Elle Fanning apresenta uma nova versão de Catarina, a Grande | © HBO Portugal

The Great, primeira temporada em análise

“The Great” tem a dose certa de comédia e nonsense, embora vacile um pouco no lado dramático. Se tivesse estreado um mês mais cedo, teria sido a série ideal para a quarentena.

“The Great” é uma das séries mais divertidas atualmente disponível na HBO Portugal. Depois de “A Favorita“, Tony McNamara traz-nos uma versão que talvez possamos apelidar de “teen” deste com uma pitada de “Maria Antonieta” de Sofia Coppola à mistura. A série, protagonizada por Elle Fanning e Nicholas Hoult, leva-nos até à corte do imperador russo Pedro (Hoult) na altura em que a sua esposa Catarina (Fanning) lhe é entregue. A narrativa foca-se nos setes meses que antecederam o golpe de estado que viria a colocar a imperatriz – mais tarde conhecida como Catarina, a Grande – no trono da Rússia em 1762. Contudo, há que frisar que os acontecimentos são “pontualmente verdadeiros”, tal como é indicado no início de cada episódio.

Uma carruagem transporta uma jovem alemã de 19 anos carregada de sonhos e idealismos. No seu destino, espera-a o oposto. Uma corte selvática, um marido mimado e ninfomaníaco que vive na sombra do pai, desportos incompreensíveis e comportamentos depravados. À chegada é-lhe feito um teste para verificar a sua pureza, o qual lhe confere entrada para o circo russo. Nessa mesma noite irá fazer amor pela primeira vez, um momento que imagina poético e com borboletas, visão que é rapidamente desfeita por Pedro, que lhe tira a virgindade enquanto fala com o melhor amigo. Mesmo assim, a jovem não desiste e tenta, a pouco e pouco, impor alguns dos seus idealismos no palácio à medida que tenta orquestrar o golpe para assumir o trono.

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Catarina tenta compreender as atividades da corte de Pedro | © HBO Portugal

Para o alcançar Catarina vê-se obrigada a navegar por entre copos partidos, arrancar olhos a cabeças (de uns pobres soldados suecos) servidas ao jantar, utilizar limão como método contraceptivo, morder dedos do Arcebispo (Adam Godley), entre muitas outras interessantes atividades, huzzah! Na demanda, junta Orlov (Sacha Dhawan), um burocrata virgem e nervoso, Velementov (Douglas Hodge), um general que tem mais álcool que sangue e a sua criada Marial (Phoebe Fox), uma ex-dama da corte sedenta por restaurar o seu poiso.

O golpe torna-se mais turvo quando Pedro lhe oferece um amante, na tentativa de a fazer feliz, uma vez que o próprio não tem paciência para tal tarefa. Digamos que os gostos do imperador envolvem prazeres mais carnais, tanto no sentido do termo, como no da matança. Aliás, o jovem considera muito estranho que Catarina não gema de prazer à semelhança do que fazem todas as outras damas da corte. Assim, aconselhado pela sua tia, Pedro oferece Leo (Sebastian De Souza), filho de um dos melhores amantes da Rússia, à imperatriz, mas não antes de ele próprio avaliar o material, claro.

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À primeira, a jovem mantém o presente apenas para que este não seja morto, contudo a situação rapidamente se inverte. Talvez o cliché mais pecaminoso de “The Great”, uma vez que dá origem a dramas e romantismos desnecessários, que pouco ou nada se enquadram com o absurdo que a série ambiciona alcançar. E é do mesmo modo que a entrada de Leo acaba por atrasar e até estragar alguns dos planos do golpe. O problema surge quando os jovens partilham os seus sentimentos, originando o esperado ciúme sempre que a imperatriz tem de cumprir a sua tarefa em dar um descendente a Pedro e à Rússia. Ideia que a própria abomina, levando-a a enfiar um limão que, segundo Marial, mata as sementes com o seu ácido.

