The Handmaid's Tale | © Hulu

The Handmaid’s Tale, terceira temporada em análise

“The Handmaid’s Tale” estreou com pujança e consagrou-se numa das melhores séries dos últimos tempos. A sua terceira temporada veio fortalecer este lugar no pódio.

É sempre difícil escrever sobre uma série que não é nova. Especialmente quando a qualidade se mantém ou até aumenta, como é o caso de “The Handmaid’s Tale“. Quase dá vontade de dizer “Está tão boa como as outras temporadas, e chega a ser assustadora pelo quão pertinente é ou poderá vir a ser. Fim.” 

Há muita gente que comenta comigo que a série tem um ritmo muito lento e que parece que não avança. Apesar de conseguir entender essa opinião, acho que esse é mesmo o ritmo próprio do enredo, da própria narrativa e até do próprio livro. E, afinal de contas, é realista. Se Gilead fosse real, todos aqueles acontecimentos demorariam o seu  tempo para se suceder. E a verdade é que, na indústria do entretenimento, por vezes acostumamo-nos demasiado à ação e querermos mais e mais, queremos tudo rápido como as nossas vidas modernas líquidas.

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“The Handmaid’s Tale” não é só para criar tensão. Não é para nos agarrarmos ao sofá enquanto fazemos figas para que June não seja apanha nas suas conspirações. Não estamos em “Prison Break” ou “La Casa de Papel” (não pejorativamente falando). Estamos num país transformado em prisão que, embora extremista, espelha muito da atualidade, especialmente com a preocupante crescente força da extrema direita. Posto isto, sublinho que esta temporada foi definitivamente a mais emocionante neste aspeto e, em comparação com a segunda, já acontecem “coisas” de ação. Dessas de nós agarrarmos ao sofá, sim. 

Pequenas divagações à parte, a terceira temporada traz então vários elementos bem trabalhados, tal como as outras temporadas anteriores: a fotografia, com planos lindíssimos, com os típicos close-up de Elisabeth Moss, intercalados com outros que têm uma composição que foge por completo às regras, parecido com o que vemos em Mr. Robot, que causam um desconforto inconsciente no espectador e que ajudam certamente a criar o ambiente frio que a série tem (que também é enaltecido pela própria iluminação do set). 

The Handmaids Tale
The Handmaid’s Tale | © Hulu

Outro ótimo e óbvio ponto a referir são os atores, que são todos excelentes a desempenhar os papéis atribuídos, estando ao nível da protagonista, tal como se sucedeu nas outras duas temporadas. A banda sonora continua um elemento de destaque e de qualidade, composta igualmente por Adam Taylor, à semelhança das outras temporadas. A música, nesta temporada, tem um papel até então desconhecido: a nostalgia de June e a sua ligação à “vida real”. Através de algumas músicas que June vai cantarolando, temos a percepção de um mundo tão distante e ao mesmo tempo tão próximo, que de dissipa entre as letras das canções. Esta relação está tão bem feita e bonita, que qualquer espetador se identifica com a sensação de pensar ou ouvir determinada música e viajar logo para o passado.

Esta temporada trouxe uma nova abordagem interessante, para além de ser todo o processo do que se sucede no último episódio: uma viagem ao passado de muitas das personagens através de longos flashbacks, como no caso da Aunt Lydia, que na verdade era uma professora primária, muito ingénua e sensível. Não é possível dizer se os flashback estão lá para nos mostrar que, apesar da faceta de Gilead, todos são humanos e com vidas muito diferentes que foram deixadas para trás (narrativa que estávamos acostumados a ver apenas com June e um pouco com Serena), se para nos dizer que talvez uma das personagens mais inquebráveis daquele mundo perverso venha mesmo a mudar de lado… 

The Handmaids Tale
The Handmaid’s Tale | © Hulu

Houve, contudo, algumas mudanças no enredo que pareceram repentinas, como o caso do amor entre Nick e June se ter dissipado por completo, acabando ela por descobrir que, afinal, ele teve um papel mais crucial na implementação de Gilead do que aparentava. No entanto, este pequeno plot twist foi crucial para desviar o foco da personagem principal, explorando menos as relações amorosas e a vida pessoal de June em detrimento de explorar esta personagem como a verdadeira voz de todas aquelas mulheres torturadas. Essa voz ganhou uma notável força nesta temporada, passando assim esta personagem a ser gradualmente mais coletiva, representando cada vez mais personagens através de uma só. Outro caso foi o destino dos Waterford, que tentam ultrapassar as suas dificuldades e vêm os seus objetivos serem completamente alterados. Mais uma vez, vemos uma Serena muito instável, que não sabe o que quer e que acaba por representar um pouco a consciência de todos os que estão do “lado mau”.

Não há realmente volta a dar: “Handmaid’s Tale é uma das melhores séries do século. É uma série que quebra a quarta parede, exigindo atenção do espectador, que tem o seu ritmo único e que nos faz estar constantemente com um aperto no coração.

Embora não saibamos quantas temporadas ainda poderão vir, sabemos que a terceira terminou com muitas perguntas no ar, deixando completamente em aberto do destino de June e de Gilead. Resta-nos esperar para verificar se a série continua a manter a sua qualidade ou se acaba por se tornar uma desilusão como tantas outras, embora pareça pouco provável neste caso.

TRAILER | “THE HANDMAID’S TALE”

The Handmaid's Tale, terceira temporada em análise
  • Maria João Sá - 80
  • Filipa Machado - 85
  • Catarina Novais - 85
  • Miguel Pontares - 78
  • Inês Serra - 80
  • Maggie Silva - 83
82

CONCLUSÃO

O MELHOR: Os atores, a fotografia, banda sonora, a pertinência social e política e o desenrolar da narrativa, que é feito de um modo inteligente e real, capaz de criar muita tensão nos espetadores.

O PIOR: A terceira temporada terminou com um fim tão em aberto que a qualidade da série poderá depender quase apenas das escolhas certas para o desenrolar da história. Sabemos que o que aí vem é muito diferente daquilo a que estamos acostumados e isso coloca mais pressão sob a próxima temporada.

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