivamente realizada no grande ecrã, defendendo o seu modelo “dia-e-data” (“day-and-date”). Ora isto significa que os seus filmes apenas são aceites por um limitado número de salas, pois grande parte dos cinemas recusa-se a ocupar espaço com um conteúdo que já foi disponibilizado online. Desta forma, qualquer classificação para a corrida teria de ser feita durante esta curta janela. E, de acordo com o icónico realizador Steven Spielberg, esta janela não é suficiente para ser considerado pela Academia

Não acredito que filmes que apenas são lançados em meia dúzia de salas por menos de uma semana se devam qualificar para as nomeações da Academia.

Em entrevista à ITV, Spielberg comentou o crescimento de conteúdos televisivos de qualidade, admitindo que constituem uma ameaça ao cinema, reforçando que não é a primeira vez que tal acontece:

[TV] é um desafio para o cinema da mesma forma que a televisão no início dos anos 50 afastou as pessoas das salas de cinema, porque era mais divertido ficar em casa e ver uma comédia na televisão nessa década, do que sair e ir ver um filme. Portanto, Hollywood está habituado, nós estamos habituados a esta competitividade agressiva com a televisão. A diferença, hoje em dia, é que muitos estúdios preferem lançar apenas filmes com garantia de bilheteira a partir da sua biblioteca de longas-metragem de sucesso, do que apostar em pequenos filmes. E são estes pequenos projectos que os estúdios faziam por rotina, que agora estão a vir da Amazon, Hulu e Netflix.

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O cineasta defende que irá continuar a fazer filmes como o “The Post“, destinados à estreia no grande ecrã e não numa plataforma de streaming. Embora reconheça que tal se possa tornar prática comum, devido à facilidade de financiamento que as empresas SVOD estão a proporcionar. Realizadores que lutavam para angariar fundos para concorrer no Festival Sundance, de forma a terem a oportunidade de chegar às salas de cinema, são um exemplo disso. A questão é que é prometido a estes cineastas a possibilidade do seu filme estar uma semana num restrito número de salas de cinema, durante a qual poderia ser qualificado para os Óscares. No entanto, tal como Spielberg afirma:

[…] a partir do momento em que te comprometes com o formato TV és um telefilme. Se o conteúdo for bom, certamente mereces um Emmy, mas não um Óscar”.

Na realidade, a afirmação de Spielberg para além de controversa, não deixa de ser uma faca de dois gumes. Por um lado, filmes como “Manchester by the Sea”, “Amor de Improviso” e “Mudbound – As Lamas do Mississippi” poderiam não existir, uma vez que não tiveram aceitação por parte dos estúdios. Não eram considerados rentáveis. O único interesse veio das plataformas de streaming, onde eventualmente foram distribuídos. E, de entre estas, é de frisar que, ao contrário da Netflix, a Amazon não restringe a janela de estreia no grande ecrã. Contudo, como a primeira se está a tornar num verdadeiro monopólio, as estreias limitadas continuam a ser o alvo das críticas.

Desta forma, duvidamos que Steven Spielberg tenha qualquer interesse em realizar um filme para a Netflix num futuro próximo. No entanto, as especulações levantam-se em relação ao novo filme de Martin Scorsese, “The Irishman“, que irá ser lançado pela plataforma de streaming.

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Qual será a reacção de Spielberg? Irá o cineasta abster-se de dar o seu voto da Academia ao filme apenas porque estreou na Netflix? Será que a forma de lançamento muda realmente o conteúdo? Estas são as grandes questões com que a industria se está a debater de forma bastante pública.

VÍDEO | ASSISTE À ENTREVISTA COMPLETA DE STEVEN SPIELBERG À ITV NEWS

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