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Nicholas Hoult surge num papel que parece feito à sua medida e que lhe dá a oportunidade de explorar uma faceta pouco vista | © HBO Portugal

À primeira, a jovem mantém o presente apenas para que este não seja morto, contudo a situação rapidamente se inverte. Talvez o cliché mais pecaminoso de “The Great”, uma vez que dá origem a dramas e romantismos desnecessários, que pouco ou nada se enquadram com o absurdo que a série ambiciona alcançar. E é do mesmo modo que a entrada de Leo acaba por atrasar e até estragar alguns dos planos do golpe. O problema surge quando os jovens partilham os seus sentimentos, originando o esperado ciúme sempre que a imperatriz tem de cumprir a sua tarefa em dar um descendente a Pedro e à Rússia. Ideia que a própria abomina, levando-a a enfiar um limão que, segundo Marial, mata as sementes com o seu ácido.

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Porém, o jogo volta a inverter quando Pedro começa a apaixonar-se por Catarina. Contra o Arcebispo e para tristeza da sua amante, o imperador começa a ceder às vontades da imperatriz que incluem uma máquina de imprimir (do respetivo século), exibições de ciência e de arte. A corte, que até então só conhecera orgias e matanças, descobre novos prazeres até que Pedro sofre uma tentativa de assassinato que o leva a submeter todos – à excepção da amante e do melhor amigo – a uma sessão de tortura, que inclui de tudo um pouco. O caos está instalado, mas não como planeado.

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Catarina tenta levar o seu golpe avante, mesmo que isso implique sacrifícios | © HBO Portugal

As adaptações sobre a história de Catarina, a Grande tem sido várias ao longos dos anos – aliás a própria HBO tem a versão “adulta” da mesma protagonizada por Helen Mirren no seu catálogo. Mas ao contrário dessa, “The Great” não demonstra preocupação em apresentar qualquer tipo de precisão história. Fanning interpreta provavelmente a versão mais inocente da imperatriz, relembrando em partes a sua prestação em “Maléfica”, com a excepção do uso abundante de asneiras. Contudo, a jovem atriz tem vindo a provar o seu valor e fá-lo outra vez ao liderar todo o nonsense da série, assinando também a sua produção executiva. Hoult segue e acompanha-a num papel que parece feito à sua medida e que lhe dá a oportunidade de explorar uma faceta pouco vista. Não nos passaria pela cabeça ver o ator britânico a vomitar palavrões em todas as suas falas ou a descrever tantas vezes o seu pénis…e o dos outros. Para além da dupla, apenas Phoebe Fox, que interpreta Marial, é capaz de roubar o destaque em algumas das cenas.

McNamara tenta ao longo dos 10 episódios manter o seu tom absurdo e cómico, mas que poderá ser visto como um esforço para replicar a fórmula de “A Favorita”, só que sem o toque de Yorgos Lanthimos. O humor negro e o desconforto alcançados pelo cineasta grego são substituídos pelos ocasionais momentos de drama que referimos. É um argumento mais leve, destinado ao público em geral – e talvez mais adolescente. Contudo, não deixa de ser uma das séries mais divertidas do ano, pelo menos até à data. Teria sido muito bem-vinda durante o mês de abril.

The Great, primeira temporada em análise
the great poster

Description: Do escritor nomeado ao Óscar®, Tony McNamara (“A Favorita”) e com Nicholas Hoult também no elenco, a nova série é um drama com toques de comédia e sátira sobre a ascensão de Catarina, a Grande, uma estrangeira que se converte na governante feminina com maior longevidade da história da Rússia.

  • Inês Serra - 85
85

CONCLUSÃO

“The Great” é uma série divertida, onde o nonsense é a palavra-chave. A uma primeira vista é fácil ficar com a ideia de que quer alcançar o pódio conquistado por Yorgos Lanthimos e a sua “Favorita”, mas queremos acreditar que, desta vez, Tony McNamara fez mira para um argumento mais leve, destinado ao grande público.

O MELHOR: Elle Fanning e Nicholas Hoult e a sua inesperada química. Phoebe Fox, que demonstrou ser capaz de roubar algumas cenas a Fanning.

O PIOR: “The Great” corre o risco de ser percepcionada como uma tentativa de cópia de “A Favorita”. Dado ao absurdo da série, algumas cenas românticas tornam-se demasiado sérias.

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